Everton Jr 02/06/2011
Um resumo elaborado de um excelente trabalho
O autor inicia o livro com um capítulo destinado aos historiadores e seus fatos, dando a sua primeira definição de história no livro como “um corpo de fatos verificados”, explicando que o historiador deve reuní-los, analizá-los e depois divulgá-los ao seu modo, fixa que os fatos básicos são comuns a todos os historiadores e que formam a “espinha dorsal da história”. Baseando-se nesta definição, ele propõe que o historiador é necessáriamente um selecionador dos fatos. E defende esta proposta mostrando que tudo o que conhecemos sobre a história medieval são fatos quase todos selecionados por cronistas de profissão prática e teóricamente religiosas.
Por conta disso, Carr afirma que os fatos da história nunca chegam puros a nós, uma vez que esta forma pura não existe pois eles sempre serão refratados através da mente do historiador. Por conta disso, seu, ao meu ver, mais importante conselho sobre o livro é procurar conhecer o historiador antes de conhecer a história, e que se não conseguir compreender o que se passa na mente do historiador, o defeito está ou em você ou no historiador. Afirma também, Carr, que o historiador pertence a sua época e a ela se liga pelas condições de existência.
Outra definição mais elaborada da história seria que ela é “a constituição de processos contínuos de interação entre o historiador e seus fatos”.
Carr defende na obra que a sociedade e o indivíduo são inseparáveis, necessários e completam um ao outro e não são opostos, também contrapõe a idéia dos antropólogos de que o homem primitivo é menos individual e mais completamente moldado pela sua sociedade que o homem civilizado quando afirma que o homem civilizado assim como o primitivo é moldado pela sociedade de maneira tão eficaz quanto a sociedade é modificada por eles.
A visão do senso comum de que a história é algo escrito por indivíduos para individuos, segundo Carr não é incorreta porém é simplificada e inadequada, pois o historiador é um ser humando individual e também um fenômeno social, portanto o produto como o porta-voz consciente ou incosciente da sociedade à qual pertence.
Pelo fato de o historiador ser este produto, ele deve evitar o “anti-histórico” que seria o estudo do passado pelo olho do presente, que é segundo o autor a fonte de todos os pecados e sofismas na história.
Com base no papel social do historiador, o autor dá mais outra definição de história como sendo “em ambos sentidos da palavra,... um processo social em que os individuos estão engajados como seres sociais”, colocando assim a história no rol das ciências sociais, e o modo de estudos das ciências para o mundo e a natureza, gradualmente no século XIX começou a ser aplicado ao estudo do homem e da história, inclusive se valendo das teorias de Darwin, pois os cientistas sociais passaram a pensar na sociedade como um organismo.
Este modo de pensar foi modificado depois da publicação do livro La science et l’hypothèse de Henry Poincaré com a tese de que as proposições gerais dos cientistas eram hipóteses para cristalizar e organizar o desenvolvimento do pensar e que devem ser verificadas, podendo ser modificadas e até mesmo refutadas, pois todo pensamento requer aceitação de certos pressupostos baseados na observação mas são sujeitos a revisão à luz daquele pensamento.
Carr, então diferencia a história das ciencias, assinalando algumas diferenças chaves :
1. A história lida com o que é único, a ciência com o geral;
2. A história não dá lições;
3. A história não é previsível;
4. A história é subjetiva, pois é o homem que oberva a si próprio;
5. A história envolve problemas de religião e moral;
Ainda afirma que o próprio uso da língua compromete ao historiador, assim como o cientista, à generalização. E a generalização na história nos faz tentar aplicar, a partir da história, a lição tirada de um conjunto de enventos a um outro conjunto de eventos.
Assim sendo o historiador está destinado a generalizar, pois agindo desta forma, ele fornece guias para a ação futura que mesmo não se tratando de previsões específicas são tão válidas quanto úteis, porém o historiador não pode prever acontecimentos específicos.
Carr, defende o quinto ponto mostrado como diferenças acima com uma comparação :
“O fato de ser um bom astrônomo não o impede de acreditar num Deus que criou e ordenou o universo. Mas não é compatível com a crença num Deus que intervenha à Sua vontade para mudar o curso de um planeta, adiar um eclipse ou alterar as regras do jogo cósmico”, porém um historiador competente pode acreditar num Deus que ordenou, dando-lhe sentido, o curso da história como um todo, embora o historiador não possa acreditar no tipo de Deus do Velho Testamento que intervém para matar os amalecitas ou burlar o calendário, estendendo as horas de luz para ajudar o exército de Josué.
“Não adianta para um estudante responder qualquer questão de história dizendo que foi o dedo de Deus. Mas só nos será permitido tecer considerações mais amplas quando conseguirmos ordenar a maior parte dos acontecimentos terrenos e o drama da humanidade”, esta citação do M.C. D’Arcy é mostrada por Carr e a iguala a religião como um coringa, ou seja, só usar em jogadas importantes em que sem ele não seria possível ganhar, esta mesma idéia é defendida por Políbio na antiguidade que dizia que : “Sempre que for possível descobrir a causa do que está acontecendo, não se deve recorrer aos deuses”.
Os pontos de vista entre historiadores, religiosos e moralistas não são idênticos, o que não significa que a moral e a religião particular não seja importante, mas o historiador não muda de rumo para emitir julgamentos morais sobre a vida privada dos indivíduos que aparecem em suas páginas.
O historiador não é um juiz que enforca, mas tem a tarefa mais difícil, emitir estes julgamentos morais, não sobre indivíduos, mas sobre acontecimentos, instituições ou políticas do passado, estes julgamentos são importantes ao historiador.
Citando o próprio autor : “O historiador não se arroga o direito de julgar um déspota oriental isolado... ...mas isso não o impede de condenar uma sociedade escravista”.
A história é um movimento, e movimento implica em comparação, por conta disso os historiadores expressam seus julgamentos morais em palavras de natureza comparada com “progressista” e “reacionário”, e não em palavras de natureza absoluta como “bom” e “mau”.
E por conta disso, o historiador se faz ser um animal que incessantemente faz a pergunta “Por quê?”, e esta pergunta que faz o grande historiador, ele é o homem que pergunta o por que sobre coisas novas ou em novos contextos.
O historiador lida com uma multiplicidade de causas, o verdadeiro historiador, diante desta lista de causas de sua própria compilação, sentiria uma compulsão profissional em colocá-las em ordem, multiplicando e simplificando estas causas, pois a história, como a ciência, avança por meio deste processo duplo e contraditória.
A história como a vida cotidiana, é impossível. A função especial do historiador pe a de investigar estas causas, correlacionando com a biologia, é fazer uma “seleção natural” destas causas, onde de um oceano infinito de fatos extrai apenas o mais coerente e da multiplicidade de causas e efeitos somente aqueles que são importantes historicamente no contexto.
Outra definição dada para a história pelo Carr é que “é o progresso através da transmissão de habilidades adquiridas de uma geração à outra”, e esta direção de progresso que nos possibilita ordenar e interpretar os acontecimentos do passado. Porém o historiador do passado somente pode abordar a objetividade na medida que aborda a compreenção do futuro, e o historiador mais objetivo é aquele que adentra mais profundamente na interdependencia e interação dos fatos.
Assim sendo, a história é um processo em movimento constante, dentro do qual o historiador se move. É a cisão da natureza causada pelo depertar da consciência