Resenhas - Las Primas

Pandora 12/06/2021

Não sei mensurar minha alegria por ter obtido este livro! Quando bati o olho na sinopse, me apaixonei e não descansei até consegui-lo (comprando outros livros pelo caminho, óbvio). Valeu a pena totalmente.

Aurora Venturini tinha 85 anos quando recebeu o Prêmio Nueva Novela de Página/12 y Blanco Provincia por este livro. Suas palavras: “Finalmente um júri honesto”. Esse deboche da autora permeia o livro todo. Sua escrita em primeira pessoa dá voz a uma Yuna que discorre sobre sua família disfuncional e bizarra de uma forma tão original que, se tudo não nos parece perfeitamente normal, também não nos escandaliza.

Anos 40. Yuna e Betina são filhas de uma professora enérgica que vive às voltas com uma vareta de lousa que ela descarrega nos alunos e nas filhas para discipliná-los. O pai as abandonou. Betina tem deficiências físicas e mentais graves e vive numa cadeira de rodas e Yuna tem problemas cognitivos e de aprendizagem. Ela é um ano mais velha que Betina. Na casa também vive a gentil empregada Rufina que aguenta a todas.

A mãe das meninas têm uma irmã solteira, tia Nené que vive com a mãe e outra, Ingrazia, casada com o primo Danielito, que tem duas filhas: Carina e Petra. Carina tem seis dedos em cada pé e uma ingenuidade sem tamanho; Petra é anã e sabe mais da vida do que todos eles juntos. Sobre as primas, Yuna diz: “Algún mal de ojo perseguía a mi familia porque las primitas imbeciloides asistían a colégios de minusvalías…”. Algo como: “Algum mal olhado perseguia a minha família porque as primas idiotas frequentavam escolas para deficientes.” - pág. 43. A mãe de Yuna também tem dois irmãos que não deram em nada e não fazem diferença nesta história.

O professor de Yuna descobre que ela tem um talento excepcional para a pintura quando ela ainda é uma criança e ela acaba frequentando a escola de Belas Artes e fazendo muito sucesso. Se os problemas familiares não são eliminados de sua vida, nas pinturas pode expressar o que não consegue com as palavras.

Parece que contei tudo, não? Mas não! Las primas é muito mais do que isso. Sabe aquela história que te coloca dentro, não só do cenário e das vidas dos personagens, mas da cabeça da narradora? Nós vemos Yuna, mas somos Yuna também.

Era um livro para ler em dois dias, mas eu ralentei o mais que pude, pois não queria terminá-lo. E será, com certeza, no futuro, uma de minhas poucas releituras.

phpeterparker 20/04/2024

"Não éramos comuns, para não dizer que não éramos normais."
Uau! Aurora Venturini é uma estrela na literatura, tranforma essa obra sobre mulheres da La Plata nos anos 1940 em uma revolução latina que desafia as regras. A trama é muito bem desenvolvida, extremamente reflexiva, e as personagens são intensamente trabalhadas em torno da realidade brutal e de sentimentos profundos.
Conta a realística estória das "primas", de mulheres mal-tratadas, que precisam lidar com deficiências físicas e mentais, destacando a protagonista Yuna desde sua infância até a vida adulta, Yuna tranforma suas sombras em arte, a forma de alcançar seu espaço em uma sociedade hostil com homens abusadores, "voltei ao universo dos viventes que eu conquistei e merecia". Muito bom, 5 estrelinhas.

Maria Amélia 16/12/2023

"As primas", de Aurora Venturini (1921-2015, 92 anos) ??

"Neste romance de formação, Aurora Venturini recria o território de sua infância na La Plata dos anos 1940 e, numa mescla desconcertante entre o trágico e o cômico, constrói o retrato de mulheres abandonadas que, para além da pobreza, são obrigadas a lidar com deficiências físicas, mentais e imaginárias.
Aurora Venturini estreou oficialmente na literatura latino-americana com As primas aos 85 anos, arrebatou os leitores argentinos para em seguida conquistar o mundo, lembrando-nos de que não há convenção literária que não mereça ser posta em xeque."

