Rodrigo1001 26/05/2019
Jantar indigesto... (Sem Spoilers)
Eu geralmente gosto de livros que exploram dilemas morais e que se apoiam em enredos psicológicos. Logo, quando puxei "O Jantar" da prateleira da livraria, me pareceu um bom livro para preencher o espaço entre duas obras pesadas, entre leituras densas, depois das quais só se anseia por uma leitura leve, descompromissada e depurativa.
Como um pequeno resumo para que você não fique tão perdido, posso dizer que a trama mostra o encontro de dois casais em um restaurante em Amsterdã. Todo o enredo se desenrola durante esse jantar. É um livro que retrata uma única noite, com um número reduzido de personagens.
De início, o sentimento que prevalece é a confusão. Uma série de informações e flashbacks são apresentados paralelamente ao encontro dos casais no restaurante. Você não entende muito bem o porquê de aquilo estar ali, o que invariavelmente dispara a curiosidade e o estranhamento. E enquanto a soma de confusão e estranhamento pode desestimular a maioria dos leitores, no meu caso, macaco velho em livros do gênero, a combinação me inflama mais do que me esmorece.
Segui firme.
O livro segue ganhando corpo e você logo percebe que o todo o clímax ficará para o desfecho. E é justamente aqui que mora o perigo: há autores que propositalmente se utilizam desse artifício para prender o leitor. Afinal, atiçar a curiosidade é um meio comprovadamente eficaz de aumentar o interesse e a ansiedade. O problema é quando esse clímax se transforma em um anticlímax. Nesse caso, o leitor fecha o livro se sentindo enganado, como se o tempo empregado na leitura não tivesse valido a pena.
E esse foi, em parte, o sentimento que tive no fim.
Eu explico!
O livro não é de todo ruim. A tensão vem em uma crescente e a trama é satisfatoriamente bem costurada. À medida em que os personagens são apresentados, você começa a entender a razão dos flashbacks que citei ali em cima e tudo se encaixa. Isso, porém, não é o bastante. O livro é pura literatura de banheiro. Não é memorável, marcante ou autêntico. Há outros livros na mesma linha desse (vide Objetos Cortantes de Gillian Flynn), mas bem mais densos.
Adiantando a leitura, o segredo que o livro esconde nem é tão segredo assim. O ouro é entregue em doses homeopáticas, você vai entendo o que está ali de modo que, no fim, a surpresa já não é surpresa alguma. Escrita inteligente e conceito interessante, mas nenhum personagem que a gente possa simpatizar e nenhum gancho para nos salvar do naufrágio.
Então, diante disso, por que dei 2,5 estrelas?
Porque embora essa receita de bolo já tenha sido reproduzida diversas vezes, a escrita do autor é envolvente, os capítulos são curtinhos, ágeis, e o desfecho é obscuro, sombrio e relativamente redondo. O anticlímax ocorre pelo fato do autor já ter perdido o leitor em páginas anteriores, quando ele se toca do que está acontecendo. Diante disso, você fecha o livro com um *Meh...* meio muxoxo, meio medíocre.
Ideia interessante, desenvolvimento pobre. Esse é o quadro final. Recomendado para quem curte thillers psicológicos sem muita densidade.
Leva, então, 2,5 estrelas de 5.
PS: O livro foi adaptado ao cinema em 2017 tendo Richard Gere, Laura Linney e Steve Coogan no elenco. Talvez valha mais a pena do que o livro.