Francine 24/03/2014Enredo ousado e diferenteÁs de Espadas é um romance erótico juvenil pelo qual me interessei desde a primeira vez que vi sua sinopse e capa. Mistério e um possível romance psicológico eram minha expectativa, mas ao ler suas primeiras páginas senti-me em choque (rs)! O autor apresentou um enredo completamente diferente do que esperava.
Narrado em terceira pessoa, neste livro conhecemos Daniel Russell (Dan), um adolescente europeu de 15 anos que se muda para Velvet Hill. Desde o seu primeiro dia na cidade, Dan desperta curiosidade com o mistério das suas atitudes. Ele parece interessado num grupo específico de nove amigos, que têm personalidades muito diferentes entre si: a insatisfeita Nicolle; o romântico Lucas; a inconsequente Janet; o assertivo Paul; a animada Melissa; o inseguro Jake; o atento Phillip; a determinada Amy; e o popular Craig.
Em um jogo pessoal que envolve autoconfiança, Dan elege uma carta para cada um destes adolescentes. Seu objetivo é desvirar cada carta quando puder dar, pelo menos, um beijo na pessoa que a representa.
Esse enfoque aguçou minha curiosidade e, infelizmente, penso que o autor não usou todo o potencial da história. Esperava melhor desenvolvimento em cada iniciativa de Dan, mas provavelmente pela idade dos personagens houve maior destaque às suas curiosidades sexuais.
Ás de Espadas recebe créditos pela ousadia dos temas que aborda: homossexualidade, bissexualidade e uso de drogas na adolescência; mas convém dizer que as cenas descritas tornam o livro impróprio para menores. Ao narrar o sexo, por exemplo, o autor não faz referência ao uso de preservativos ou contraceptivos. Ainda, no uso de drogas, os efeitos provocados pela maconha e pela cocaína não são verossímeis.
Algo que me fez gostar da leitura e prosseguir sem perder o ritmo foi que o jogo de Dan é descoberto pelos amigos antes da metade do livro, o que tornou ainda mais interessante a reação das demais cartas a serem desviradas.
"— Você tem inveja porque eu sou o valete de espadas, Lucas — alfinetou Paul, cheio de si. Dan e Lucas riram.
— Por que eu teria inveja disso? — desdenhou Lucas. — Eu sou o rei de espadas, segundo o Dan!
— Morram todos, sou o ás! — gabou-se Dan." (p. 156)
Como reagiria ao saber que um amigo se aproximou de você com a intenção de beijá-lo, apenas porque o elegeu como "uma de suas cartas"? Muitos sequer o perdoariam, mas o autor consegue tornar Dan alguém mais do que um mero jogador. Seria impossível ignorá-lo depois de tê-lo em sua vida. Além disso, é provável que depois de o conhecer você também desejasse "ter sua carta desvirada" (rs). Essa qualidade me fez avaliar Ás de Espadas como um bom livro, de rápida leitura e recomendável aos que procuram um enredo diferente.
A capa é linda (já mencionei — rs), mas o livro apresenta erros de diagramação e revisão. Não irei citá-los porque não afetam a leitura e a Editora Selo Jovem anunciou (aqui) que o livro receberá nova revisão para as próximas edições.
*Agradeço à parceira Editora Selo Jovem pela oportunidade de ler o livro.*
Quotes favoritos:
— Gostaria de saber qual é a dele — disse ela, fungando. Jake, de cabeça baixa, também não sabia o que Dan queria com todos eles.
— Não sei. Acho que ele gosta de pegar geral mesmo — concluiu ele.
— É o que parece mais óbvio — opinou Janet. — Mas ele não me parece uma pessoa que opta pelo óbvio. (p. 55)
— Às vezes penso em parar com esse jogo besta... Mas não antes de desvirar sua carta.
Ele sorria com o canto da boca, como sempre. Nicole olhou-o e ele pôde desvendar todo o mistério dela naquele olhar. (p. 80-81)
— Você realmente tem um beijo o qual vale a pena deixar o orgulho de lado e a carta ser desvirada apenas pra provar. Mas até onde você iria pra conseguir o que quer, Dan?
Dan encarou a garota, pensativo.
— Até o limite — disse ele, apertando os olhos.
— Uma pena — respondeu a garota. — Para mim não existe limite. (p. 81)
— Dan é muito inseguro pra você, Nicole — falou Janet, séria. — O tempo que ele precisa pra se autoafirmar, não é um tempo que você tem a perder. (p. 82)
— Essa é a questão. Você faz coisas absurdas apenas pra desvirar essas cartas. Cada pessoa é diferente, você tem que ter estratégia se quiser beijá-las.
— Desvirar todas as cartas significa muito pra mim. (p. 93)
— Perguntar o que quer saber sem ficar enrolando é uma qualidade, cada vez mais rara ultimamente. Não fique envergonhada! (...)
— (...) Minha curiosidade me leva a ver coisas que não quero ver... (p. 108)
— (...) Se eu tivesse a chance de escolher, nesse momento exato, eu não tenho dúvidas de que eu escolheria você — falou o garoto, olhando-a nos olhos.
— Por isso eu não quero te dar essa escolha. (p. 194)
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