Jaqueline 19/08/2013Publicado pela editora Record no mês de Julho, “A Bibliotecária” é um romance erótico que narra o relacionamento de Regina Finch, uma bibliotecária recém formada que chega a Nova York para começar a trabalhar na Biblioteca Pública da cidade, e Sebastian Barnes, um riquíssimo fotógrafo que também dá expediente como conselheiro na Biblioteca de NY.
Em um pequeno resumo, “A Bilbiotecária” pode ser descrito como apenas mais uma versão de “50 Tons de Cinza”, mas muito mais leve no que tange a violência das práticas de BDSM. Tal qual o sucesso de E. L. James, nossa protagonista é uma lindíssima jovem virgem e inocente que acaba se envolvendo com um homem experiente e podre de rico que tem como hobby controlar a vida alheia.
A escrita de Logan Belle (pseudônimo de Jamie Brenner) é boa, sendo leve elegante na medida certa. O meu maior problema com “A Bibliotecária” foi, na verdade, de ordem moral. Fiquei me questionando muito conforme lia esse livro, sem saber ao certo se me revoltava e desistia da leitura ou se seguia em frente e esperava por alguma mudança no rumo da história. Decidi continuar e não me arrependi, ainda que o final siga o já estabelecido clichê desse gênero literário.
Quem me conhece sabe o quanto detesto certos aspectos dos romances eróticos que estão fazendo sucesso ultimamente. Por mais pesadas que certas práticas sejam, encaro tudo com tranquilidade desde que haja consentimento. Porém, simplesmente NÃO SUPORTO histórias onde a protagonista é coagida a fazer o que não quer em nome de uma suposta “paixão avassaladora”, assim como tramas onde a vontade da personagem é desrespeitada ou ignorada por um macho aleatório que decide controlar seus passos apenas porque pode.
Durante minha leitura, que durou pouco mais de um dia, pensei “por que diabos uma mulher escolhe se colocar em uma posição subalterna em relação a um homem que não tem nada melhor para fazer do que lhe obrigar a usar um plugue anal durante uma reunião de trabalho?”. Mantive uma relação de ódio com a protagonista, chamando-a de burra e sem noção, mas depois entendi que ela havia ESCOLHIDO estar nessa posição, por mais que isso me desagradasse. Isso não amenizou, contudo, o meu incômodo com a submissão forçada de Regina fora da cama: são tantas as concessões feitas na intenção de agradar Sebastian que ela acaba perdendo uma de suas maiores realizações pessoais. Em certo momento, Regina termina seu relacionamento com Sebastian e ele vai até a sua casa, forçando a entrada, para conversar com ela e pedir desculpas. Nesse momento, eu desejei MUITO que:
1 – eu pudesse ler um romance baseado em BDSM onde uma mulher fosse o lado dominante da relação e/ou se envolvesse com um rapaz virgem – e que ela não fosse chamada de maníaca/psicótica/stalker, é claro.
2 – Regina explodisse de raiva como uma pessoa na vida real e mandasse Sebastian ir à merda, falando que ele era pirado, babaca e que arranjaria uma ordem de restrição contra ele.
Incomodou-me também a banalização da coisa toda expressa na fala de Carly, melhor amiga e roommate de Alexia:
“Ah, não, não é nada normal – discordou Carly. – Mas, se você está curtindo, quem se importa? Especialmente se você levar um guarda-roupa Prada no acordo. Que ele bata à vontade.” (pág. 136).
Qualquer pessoa ajuizada ficaria bastante preocupada se uma amiga contasse que anda apanhando do ficante, certo? Pois Carly não fica. Estudante da Parsons, ela é um típico caso de “pobre menina rica”. Bastante egoísta e infantilizada, ela aparece na história apenas como um contraponto a Regina, mantendo vários relacionamentos ao mesmo tempo e transando feito louca no quarto ao lado do refúgio da amiga virgem.
As frequentes menções a Bettie Page, a rainha das pin-ups, foram bem-vindas, ainda que mal aproveitadas pela autora. Se Regina já era tão fisicamente semelhante à Bettie, como um de seus colegas de trabalho afirma, a ideia de Sebastian fotografá-la tal como a musa vintage não é nem um pouco criativa ou original – bola fora da autora. Aliás, achei bem estranho que Regina desconhecesse Bettie Page, que tem uma centena de livros de fotografia baseados em seu trabalho como modelo, mas enfim…
Ainda com relação ao texto, tenho que ressaltar certo exagero na quantidade de marcas de luxo citadas, assim como certa omissão na descrição de alguns personagens – até agora não sei a idade da protagonista, por exemplo. Porém, a maioria dos personagens é satisfatoriamente apresentada e bem desenvolvida, como Sloan, a ambiciosa chefe de Regina, e a adorável Margaret, uma colega de trabalho prestes a se aposentar; verdadeiro poço de meiguice e sensatez.
O trabalho da editora Record com o texto é, mais uma vez, muito bom: encontrei apenas um erro de digitação em todo o livro. A capa, que realmente chamou minha atenção para o livro, é linda e bastante fiel à descrição física da protagonista, o que realmente conquistou meu coração. Em um resumo da ópera, se você gostou de “50 Tons…”, provavelmente irá gostar de “A Bibliotecária”. Se achou “50 Tons…” muito pesado, também irá gostar. Se você costuma ficar com o pé atrás com esse tipo de livro, porém, passe longe.
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http://up-brasil.com/resenha-de-livro-a-bibliotecaria-logan-belle/