Raquel Moritz 03/09/2013Mistério e paparazzis em O Chamado do CucoEm uma noite de inverno em Londres, um crime deixa todos atônitos: uma
supermodelo famosa comete suicídio ao se jogar da própria sacada. Jovem, rica, incrivelmente bonita,
Lula Landry (que também é chamada de
Cuckoo pelos amigos) foi adotada por uma família abastada quando era pequena. Ela tinha ao seu redor um pai, uma mãe e um irmão para fazê-la feliz. Já na adolescência, ela se envolveu com drogas, fugiu de casa, foi diagnosticada com transtorno bipolar e ainda por cima arranjou um namorado complicado.
Tudo o que uma fama precoce pode trazer para uma estrela despreparada. Algumas vezes, as pessoas simplesmente não entendiam as dificuldades dela, por ser uma garota negra criada em uma família branca, e toda a pressão que a adoção dela tinha (ela foi a forma que a família encontrou de substituir um filho que morreu em um acidente).
Três meses após a morte da garota,
Cormoran Strike, um detetive particular com um passado sofrido, um vida amorosa arruinada e problemas financeiros preocupantes, é contratado por
John Bristow, irmão de Lula, para reabrir o caso. Ele não acredita que a garota tenha cometido suicídio, e tem suspeitas fortes de que a irmã foi assassinada.
Inicialmente Strike não quer pegar o caso, mas ele está tão mal de grana que não pode se dar ao luxo de recusar o trabalho (depois de remover suas coisas do apartamento que dividia com a ex-namorada, Charlotte, Strike passa a dormir em seu escritório). Então ele topa o desafio e conta com a ajuda de
Robin Ellacott, sua secretária temporária que sempre quis ser detetive. A amizade entre ele e Robin demora um pouco pra engatar, mas acontece. E é engraçado, pois o temperamento dos dois traz algumas risadas pra história.
O Chamado do Cuco é um romance policial profissional, que tem uma escrita mais avançada e nos leva a refletir sobre
como a fama pode mudar as pessoas e destruir vidas (dá pra lembrar da Lady Di diveeersas vezes), pois a pressão é tanta que uma hora a pessoa sucumbe.
Gosto particularmente de um capítulo logo no começo em que Robin está lendo uma matéria sobre Lula Landry que comenta que
aparência é tudo, pois o vestido que Lula usava na hora da sua morte teve suas vendas esgotadas 24h após a divulgação de sua morte. Apenas um pequeno trecho que me lembrou tudo o que me chocou em
Bling Ring, e que aqui também é abordado (de forma fantasiosa, mas ainda assim, crítica).
Personagens: passado, presente e futuro
Embora seja uma história simples, Rowling conseguiu criar um bom ritmo, e colocou vários suspeitos nos trilhos para nos confundir até o final: a vizinha que muda um detalhe do seu depoimento sobre a noite fatídica pra cada um, o namorado que protagonizou muitas brigas com Lula, o motorista que aparentemente tinha uma queda pela modelo, e até a melhor amiga e companheira de passarela de Lula. As pistas vão se encaixando até que
forme um final satisfatório.
Vários personagens são bem trabalhados, mas ainda assim, é Strike que se destaca. Ele é um personagem completo, carismático e inteligente, que cativa o leitor. Ao longo do livro temos várias pistas sobre o seu passado e, apesar de Rowling ter amarrado todas as pontas desta história, restaram ganchos para criar novas situações. O que é bom, já que em 2014, teremos outro livro protagonizado por Cormoran Strike.
Ah, sei que vocês nem esperavam mais isso, mas de qualquer forma, vale dizer que esse livro não tem nada a ver com Harry Potter. Ainda assim, duas coisas traçaram um paralelo aqui na minha cabecinha: (1) a presença de uma criança mestiça adotada como foco da história e (2) a agressividade ao abordar a imprensa, com uma crítica às perseguições e aos artigos sensacionalistas que parecem ter saído da Pena de Repetição Rápida verde ácido da nojenta da Rita Skeeter. Pequenos detalhes que, se a JK me ouvisse falando, provavelmente diria oh, please, get over it, mas eu quis falar.
Curiosidade: Rowling diz que escolheu o nome Robert em homenagem ao seu herói Robert F. Kennedy, mas que não há razão específica para o nome Galbraith. Coincidência ou não, um economista e escritor americano compartilhava das mesmas iniciais que ela:
JK Galbraith. O pseudônimo foi uma tentativa de JK de trabalhar sem exageros ou expectativas para receber um retorno totalmente verdadeiro em relação ao trabalho. E parece que o retorno foi bem positivo.
Espero que tenham curtido a resenha. Ela foi postada originalmente no blog Pipoca Musical.
site:
http://pipocamusical.com.br/2013/09/03/resenha-livro-chamado-do-cuco-the-cuckoos-calling-robert-galbraith-jk-rowling/