Aline 23/09/2023
Melhor que Wolf Hall ?
Nesta continuação de Wolf Hall (continuação?! mesmo?!), Hilary Mantel limita o período da história que pretende abarcar; diferentemente do que a autora fez em Wolf Hall, cujo enfoque é a vida de Cromwell, desde sua infância pobre e maltratada até sua alçada a principal conselheiro do Rei Henrique VIII. Aqui não, em Tragam os Corpos (título bastante chamativo e indicativo, não?!), o objetivo foi mostrar a Corte inglesa - com enfoque em Cromwell, claro! - durante as mortes de Catarina de Aragão e, sobretudo, Ana Bolena. Talvez por ter um enfoque limitado, a obra seja muito mais fluida e gostosa de se ler do que Wolf Hall (e por ser beeem menor!)
Aqui, Cromwell já é um dos principais conselheiros do Rei, que está insatisfeito com Ana Bolena. Afinal, depois de tudo que ele fez para ficar com ela (como criar uma nova igreja na Inglaterra, romper com o Vaticano, criar subterfúgios para abandonar sua esposa, se casar com ela...), Ana não poderia nem lhe dar um filho, um herdeiro?! Grande parte do livro gira em torno da insatisfação do rei e como Cromwell lida com ele e com a nobreza (já que ele não é nobre, os outros próximos ao rei se ressentem muito de sua influência).
É realmente um livro tranquilo de se ler; aqui não temos tantos diálogos profundos como Wolf Hall, a trama não foca na religião ou na mulher, mas apenas em como Cromwell lida com tudo aquilo. E por isso mesmo eu demorei a lê-lo (acho que estava cansada depois de Wolf Hall). A pausa foi muito bem vinda, apreciei muito mais.
"Livros de contabilidade formam uma narrativa tão envolvente quanto qualquer história de monstros marinhos ou canibais. Catarina sempre disse que, entre a morte de Artur e seu casamento com o jovem príncipe Henrique, tinha sido miseravelmente negligenciada, vivido em abjeta pobreza: comendo peixe do dia anterior e assim por diante. Culparam o velho rei por isso, mas, ao examinarmos os livros, percebemos que ele foi até generoso. Os criados e familiares de Catarina a enganavam. Sua prataria e joias iam parar no mercado; nisso ela devia ter sido cúmplice, não? Ela era pródiga, descobriu ele, e generosa; régia, em outras palavras, sem a menor noção de como viver dentro de suas possibilidades."
Portanto, recomendo a leitura deste e de todos que tratam deste período da história, sobretudo (meus uma vez!), a série Tudor da Phillippa Gregory.