spoiler visualizarFernanda 30/12/2013
Completamente diferente do que eu esperava! 9 e 1/2 Semanas de Amor narra as semanas de Elizabeth e seu amante e todas as experiências sexuais que viveram, com uma conclusão que é possível chocar qualquer um! A sinopse conta praticamente o essencial sobre o que vocês precisam saber da história, então vou apontar somente alguns detalhes interessantes e deixar minhas impressões sobre a leitura pra vocês.
Narrado em primeira pessoa, o livro tem uma narrativa diferente dos demais livros eróticos. As sensações e emoções são contadas mais casualmente e as memórias fogem dos detalhes, das preliminares e do suposto romance (se é que existiu algum ali) que o casal viveu. A história é inteiramente focada no que aconteceu entre os dois, na cama, por cerca de dois meses até a situação chegar aos seus extremos.
“Na primeira vez em que estávamos juntos, ele segurou minhas mãos acima da minha cabeça. Eu gostei. Gostei dele. Ele era mal-humorado de um jeito que me pareceu romântico; era engraçado, inteligente, interessante e me dava prazer.
Na segunda vez, ele apanhou minha echarpe do chão, onde eu a tinha deixado cair quando me despia, sorriu e disse:
- Posso vendar seus olhos?
Ninguém tinha me vendado na cama antes, e eu gostei. Gostei dele ainda mais do que na primeira noite.
(...) Na terceira vez, ele me levou várias vezes a beira do orgasmo. Quando mais uma vez eu já não me aguentava, ele parou de novo. Ouvi minha voz incorpórea sobre a cama, implorando que ele continuasse. Ele aquiesceu. Eu estava começando a me apaixonar.
Na quarta vez, quando eu estava obviamente excitada, ele usou a mesma echarpe para amarrar meus pulsos. Na manhã seguinte, enviou treze rosas ao meu escritório.”
A trecho acima é a primeira página do livro, como vocês podem ver, a narrativa é simples e direta e o foco não é o mistério, como a narradora, nós já sabemos o resultado dessa história, já conseguimos perceber que alguma coisa não vai acabar bem, mas não sabemos o como, e é aí é que tá o ponto. O futuro da protagonista não é totalmente transparente, e ficamos ansiosos pra ver cada detalhe dessas semanas de amor e descobrir como ela foi concluída.
Uma coisa interessante é que, o amante nunca recebe um nome. Ela só é mencionado pelo pronome “ele”, dando a sensação de que pra ela “ele” é o único homem que existe. Nós não temos detalhes sobre outras coisas, sem nomes, sem passado, sem adjetivos... Só a longa descrição das nove semanas e meia de relacionamento deles. Só o tempo que o casal passa junto, com o foco no sexo e sadomasoquismo, nos mostrando como tudo foi tão intenso, beirando ao perigoso, e ficamos nos perguntando até que ponto vai essa história.
Ele passou a fazer absolutamente tudo pra ela, no capítulo que conta “o que ele fazia”, ela conta que ele a alimentava, a vestia, lia pra ela, lavava seus cabelos, comprava e trocava os seus absorventes, removia sua maquiagem e etc. E no capítulo seguinte ela conta o que ela fazia: Nada! Mas não é exatamente assim. Ele a fazia se vestir como ele queria e a engatinhar pra ele, fazer poses em cima de uma cama dentro de uma loja ao comprar uma nova cama, e chega ao ponto dela aceitar assaltar um desconhecido com uma lâmina só por que ele mandou, e ela estava sempre disposta a dar prazer a ele seguindo suas ordens.
A protagonista, como ela mesma menciona, é “Uma mulher de negócios articulada, prezada pelos amigos, valorizada pelos superiores”, e mesmo assim acaba desejando abdicar do poder de suas escolhas assim que conhece seu amante, ela renuncia todo o controle sobre seu próprio corpo e mente e ficamos nos perguntando como alguém consegue chegar ao ponto em que ela chegou ao final. Ela descobre o desejo de ser algemada, vendada, espancada... E quanto mais ela entra de cabeça nessa relação, mas tudo se intensifica, a necessidade, a compulsão de sempre querer testar além de qualquer limite, não importando as consequências, chega a um nível absurdo, que choca o leitor. Principalmente por ser de livre e espontânea vontade, pois ele sempre deixou claro que ela era livre, ele ditou as regras, mas ela as aceitou.
“Me tome, faça qualquer coisa, faça qualquer coisa comigo, me tome, me mate, se te deixa feliz. Mas experimente me amarrar primeiro.”
Particularmente eu fiquei muito impressiona com essa leitura. O rumo que as coisas tomaram é de chocar qualquer um. Já li outros livros com o tema sadomasoquismo, mas relações saudáveis, e nada comparado com 9 e 1/2 Semanas de Amor. Nele temos a noção de que às vezes a busca descontrolada por prazer pode se tornar uma coisa perigosa, deixando de ser saudável se não tomando cuidado. É perturbador ver o quanto a protagonista conseguiu se perder mentalmente, como se tornou escrava do seu próprio prazer, e testemunhamos como às vezes o sexo acaba passando por cima até da razão. A intensidade das situações cria um clima sufocante nesse caso de amor, e percebemos isso cada vez mais durante a leitura, e acompanhamos a protagonista perder a noção de realidade fora do seu relacionamento.
“Semanas depois, abafar os gritos não é possível. Talvez mais tarde um filete de sangue; como seria apanhar até sangrar?
(...) Se você nunca gritou completamente fora de controle, não consegue imaginar como é. Agora eu sei como é, é como gozar. Há um som distante que tem a ver comigo e com certeza não tem nada a ver comigo; nenhuma responsabilidade. Meu corpo desistindo, cedendo. Nenhum limite. Sons desconhecidos a distância; não sou responsável.”
Tudo passa a ser bastante surpreendente, nunca sabemos o que esperar do amante de Elizabeth e nunca sabemos até que ponto ela vai o deixar ir. Essa história nos mostra como a obsessão no amor e no sexo às vezes podem nos mudar, e nos transformar em escravos até sermos levados ao extremo. E percebemos que tal tipo de coisa, pode acontecer com qualquer tipo de paixão, não somente em um relacionamento como o deles. Com certeza essa leitura faz você refletir não só sobre o tema abordado no livro, mas sobre paixão em geral, em como se deve tomar cuidado e sempre estabelecer limites. Uma frase que consta no prefácio do livro e que resume muito bem essa leitura é: “Ler esta história é sentir que todo o oxigênio está sendo bombeado para fora do recinto”, e sou obrigada a concordar completamente!