Cristina Henriques 08/02/2016“A diferença da maioria dos homens que conhece, Gregory Bridgerton acredita no amor verdadeiro.”
“Quando essa mulher chegasse, essa impossível, maravilhosa e atualmente inexistente mulher, tudo o que em realidade sabia era que quando a encontrasse...
Saberia.
Não sabia como saberia; só sabia que saberia. Ocorreria algo muito importante, seu mundo estremeceria, e a vida se alteraria.... bom, em realidade, não ia chegar sussurrando sua passagem por sua existência. Viria pleno e poderoso, como uma tonelada proverbial de tijolos. A única pergunta era quando.”
“Mas quando seus olhos passaram sobre a cena, em seu lugar a viu...
Ela.
E sabia. Sabia que ela era a única. Estava congelado, imóvel. O ar não corria em seu corpo; mas bem parecia, escapar lentamente até não ficar nada, e ficou ali, vazio, e ansioso por mais.
Não podia ver seu rosto, nem sequer seu perfil. Só lhe via as costas, a impressionantemente perfeita curva de seu pescoço, uma mecha de cabelo loiro formado redemoinhos em seu ombro. E em tudo o que podia pensar, era: Estou arruinado. Para todas as mulheres, estava arruinado. Essa intensidade, esse fogo, essa sensação tão esmagadora de estar certo, nunca a havia sentido.
Possivelmente fosse tolo. Possivelmente estava louco. Provavelmente ambas as coisas. Mas tinha estado esperando. Por esse momento, tanto tempo, tinha estado esperando. E repentinamente tudo se tornou tão claro, porque não ia se unir à tropa ou ao clero, ou aceitar a oferta de seu irmão de administrar uma pequena propriedade. Tinha estado esperando. Era tudo o que tinha feito. Infernos, não tinha compreendido que não tinha feito nada mais que esperar por este momento. E ali estava. Ela estava ali. E ele sabia. Sabia.”
“- Você o faria? -sussurrou ela-. Arriscaria tudo?
Ele não se moveu, mas seus olhos ardiam. E não duvidou quando disse:
- Tudo.
Seus lábios se afastaram. Com surpresa? Temor? Algo mais?
- Faria-o você? -respondeu ele.
- Eu... não estou certa. - Agitou a cabeça, e tinha o estranho pressentimento de que realmente não se conhecia assim mesma. Porque essa devia ter sido uma pergunta fácil. Teria sido, há uns dias. Poderia-lhe ter dito que é claro que não, e lhe poderia dizer que ela era muito prática para algo tão tolo. E em geral, diria que esse tipo de amor não existia, de qualquer modo. Mas algo tinha mudado, e não sabia o que. Algo tinha mudado em seu interior, deixando-a desequilibrada. Insegura.
- Não sei -disse ela outra vez-. Suponho que isso depende.
- Do que? -E sua voz se suavizou inclusive um pouco mais. Era incrivelmente suave, mas ainda assim, ela podia entender cada palavra.
- Desde... - não sabia. Como podia saber de que dependeria? Sentia-se perdida, e afundada, e... e... e as palavras apenas saíram. Escorregaram-se suavemente de seus lábios-. Do amor, suponho. - Do amor.”
“Ela parecia ser a única alma perdida, a única pessoa que não entendia o que era o amor, quem nem sequer estava certa que existisse, ou se inclusive, existia para ela.
- Como se sente - disse ela finalmente, porque não sabia que mais podia dizer. Como se sente o amor. No que se sente. Seus olhos se cravaram nos dele.
- Acredita que há alguma diferença?
Ela não tinha esperado outra pergunta. Ainda estava tentando entender a última.
- Como se sente o amor - clareou ele-. Você acredita que possivelmente poderia ser diferente para cada pessoa? Se você amar a alguém, verdadeira e profundamente, não o sentiria como se isso fosse tudo?
Não sabia que lhe dizer.
Ele se voltou e avançou uns passos para a janela.
- Consumiria-a - disse-. Como não poderia fazê-lo? (...)
- Não haveria nenhuma dúvida - disse ele, sua voz era baixa com a intensidade de um verdadeiro crente-. Você simplesmente saberia. Sentiria como se fosse tudo o que tinha sonhado na vida, e depois sentiria que inclusive esse sentimento o supera.
Caminhou para ela. Uma vez. Depois outra vez. E então disse:
- Isso, acredito eu, é como deve ser o amor.”