Gabriella.Gardin 17/01/2024

Cruamente encantador
Narrativas de cabecinhas perturbadas deveriam ser o comum, mas a gente fica com medo de se deparar com o que não foi polido, o que não passou no filtro, o que não teve espaço pra ser muito elaborado e saiu só de acordo com as pulsões da existência. Que bom que Aurora não teve medo, foi corajosa. Esse livro é um presente! Tecnicamente me encantou, também, a maturidade da forma narrativa que Yuna foi encontrando a medida que crescia.

Lurdes 10/05/2023

Yuna, a protagonista e narradora desta estória vai ficar para sempre na minha memória e no meu coração.

Aurora Venturini criou uma galeria de personagens com nuances impressionantes, principalmente se levarmos em conta que boa parte deles possui limitações intelectuais e cognitivas, e alguns, limitações morais e éticas, que desencadeiam muitas situações de abandono e de abus0s psicológicos e sexu4is.

É um romance de formação que acompanha Yuna, dos 12 anos até a idade adulta, nos anos 1940, em La Plata.
Filha de uma professora "mixuruca", que batia com régua na cabeça dos alunos indisciplinados, Yuna frequenta um centro para pessoas com deficiência e tem uma irmã, Betina, cadeirante, com sério comprometimento neurológico.

O núcleo familiar têm, ainda, Tia Nené, abandonada pelo marido antes do mesmo ser consumado, Tia Ingrazia, casada com o primo Danielito, pais de Carina, também com comprometimento neurológico e da surpreendente e esperta Petra, a prima anã, chamada como liliputiana, por Yuna.

Uma das maiores dificuldades de Yuna era a comunicação escrita e oral, bem como a organização dos pensamentos e ela vai desenvolvendo métodos muito particulares para manter algum ordenamento, como a decisão de não usar pontuação, pois a cada pausa, as ideias se embaralham.

Yuna tem limitações, sim, ou poderíamos chamar apenas de diferenças ou comportamentos atípicos?

Dona de uma inteligência peculiar, torna-se usuária assídua de dicionários e, posteriormente, uma leitora voraz, principalmente de livros de arte e biografias de artistas plásticos.
Sempre viveu às voltas com papelões e tintas, transformando em pinturas não só o que via, mas o que sentia e acaba sendo "descoberta" pelo professor Camaleón, que a guia pelo mundo das artes, abrindo uma possibilidade inimaginável para ela. Mas o professor terá muito mais influência na vida da família do que se esperava.

É lindo de ver o crescimento da personagem, que observamos não só na linguagem, mas no ordenamento das ideias e sentimentos e, principalmente, na compreensão do mundo.

Helder 29/12/2022

Um livro mediano
Li em algum lugar da internet que este é um livrinho pessimista e acho que posso concordar.
Em As Primas conhecemos uma família formada por mulheres esquisitas ou digamos, defeituosas.
Quem narra a história em 1ª pessoa é Yuna, uma garota que nos diz ter algum problema relacionado com dislexia. Ela vive com a mãe, uma professora que bate com régua em seus alunos e sua irmã, que tem alguma doença rara que a faz viver em uma cadeira de rodas com um corpo todo deformado.
Além desta família, também conhecemos suas tias e primas, que também possuem suas deformidades físicas ou morais.
Yuna tem dificuldades em se expressar por palavras, mas ainda pequena conhece um professor que percebe que ela tem talento para a pintura, e é através de sua arte que ela consegue expressar sua visão das tragedias ou mazelas que vão cercando sua vida.
Este é o único ponto interessante da história, mas para mim foi pouco e infelizmente este livro não me pegou. Yuna conta sua história desde criança até fase adulta e para mim esta história foi pouco interessante e teve muitas situações pouco plausíveis.
O livro fala sobre abuso sexual, pedofilia, aborto, prostituição, mas para mim pareceu que as consequências destas coisas nos personagens eram sempre apaziguadas.
Não sei explicar, mas gostaria de ter sentido mais as dores dos personagens, mas para mim faltou alguma coisa. E no final, ainda não sei se fico feliz ou triste por Yuna.
Às vezes, é mesmo muito melhor estar só do que mal acompanhado.
No fim, valeu a leitura para conhecer uma autora argentina que escreveu diversos livros em sua vida e somente aos 85 anos teve seu talento reconhecido em uma premiação.

