Leila de Carvalho e Gonçalves 03/04/2020
B De Quê?
Romênia, 1950.
Numa noite fria e chuvosa, Blasko de Lugos, Barão da Valáquia, consegue escapar de uma cela de segurança máxima no Asilo Segrob graças à intervenção da Odessa. Encarcerado desde o final da Segunda Guerra por sua estreita ligação com o Nazismo, o nobre é um cientista genial e sem escrúpulos, conhecido por usar cobaias humanas em suas pesquisas genéticas, portanto não é absurdo especular que algum plano diabólico esteja em andamento. O mais preocupante para nós, brasileiros, é que Blasko tenha sido enviado para o nosso país, já que a América do Sul tornou-se o refúgio ideal para criminosos de guerra graças ao apoio velado de alguns governantes, como Eurico Gaspar Dutra. A propósito, não é novidade que, quando ministro de Getúlio Vargas, ele sempre pressionou o ex-presidente a formar uma aliança com o Terceiro Reich.
Essa é a sinopse de B, de Ricardo Labuto Gondim. Flertando com o terror e a ficção científica, trata-se de um thriller de mistério ? ou um romance noir tupiniquim ? que faz uma justa homenagem às pulp fictions e aos filmes B da Era de Ouro de Hollywood. Por sinal, a maioria desses filmes era em branco e preto e o texto apropriadamente não faz menção a qualquer cor.
Quanto ao título, ele foi escolhido a dedo, pois a letra B também reporta a Blaskos e ao Brasil, contribuindo para a ideia que a arte imita a vida, pois pelo menos três oficiais da SS ? Gustav Wagner, Franz Stangl e Joseph Mengele, ?O Anjo da Morte? ? fugiram para o nosso país após a derrota de Hitler.
Sinteticamente, B aborda fatos graves de forma leve por meio de uma prosa bem azeitada, coalhada de advérbios, estilo comum às pulp fictions. Aliás, também estão presentes uma série de clichês que contemplam também os fomes B, estratagema que garante um tom satírico e saudoso que delicia os amantes do gênero. Em paralelo, o livro também possui uma trama bem amarrada, recheada de suspense, que se encaminha para um desfecho apoteótico e factível num país corrupto desde priscas eras.
Outro ponto alto é seu protagonista, o detetive Pedro Ribeiro Pinto ou Dick como prefere ser chamado. Cinico, canastrão, mulherengo e irresistível, ele conta com a perspicácia e uma boa dose de sorte para escapar de situações difíceis como naquela vez que...
Se ficou curioso, não perca tempo. Li de fio a pavio numa sentada e espero que o Ricardo reserve outras histórias para o Dick.