“Algo aconteceria essa noite. Gregory estava certo disso. A vida de alguém mudaria. Se tivesse sorte, seria a sua. Suas mãos começaram a picar. Seus pés, também. Estava custando muito ficar quieto. Queria mover-se, queria fazer algo. Queria pôr sua vida em movimento, estender a mão e capturar seus sonhos. Queria mover-se. Não podia ficar quieto.”
“Então o que significava isto? O que significava quando alguém se encontra com a mulher que o faz esquecer como respirar e ela se casava com outra pessoa? O que se supunha que devia fazer agora? Sentar-se e esperar que o pescoço de alguém mais o levasse ao êxtase?”
“Lucy fechou os olhos em agonia. Não necessitava que a advertisse. Nunca tinha confiado nesse tipo de sentimento. Não era do tipo que memorizava sonetos de amor, e nunca o seria. Mas de outro modo - o que tinha que ver com o sorriso, a comodidade, o sentimento agradável- nesse confiaria em um instante. E Deus do céu, isso era o que tinha sentido com o Sr. Bridgerton. Tudo isso e a música, também. Lucy sentia como o sangue abandonava seu rosto. Tinha escutado música quando o beijou.
Tinha sido uma verdadeira sinfonia, com elevados crescendo, sonora percussão e inclusive isso que pulsava em um pequeno batimento do coração que nunca se notava até que se arrastava e tomava o ritmo do coração de alguém. Lucy tinha flutuado. Tinha tremido. Sentiu todas essas coisas que Hermione havia dito, tinha sentido com o Sr. Edmonds - e também tudo o que lhe havia dito que sentia com Richard. Tudo com uma pessoa. Estava apaixonada por ele.
Estava apaixonada por Gregory Bridgerton.
A compreensão não podia ser mais clara ou mais cruel.”
“De verdade, não devia queixar-se. E não o fez. Não podia. É somente que desejava algo mais”
“Assim fez seu melhor esforço, e tratou de olhar tudo de um ponto de vista mais prático, catalogando mentalmente, todas as formas em que isto teria sido muito pior. Mas em seu lugar, o rosto do Gregory Bridgerton veio a sua mente - e também, todas as formas em que tudo teria sido muito melhor.”
“Se tivesse sabido a verdade, afastaria-se dela essa noite, e teria ... Congelou-se. Não sabia o que teria feito. Como era possível que houvesse reescrito a cena em sua mente inumeráveis vezes, e justo agora compreendia que nunca tinha pensado em chegar ao ponto de afastar-se dela?”
“Depois disso - bom, não estava certo de como tinha acontecido, mas recordava tudo. Cada detalhe. A maneira como o olhava, a mão dela em seu braço. Tinha-estado agarrando-o e por um momento, isso o tinha feito sentir como se o necessitasse. Podia ser sua rocha, seu centro. Nunca tinha sido o centro de ninguém. Mas não foi só isso. Não a tinha beijado por isso. Tinha-a beijado por que... Por que... Demônios, não sabia por que a tinha beijado. Tinha sido esse momento -esse estranho, e inescrutável momento - e tudo tinha estado tão quieto. Um fabuloso, mágico e hipnotizante silêncio que parecia gotejar-se dentro dele e lhe tirar o fôlego.”
“E o seguinte que soube foi... Que estava beijando-a. Desde esse momento, simplesmente se tinha deixado levar. Era como se tivesse perdido todo o conhecimento das palavras, da racionalidade e pensamento. Sua mente se convertera em algo estranho, incapaz de raciocinar. O mundo era cor e som, calor e sensação. Era como se sua mente se apropriara de todo seu corpo.”
“Ela se voltou para ele, elevando o queixo enquanto lhe lançava um olhar seco sobre seu ombro. - Você é insuportável. Deu-lhe um olhar malicioso.
- É uma de minhas melhores qualidades.
- Segundo quem?
- Bom, a minha mãe parece agradar muito - disse ele modestamente.
Ela não pôde conter um sorriso.
Isso parecia como uma vitória. - A minha irmã... não muito.
Uma de suas sobrancelhas se levantou. - A que gosta de torturar?
- Eu não a torturo porque gosto disso - disse, em um tipo de tom bem instrutivo- O faço porque é necessário.
- Para quem?
- Para toda Bretanha - disse ele-. Confie em mim.
Olhou-o com dúvida. - Ela não pode ser tão má.
- Suponho que não - disse ele-. A minha mãe parece gostar muito dela, e isso me confunde.”
“- É uma mãe extraordinária, sabe?
- Porque o alimento?
- Bom, sim, mas possivelmente, também é por outras coisas.
Ela ficou sobre os dedos dos pés e o beijou na face.