Matheus656 19/03/2023

Ambientado na argentina, ?as primas? é narrado pela perspectiva de yuna - uma jovem com dificuldades de aprendizado que está apenas começando a encontrar o seu caminho como artista.

há muitos gatilhos presentes no romance - particularmente em relação à abuso sexual e ao aborto - que são filtrados pela perspectiva brutalmente prática de yuna. a voz da ?prima? principal, é toda gestual: um movimento simbólico que, por vezes, nos distrai dos dramas presentes no enredo - que é pesadíssimo.

uma das que mais gostei no texto, foi a maneira como a linguagem e forma se desenvolvem à medida em que o romance avança. a linguagem, a princípio monótona, torna-se estranha e ?educada? (difícil adjetivar), quase barroca. o jogo linguístico feito pela aurora venturini é brilhante.

no geral, ?as primas? é um belo livro, com um inconfundível contexto argentino,, mas com uma história bem diferente das que costumamos encontrar. sem dúvidas aurora venturini é uma das escritoras mais interessantes da literatura argentina contemporânea.

emoção e impacto garantidos, já que, nas próprias palavras da protagonista: ?peço desculpas, mas escrevo com franqueza?.

Marcus 22/12/2023

Pintura
Um livro que parece um quadro, daqueles histriônicos que atraem pelas cores fortes e traços irregulares. A história de uma família diferente, contada pelas palavras de uma artista que se designa ?quase deficiente?.

Marilia Verdussen 14/08/2023

Mais do que bom
Comecei a ler, sem querer, para o clube de leitura Espanadores. O livro impressiona. Ele é muito bem escrito, mas porque a escrita acompanha o desenvolvimento da narradora, que tem um déficit cognitivo. O contexto é de miséria e desgraceira, mas com as ironias e os escancaramentos da narradora, o leitor é agarrado por mais sensações que somente o mal estar. O livro é muito muito muito maduro, feito por uma autora que tem pleno domínio do que faz. O final é ótimo, perfeito para um livro que só cresce.

Lorena Salman 20/08/2023

Impactante
Leitura impactante que nos deixa entre o asco e o afeto, que são os mesmos sentimentos da autora. Recomendo!

mari | @marisbookshelf 01/09/2023

Uma tragicomédia sobre ?erros da natureza?
?Eu era mais uma peça do excepcional status degenerado, mal e mal aproximado à pura raça humana em sua perfeita natureza.?

Não costumo fazer resenhas aqui, mas acho que fui indiretamente influenciada pela narradora Yuna a expor meus pensamentos sobre a história. Enfim, vamos aos fatos: ?As Primas? é aquilo que as pessoas costumam comparar com um acidente, que choca o leitor do início (início MESMO) ao fim, mas que não conseguimos parar de olhar ou, nesse caso, ler. Dito isso, posso afirmar que, só com esse primeiro contato, já considero a autora como uma das minhas favoritas e fico muito feliz em saber que tenho ainda outros 40+ livros para conhecê-la melhor.

Também quero deixar uma recomendação: o prefácio, escrito pela autora (também muito querida por mim) Mariana Enriquez, trás um resumo de boa parte do enredo, então o melhor é deixar para ler no final.

Ah, o título da resenha está em aspas por ter sido tirado de um trecho do livro, mais especificamente da segunda página, e é usado pra descrever a família da narradora. Foi isso que eu quis dizer quando me referi a ele como chocante do início ao fim.

