PorEssasPáginas 27/12/2013
Resenha O Jantar - Por Essas Páginas
O Jantar fala sobre um casal holandês que foi jantar com um outro casal em um restaurante daqueles muito elegantes. Ambos os casais são ricos, mas o outro casal é extremamente bem de vida, tanto que o cara é um político, pré-candidato a primeiro ministro do país. Nós começamos o livro sem saber muito bem onde estamos pisando, apenas nos orientando pela narração incrivelmente sarcástica e quase hilária de Paul, um dos personagens. Ele fala sobre tudo, desde as roupas que estão usando, a preparação para o jantar (fala muito sobre a indecisão e incoerência da barba – homens vão se identificar completamente aqui, meu marido riu alto lendo essa parte), sobre o irmão e sua pretensão e arrogância, e então há vários e vários capítulos sobre o jantar propriamente dito, a comida, o lugar, o dedinho do gerente que fica explicando cada prato (e Paul é novamente hilário reclamando/narrando sobre isso).
Apesar do autor passar muito tempo apenas nessa, digamos, “enrolação”, esse papo longo sobre comida e tudo mais, não achei nada cansativo esse início. Muito pelo contrário, foi divertidíssimo. Várias vezes me identifiquei com o sarcasmo e a irritação do narrador. É uma narração crua e tão direta, tão “sincera” – e aqui há uma certa ironia na palavra – e revoltada, que você só consegue rir. Mas prestem atenção aqui nessa parte, a identificação que sentimos com o narrador. Vou falar mais sobre isso adiante. Guardem a informação.
O livro é dividido em pratos: aperitivo, entrada, prato principal, sobremesa etc. Cada parte é dividida em vários capítulos, geralmente curtos, que fazem você ter vontade de avançar mais e mais no livro. Por um bom tempo fui lendo todo esse papo sobre o jantar, vinhos e comida, apenas me divertindo, mas ao mesmo tempo me perguntando aonde raios esse livro queria chegar. E é aí que o negócio esquenta de verdade.
Quando o livro realmente mostra a que veio, já estamos quase lá no prato principal e você, leitor, que já fora conquistado nas páginas anteriores pela narração sensacional e divertidíssima, é arrebatado de vez. Quando você finalmente percebe para quê veio o livro, sério, seu queixo cai até o chão. É brutal. Você perde o chão. Lembram daquilo que eu falei lá em cima, sobre rolar uma identificação? Você começa a ficar com medo dessa identificação que rolou antes, começa a se encolher e ficar seriamente envergonhado por ter achado que as coisas ditas ali eram a sua cara. Estou sendo bem sincera, foi exatamente essa a sensação que me passou. Perturbador. Dessa parte para o final, o livro é simplesmente perturbador. E incrível.
Você descobre que os casais estão ali porque compartilham um segredo terrível, horroroso. E aí a questão é: até onde eles são capazes de chegar para proteger as pessoas que amam? Ética, paternidade, casamento, sociedade, tudo isso é discutido de maneira madura em um clima de tensão que só aumenta a cada página virada. E você não consegue mais parar de virá-las, está louco para descobrir o final, descobrir até onde eles vão chegar. Enebriante, viciante, sensacional. O livro é um tapa na cara, daqueles que você toma, dói e ainda assim quer mais.
Sei que essa resenha ficou nebulosa, mas não posso falar demais aqui, porque parece que tudo é spoiler nesse livro. Ele é o tipo de obra que só lendo para saber. Meu conselho: simplesmente leiam. É um livro imperdível, um suspense sutil, elegante, irônico e refinado, perturbador e viciante. Vocês precisam ler O Jantar. Precisam. Larguem o que estiverem fazendo aí e corram para ler. Só assim vão entender o que estou sentindo. E como eu preciso compartilhar essa leitura. Leiam, leiam, leiam!
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