- Você já não é meu querido moço, verdade?
Gregory sorriu. Tinha sido uma diversão para ele, enquanto o recordava.
- Sou-o todo o tempo que o deseje, Mãe. Todo o tempo que o deseje.”
“Ela sorriu. Para ele.
Isso o encheu. Encheu-o, quase a ponto de explodir. Só era um sorriso, mas era tudo o que necessitava.”
“- Sr. Bridgerton - disse ela, mas seus olhos disseram, Gregory.
E nesse momento soube.
Amava-a.”
“Era o céu. Esquece aos anjos, esquece a São Pedro e os clavicordios reluzentes. O céu era uma dança nos braços do verdadeiro amor de alguém.”
“Esta noite, por alguma razão, ou por algum milagre assombroso chamado a Duquesa do Hastings - ou possivelmente pela viúva aristocrática Lady Bridgerton, Lucy não estava certa - estava vestida com a mais deliciosa seda verde, indo ao baile mais glamoroso que tivesse podido imaginar em sua vida. E estava dançando com o homem que estava muito certa, amaria até o fim de seus dias.”
“Lucy levantou o olhar. Para ele. Para seus olhos. Eles nunca se separaram de seu rosto. E inclusive na tremulante luz da noite - das centenas de velas e tochas que iluminavam o salão de baile - podia ver seu brilho. A forma em que a olhava - era quente, possessiva e orgulhosa. Isso a fez estremecer.”
“- Não pode se casar com ele - disse de novo.
- Gregory, que posso...
Agarrou-lhe os braços. Fortemente. E lhe disse: - Amo-a.
Seus lábios se abriram. Ela não podia falar.
- Amo-a - disse outra vez.
Lucy tinha a suspeita - tinha a esperança - mas realmente não se permitiu acreditar nela. Quando finalmente encontrou suas próprias palavras, disse:
- De verdade?
Ele sorriu, e logo riu, e depois descansou sua fronte na sua.”
“- Amo-o - sussurrou ela, porque não o havia dito ainda - Eu também o amo.
Pela primeira vez ia deixar de pensar em todos outros. Não ia tomar o que lhe dava e fazer o melhor com isso. Ia alcançar sua própria felicidade, fazer seu próprio destino. Não ia fazer o que esperavam dela. Ia fazer o que ela queria. Era o momento. (...) Seria difícil. Seria aterrador. Mas valia a pena.”
“A nova Lucy, a atrevida e audaz Lucy, perguntou-lhe:
- E quais são suas intenções?
Os olhos do Gregory se abriram de par em par com a surpresa, logo com aprovação e depois tomou suas mãos entre as suas. Ela sabia o que ele estava fazendo antes de vê-lo com seus próprios olhos. Suas mãos pareciam deslizar-se ao longo de seu corpo enquanto descia... Até que fincou um joelho, olhando-a como se não houvesse uma mulher mais formosa em toda a criação.
- Lady Lucinda Abernathy - disse, sua voz era fervente e segura-. Me concederia a grande honra de converter-se em minha esposa?
Ela tentou falar. Tentou assentir com a cabeça.
- Case-se comigo, Lucy - disse-. Case-se comigo.”
“Não podia permitir que ela se casasse com Lorde Haselby. Não podia. Se havia uma coisa que sabia em seu coração, era que ele e Lucinda Abernathy estavam destinados ser marido e mulher. O seu era o rosto que se supunha olharia fixamente sobre os ovos, o toucinho, os salmões defumado, o bacalhau e as torradas todas as manhãs.”
” Seus olhos brilharam quando se encontraram com os dele. Na semiobscuridade da noite, eles brilhavam escuros, de um cinza escuro, e dolorosamente triste. Podia imaginar ao mundo inteiro ali, no mais profundo de seu olhar. Tudo o que precisava saber, tudo o que poderia precisar conhecer na vida - estava ali, dentro dela.”
“- Amo-a - disse. Porque se continuasse dizendo, possivelmente seria suficiente. Possivelmente as palavras encheriam o quarto, rodeariam-na e serpenteariam debaixo de sua pele. Possivelmente compreenderia que finalmente havia certas coisas a que não podia negar-se.
- Pertencemo-nos - disse ele-. Para a eternidade.”
“Nunca amaria a outra mulher de novo. Nunca poderia amar a outra mulher de novo. Não depois disto. Não enquanto Lucy caminhasse na mesma terra. Não poderia haver ninguém mais. Era aterrador, esse precipício. Aterrador, e estremecedor, e... Saltou.”
