Lígia Colares 30/01/2017Resenha de MitralComo uma guerra pode mudar a vida de uma adolescente, sua irmã, seus pais e seus melhores amigos? Como reagir quando sua rotina é interrompida bruscamente, fazendo com que a presença da morte seja sentida em cada canto que se olhe? Escutar um barulho, ver algo estranho, e somente o instinto agindo para salvar professores e crianças de um bombardeio na escola. É assim que a guerra é apresentada para Selena.
“Mitral é o nome de uma válvula responsável pela passagem de sangue no coração. E isso traduzia toda a guerra. Os mitrais eram responsáveis também por um controle: a passagem de pessoas. As pessoas que saíam dele, normalmente não voltavam. E as pessoas que ficavam dentro dele, tinha o coração paralisado, sem fluxo, sem sangue, sem vida. Mas pelo menos estavam a salvo.”
Selena é uma garota observadora e sensível, que não só vê o lado cruel da guerra, mas faz análises interessantes sobre as consequências dela nas pessoas. Muito reflexiva, é de certa forma o oposto de sua irmã, que adora contas e números. E nessa guerra, enquanto adultos tentam sobreviver tentando ignorar as mudanças em uma guerra que ninguém conhece o inimigo, essas duas meninas demonstram força e coragem enquanto Selena tenta ajudar uma amiga e sua irmã tenta descobrir a lógica de uma guerra sem nomes.
Mitral foi uma experiência intensa, é a melhor definição que posso dar. Toda a reflexão realizada, o que nós precisamos mudar para sobreviver a uma guerra? Quais são as prioridades? E como uma família pode continuar vivendo – ou não – enquanto perdem força, ânimo, felicidade, e pessoas amadas? Além disso, Selena ainda tem um fator a mais com que se preocupar: seu melhor amigo Lorenzo, que acabou indo para outro Mitral, e pode estar vivo ou morto! Gostei muito não só da discussão apresentada, mas também o motivo dessa guerra quando finalmente descoberto! Thayane aproveitou todas as abordagens, uniu todos os pontos, e ao final do livro você não consegue deixar de refletir sobre o que realmente nos torna humanos!
Só uma observação chata que precisa ser dita, o livro possui muitos erros de português. Preciso deixar claro que a falha não é do escritor, mas sim da editora, e não é o primeiro livro da Modo que apresenta revisão falha! É chato, porque erros assim desestimulam o leitor e ocasiona aquele preconceito de que literatura nacional é menos valiosa que a internacional, então espero que haja mais atenção quanto a isso!