Luan 04/10/2017
Mais fraco dos três, a Trilogia da Névoa ainda é uma boa pedida para entrar no mundo complexo e genial de Zafón
Último livro da Trilogia da Névoa, a primeira escrita por Carlos Ruiz Zafón, Luzes de Setembro é um livro que surgiu da necessidade de o autor em completar a história do livro O príncipe da névoa, cobrindo buracos ou incoerência outrora presentes nas obras. As características de Zafón, tão famosas especialmente na série O cemitério dos livros esquecidos, se mostram cada vez mais presentes. Mas a pergunta que fica para o leitor, e que eu mesmo me fiz, é: o terceiro livro necessitava mesmo ser uma "correção" do primeiro livro da trilogia ou não era necessário?
Luzes de setembro, que se passa em 1937, conta a história de uma família que precisa tomar decisões sobre o futuro depois o patriarca morre. Simone Sauvelle e seus dois filhos, Irene e Dorian, se veem envoltos em dívidas e problemas, até que uma nova chance de emprego aparece para a matriarca. Ela aceita o desafio e se muda com os filhos de Paris para Normandia, onde certamente vai viver um dos anos mais inesquecíveis - pro lado bom e ruim – de sua vida, assim como as crianças.
O livro traz os elementos mais marcantes de Zafón, aqueles que se tornaram mundialmente conhecidos principalmente a partir de A sombra do vento: tramas que envolvem problemas familiares misturado a acontecimentos misteriosos e sobrenaturais, além de uma escrita quase poética e pontual. No entanto, ele apresentou alguns problemas na narrativa e no desenvolvimento que o fizeram desequilibrar a balança da qualidade em sua primeira trilogia escrita, no meu ponto de vista. O que também estragou minha experiência é que ao ler uma das sinopses disponíveis sobre a história li um spoiler - sobre uma morte na metade do livro. Isso mesmo, uma parte importante da obra está em uma das sinopses e isso me frustrou muito.
O livro, de poucas páginas - 232 – pode ser dividido em duas partes. A construção e a ação. Ou simplesmente a parte ruim e a boa. Até próximo da página 100, o autor gasta o tempo contando um pouco a história da família Sauvelle e narra a chegada deles até a Normandia, onde o mistério vai se desencadear. No entanto, apesar de a trama em si ser interessante, Zafón foca principalmente num romance jovem entre Irene e Ismael, personagem importante para o desenvolvimento da história. Juntando essas duas situações - a demora para chegar na apresentação do mistério e o foco no romance e em acontecimentos banais – fizeram com que o início não me conectasse à história, como ocorreu nos outros livros, nem a maior parte dos personagens.
Outra situação que incomodou um pouco foi a rapidez com que a porção do mistério do livro se desenvolveu, aconteceu e terminou. Na realidade, esta parte do livro aconteceu em praticamente 130 páginas. Começa e não termina mais. O ritmo fica ótimo - a se falar mais nas próximas linhas – mas tudo aconteceu em um dia apenas. Deu uma sensação de construção que deixou a desejar. Houve alguns furos no desenvolvimento da história, também, mas que não chegaram a comprometer. O que incomodou de fato, também, foi como parte da história era previsível. Não sei se com o intuito do autor, ou não, mas alguns acontecimentos não foram surpresa.
Mas, é óbvio, o livro não é ruim. Estamos falando de Zafón, que mesmo errando, acerta. A qualidade da escrita e dos diálogos são enormes. Houve, perceptivelmente, uma melhora do primeiro para o terceiro livro na qualidade da escrita, nas descrições e, especialmente, nas falas dos personagens. A narrativa do mistério e seu ápice são de grande agilidade que chega a faltar o fôlego ao leitor. Os detalhes na construção da história também chamam a atenção e continuam sendo os pontos altos do autor, que tenta sempre não deixar pontas soltas.
Respondendo à pergunta do primeiro parágrafo, sinceramente não vi tão relevante a necessidade de o autor criar a história para resolver problemas "técnico" que ele próprio observou em O príncipe da névoa, que, além de parecidos, óbvio, achei mais interessante do que esse. São várias as semelhanças, mas não é isso que afeta. Acredito que tenha faltado uma personalidade maior à história e também uma profundidade. Por fim, de qualquer forma, indico o livro para qualquer leitor, e começar Zafón pela trilogia da Névoa é uma boa pedida, pois, além de um ritmo ótimo - e isso os três livros têm, inclusive Luzes de setembro - é uma história mais simples e jovem para adentrar no complexo e genial mundo do autor. Infelizmente, para este livro, uma nota que nunca pensei dar, mas é preciso comparar os outros dois livros dele, e esse não se igualou, para mim.