Camille 21/07/2013Amor, em todas as suas formas, até a última letra. - Beletristas.comO mais recente livro de crônicas de
Fabrício Carpinejar não desaponta. Sob o tema "amor", ele fala de despedidas e reencontros, sobre amor romântico e familiar, sobre perdoo e superação, passando por cada fase após o término de um relacionamento.
Dividido em partes, ele se inicia com o conto
Venha, por favor em "Esperança". Logo em seguida passa para "O Fim", com cerca de 16 contos, "Reinício", por sua vez, tem 18 contos.
Só então o foco vai para o próprio autor, com "Sou Assim" com aproximadamente 33 contos cuja identificação é imediata em vários deles. "Somos assim", com 19 contos, "Meus Outros", com 13 contos e encerra com "O Segredo" - uma das mais belas declarações de amor de alguém que escreveu
Espero Alguém e encontrou.
Alguns contos me chamaram atenção mais que outros, como é esperado e natural. "Excesso de dom" foi o primeiro deles, o segundo do livro e o primeiro da segunda parte, que fala - sob uma ótica melancólica - sobre o início e o fim de um relacionamento específico.
Terei meus motivos e ela, seus motivos, e as explicações não darão conta do mistério. Somos muito menores do que aquilo que vivemos juntos.
— Excesso de dom, página 20
"Sacoleitos do Divórcio" foi um dos que me conquistou pela ironia, pelas reações e genialidade em todas as três páginas. Aqui, Mariana e Renato são divorciados com uma filha, Marisa, e, como todo fim de relacionamento, um quer se mostrar melhor que o outro na superação. A forma que eles encontram para isso é simples: sacolas de lojas.
"Esquecido, mas feliz" foi o grande conto de identificação para mim. Citando todas as inúmeras e infinitas coisas que esquecemos: datas, objetos, frases, não importa. Mas ressaltando, ao final, a importância daquela pessoa que nos faz lembrar, já que, mais que apenas ser um lembrete, é quem mantém nossa memória para o que realmente não pode ser esquecido no melhor estado.
Não morro de inveja de quem lembra de tudo, e esqueceu de amar. Tenho amor, não tenho memória. Posso esquecer tudo, menos de você que me acompanha desde sempre. Você me lembra do que vivo esquecendo.
— Esquecido, mas feliz, página 51
"Falo te amo fácil, fácil" aparece para quebrar frases de quem diz que o amor não pode ser aberto ao público. Fala sobre o medo de dizer "eu te amo" para quem se escolhe amar, e esclarece que as três palavrinhas só são uma forma de aumentar o que se sente - não necessariamente tornando mais do que de fato é, mas com certeza ressaltando que, quem não tem medo de dizer, permite-se amar mais. E que a maior declaração não é essa:
Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o "eu te amo". É quando alguém confessa: "Não consigo mais viver sem você." Mas isso não é amor, é coragem.
— Falo te amo fácil, fácil, página 79
"O diário rosa e o livrinho negro" recria uma história aparentemente real dele mesmo com sua irmã, Carla, que escrevia em um diário. Este acabou parando nas mãos dos pais, por arte dos outros irmãos, o que rendeu vergonha e castigo para ela. Para compensar, Fabrício escreve ele mesmo seu diário, o resultado, entretanto, não é o mesmo. Ele admite, em duas frases, duas importâncias do conto:
Coloquei minhas mentiras no diário para viver as verdades em segredo. Literatura é confundir. Ou você acha que isso que escrevi também é real?
— O diário rosa e o livrinho negro, página 166
Com frases não propositalmente (acho) rimadas, os contos de Espero Alguém chegam aos nossos segredos mesmo quando contam histórias. Nos fazem sorrir, rir e identificar o sofrimento. Nos levam a enfrentar obstáculos que preferimos deixar escondidos, como o próprio medo de amar. Por isso mesmo é um livro de crônicas, pura coragem de divulgar ao mundo o mais profundo dos sentimentos, indispensável na prateleira.
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