Os transparentes

Os transparentes Ondjaki




Resenhas - Os Transparentes


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DIRCE 09/12/2022

Ah! Angola, espelho, espelho nosso.
E pensar que optei pela leitura de mais uma obra de Ondakji pretendendo espairecer, depois do Maravilhoso, porém dilacerante " Uma Casa na Escuridão". Penso que saí da frigideira para acabar no fogo. Fogo. É com ele , com o fogo, com suas enormes línguas que saiam do chão a perseguir o céu de Luanda( palavras usadas pelo autor para criar a imagem de uma Luanda destruída pela ânsia capitalista) que se abre a narrativa .
Ondakji ainda que mantenha , nessa obra , o seu humor presente nas demais ( pelo menos nas que li) , faz uma denúncia explicita da tirania, da corrupção, da voracidade de um capitalismo criminoso, e das ambições desmedidas dos lideres políticos e econômico de Angola.
Luanda e o enredo de “Os transparentes" se fazem presentes no período pós-independência , neles , transpira a corrupção: até funcionários subalternos lançam mão do poder para extorquir pobres coitados ( até um pai desesperado foi extorquido sem dó nem piedade).
Como todo país corrupto a fome impera – daí o nome Os transparentes. Odonato representa esses serem que deixam de comer e se tornam transparentem. Vejo aqui uma metáfora aos invisíveis aos olhos do governo.
Os escritores lusófonos me encantam, eles têm um modo de lapidar as palavras e, Ondakji não foge à regra, e, mesmo que ele tenha se apresentado mais sóbrio, sem crianças como protagonistas nessa obra, existem passagens belíssimas. A insistência do Cego em conhecer a cor do fogo, o que leva o Catador de Conchas responder que estava a esperar uma voz de criança dentro dele é uma delas. E a resposta mui linda : - é um vermelho devagarinho, mais velho ...é isso: um vermelho devagarinho... Ondajaki retirou dos versos "como veias finas na terra da Paula Tavares ( não a conheço, mas quero conhecer).
Há tanto para se comentar sobre o livro que daria para escrever um livro, portanto, vou encerrar, voltando ao questionamento que deixei no meu histórico de leitura: Ondajaki estava se referindo a Luanda (Angola) ou nosso patropi? Sim, porque durante a leitura ao “presenciar” o fogo que devastava Luanda, pensei em nossa Amazônia devastada, na célebre frase : deixar passar a boiada, nos 33,1 milhões de brasileiros famintos e como meus pensamentos “criam asas” pensei nos versos da canção Meu guri do Grande Xico ( como Clarice Lispector grafava o nome do nosso Chico Buarque):
(...)
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome(...)
Também pensei em uma frase do Saramago : “ Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia”
E tem um outro fato que também me levou a comparar Luanda com fatos que ocorrem no nosso Brasil: os olhares do mundo todo voltavam -se para uma eclipse que se daria em Luanda, mas a autoridade máxima da cidade optou pelo cancelamento da eclipse ( Oi??). Não. No nosso Brasil não foi cancelada eclipse alguma, mas estão acontecendo fatos tão surreais que me levaram a pensar o quanto estava enganada no alto das minhas 7 décadas de vida : quando penso que já vi de tudo, eis que de repente...Pois é, então. Ah! Angola, espelho, espelho nosso.
AMEI! AMEI! AMEI!



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