Gleiciane.Marques 14/12/2016
Alice no país dos intertexos
A faceta do livro Alice viaja nas Histórias, de Gianni Rodari e Anna Laura Cantone, consiste na beleza estética e intertextualidade. Deste a capa até a face posterior da obra é possível notar textos implícitos e explícitos, escritos e desenhados com delicadeza, que costuram essa narrativa contemporânea, tornando-a uma preciosidade da literatura infantojuvenil.
A princípio, percebe-se que a escrita com letra de mão estabelece uma relação de afeto com o leitor, humanizando-o. Em consonância, as imagens e suas cores constituem-se como verdadeiros estimulos à leitura, visto que são semelhantes aos desenhos de crianças, o que torna a obra mais pessoal e menos maquinizada.
Por conseguinte, observa-se alguns textos aparentemente ocultos. O próprio título da produção referencia Alice no País das Maravilhas, conto de fadas universal. Tal alusão pode também ser encontrada no decorrer da história como no trecho “Na terceira página, estava tão interessada que escorregou e caiu dentro do livro de cabeça e tudo”. Este fragmento menciona a passagem para o outro mundo de ambas as Alices, a moderna e a clássica.
Ademais, o nome que denomina a obra sugere outros textos por meio do vocábulo pluralizado Histórias. Junto a isso, percebe-se o jogo entre o texto verbal e as imagens. Ainda na capa, há a brincadeira entre a palavra viaja e o livro que Alice carrega, que se confunde com uma mala. Outrossim, a cestinha que a personagem leva na mão insinua o conto Chapeuzinho Vermelho e as maçãs, presentes também no verso do livro, tem uma parcela de conectividade com a história de Branca de Neve.
Igualmente subentendido, visualiza-se uma imagem que cita o conto Rapunzel. Esta é representada por Alice, uma princesa descontruída, ou seja, sem as longas tranças loiras e presa na torre pela chuva e não por uma bruxa má. Na mesma imagem tem-se a presença de corvos, porém, com novo sentido. Este pássaro é típico da Inglaterra e participa de Alice no país das Maravilhas. Contudo, em Alice viaja nas Histórias, os corvos perdem a negritude e ganham vivacidade ao serem coloridos de vermelho.
Por outro lado, há a explicitação de textos clássicos como A Bela Adormecida, Gato de Botas e Chapeuzinho Vermelho. Na obra de Rodari e Cantone ocorre a citação direta destes textos, como nos seguintes extratos: “(...) Bela Adormecida no bosque. Era Aurora (...)”, “Era o gato de botas, é claro!” e “(...) esperava ansioso para devorar Chapeuzinho Vermelho”.
Assim, seja através de intertextos diretos ou indiretos a produção Alice viaja nas Histórias se legitima como literatura infantojuvenil, pois além de seu valor estético, possui a qualidade e conteúdo que leva o leitor à reflexão e resgata suas memórias de leitura.