“A noite parecia dançar, faiscando e formigando, como se o próprio ar entendesse que nada voltaria a ser o mesmo. O amanhecer estava esperando do outro lado do horizonte, e as estrelas já estavam começando a parecer menos luminosas no céu. Se ele pudesse deter o tempo, o teria feito. Nunca tinha experimentado nem um só momento que fora tão mágico, tão.... completo. Tudo estava ali; tudo o que era bom, honesto e verdadeiro. E finalmente entendeu a diferença entre a felicidade e o contentamento, e quão afortunado e bendito era ao senti-los a ambos, em quantidades tão impressionantes. Era Lucy. Completava-o. Fazia que sua vida fosse tudo o que tinha conhecido e tudo o que podia ser algum dia. Este era seu sonho. Estava fazendo-se realidade, ao redor dele, ali em seus braços.”
“- Jurei com todo meu coração protegê-la - disse ele, sua voz era apaixonada e feroz, e possivelmente um pouco reveladora. Porque compreendeu que hoje, era o dia no qual se convertera em um verdadeiro homem. Depois de vinte e seis anos de uma existência amigável, e, sim, sem objetivo, tinha encontrado finalmente seu propósito. Finalmente sabia para que tinha nascido.”
“- Não faça nada idiota - disse em voz suave.
- Nada idiota - lhe prometeu Gregory-. Só o necessário.”
“- Não - sussurrou ela- Por favor não faça isto. Por favor não me faça arrepender. Por favor não me faça desejar, desejar e me perguntar nada.
Pôs os braços contra seu peito, como se possivelmente... possivelmente se pudesse apertar-se fortemente conseguiria ficar de reverso. E então não teria que ver, não teria que escutar. Simplesmente poderia estar sozinha, e...
- Lucy...
- Não - disse ela com mais força desta vez. Não. Não me faça acreditar no amor.”
“- Amo-a -disse ele outra vez-. Não há nada neste mundo ou no seguinte, que me faça deixar de amá-la. (...)
Com você... é diferente, Lucy. É profundo... é... é... esforçou-se por procurar as palavras, mas não havia nenhuma. Simplesmente, não existiam palavras para explicar o que sentia por ela. - Sou eu - disse ele finalmente, espantado por suas palavras pouco elegantes-. Sem ti, eu... eu sou...
- Gregory - sussurrou ela-. Não tem que...
- Sou nada - a interrompeu, porque não ia permitir que lhe dissesse que não tinha que explicar-se-. Sem você, sou nada.
Ela sorriu. Era um sorriso triste, mas era real, e se sentia como se tivesse esperado anos por esse sorriso.
- Isso não é verdade - disse ela-. Sabe que isso não é certo.
Ele negou com a cabeça.
- Possivelmente é um exagero, mas isso é tudo. Faz-me ser melhor, Lucy. Faz-me desejar, esperar, e aspirar. Faz-me querer fazer coisas.
As lágrimas começaram a deslizar por suas faces. Com as pontas de seus polegares, ele as afastou.
- É a melhor pessoa que conheço - disse ele-. O ser humano mais honorável que conheci em minha vida. Faz-me rir. Faz-me pensar. E eu... - respirou profundamente-. Amo-a.
E de novo.
- Amo-a.
E de novo.
- Amo-a. - Meneou a cabeça desamparadamente-. Não sei como mais posso dizê-lo.”
“O sangue do Gregory começou a correr mais devagar em suas veias. Tentaria - Deus Santo, tentaria com tudo o que tinha o assegurar-se que ambos saíssem vivos e ilesos disto, mas se tinha que escolher -se só um deles poderia sair pela porta... Seria Lucy. Isto, compreendeu, era amor. Era o sentido da retidão, sim. E também era a paixão, e o maravilhoso conhecimento de que poderia despertar alegremente ao lado dela pelo resto de sua vida. Mas era algo mais que tudo isso. Era este sentimento, este conhecimento, esta certeza de que daria sua vida por ela. Não havia interrogantes. Não havia nenhuma dúvida.”
“Já não podia suportar estar separado dela, nem sequer uns centímetros. Seus dedos se entrecruzaram, e desceu o olhar para ela. Seus olhos brilhavam com amor, e Gregory tinha o mais esmagador e absurdo desejo de rir. Simplesmente porque podia. Simplesmente porque a amava. Notou que seus lábios estavam apertados também. Ao redor dos cantos, afogando-se com sua própria risada. E ali, diante do grupo mais ímpar de testemunhas, tomou em seus braços e a beijou com cada última gota de sua alma desesperadamente romântica.”