Nana 03/11/2023

Livro nr 54 do projeto "A volta ao mundo através dos livros"
País sorteado : "Argentina"

Que ótima descoberta foi esse livro!
Diferente, curioso, intrigante, original, é daqueles que a gente termina a leitura e fica com os personagens na memória.
Por um bom tempo vou lembrar de Yuna e Petra (as primas que são as principais personagens).
Yuna narra conversando com o leitor, ao contar a história da família vai nos apresentando as vulnerabilidades de cada um, em uma casa cheia de imperfeições e diferenças. Ela é sensível e criativa e usa esse dom para a pintura de quadros, profissão que a salvou.
Já Petra oscila entre a amizade e a traição, a lealdade e a crueldade.

A autora tem um humor ácido que eu adoro! Apesar de ter passagens bem divertidas, o livro tem vários temas pesados como estupro, pedofilia, aborto, prostituição e assassinato. Mas tudo tratado com leveza deixando a leitura muito prazerosa. Amei!

oslivrosdagiu 13/07/2023

Brilhante
Romance de evolução da escritora argentina Aurora Venturini, As Primas é narrado em primeira pessoa por Yuna, jovem pertencente a uma família de pessoas com limitações físicas, cognitivas e emocionais. Para sair da situação de pobreza e abandono, ela utiliza a pintura para se expressar já que possui grande dificuldade com a palavra falada. Consegue com sucesso colocar em papelões e depois em telas seus pensansamentos conturbados de uma vivência cercada de abuso e violência. Um certo pessimismo toma conta da narrativa, mas Yuna segue superando adversidades e melhorando como ela mesma narra "até chegar se possível a aniquilar minha deficiência original". Escrita brilhante de Aurora Venturini, leitura fluida que prende a atenção do início ao fim. Levei mais tempo pra terminar de ler porque nesses últimos dias perdi muitas horas de vida na tela do celular. Um dia eu melhoro disso.
" Pintei as sombras que não pude evitar pois carrego dentro de mim tantas sombras que quando me angustiam eu as expulso em cima das minhas pinturas".

MamaFioravante 08/09/2023

As vezes me pego pensando nesse livro
Me envolveu desde as primeiras páginas e não me permitiu soltar até a última palavra. Esta é uma narrativa que tem o poder de destruir nossas preconcepções e nos transportar para um universo onde personagens reais e marcantes ganham vida através de uma escrita incrivelmente fluida. A experiência de leitura foi, sem dúvida, transformadora.

A narrativa transporta o leitor para a La Plata dos anos 1940. A história de Yuna, uma jovem talentosa, se desenrola em meio a desafios familiares e sociais complexos, incluindo deficiências, pobreza e tragédias. A arte de Yuna se torna uma forma de dar voz às histórias sombrias que a cercam.

leiturasdabiaprado 30/11/2023

Uma família fora dos padrões, com vários casos de deficiências... A narradora principal possui deficiência intelectual, contudo possui um grande talento para a pintura!
Sua irmã possui deficiências física e intelectual.
Sua prima possui deficiência mental e dedos a mais, sua outra prima é anã!
Esse é o cenário dessa geração, a anterior tem mistura de genes, familiares casados com familiares, além de um certo pouco caso com os filhos...
A jovem pintora Yuna encontra num professor alguém para valorizá-la e ampliar os seus horizontes, e, por meio da arte ela vai rompendo barreiras, superando limitações intelectuais, conquistando prestígio e reconhecimento pelo o seu trabalho!
Yuna vive uma relação de proximidade com a sua prima Petra, a anã, após o precoce falecimento da irmã desta. Juntas elas vão saindo do casulo familiar, uma por meio do estudo e da arte, a outra por meios não tão puros, utilizando do sexo, ambição, inveja e sentimentos de vingança!
Um livro fora do lugar comum, com uma forte história de superação e vitória, mas que aborda temas pesados como abusos, abandonos, aborto, luto e assassinato!
Outro ponto de destaque é que esse livro ganhou um concurso e revelou sua autora já na terceira idade!
Por tudo isso eu digo: Vale a pena ler e conhecer um pouco mais da literatura argentina!