Acad. Literária 01/09/2015
RESENHA - Ex-Heróis
Resenha publicada originalmente no blog Academia Literária DF
Super-Heróis.
Stealth. Gorgon. Regenerator. Cerberus. Zzzap. Might Dragon.
Eles eram heróis que usavam seus poderes sobre-humanos para fazer de Los Angeles uma cidade melhor e mais segura.
Então, veio o apocalipse.
Uma doença mortal se espalhou rapidamente pelo mundo. Bilhões de pessoas morreram. Os heróis não foram capazes de deter o vírus. Mas ao invés de morrerem, as pessoas se levantavam e atacavam os vivos. Hordas de infectados marchavam, promovendo destruição e morte, levando a civilização à ruína.
Um ano depois, Might Dragon e outros heróis construíram um refúgio para os sobreviventes. O Monte, como foi apelidado, era um estúdio de cinema que foi transformado em uma fortaleza e serve de abrigo para os refugiados. Assustados e traumatizados com todas as perdas sofridas na guerra contra os ex’s, os heróis combatem os vorazes e infindáveis exércitos de ex-humanos nos portões, lideram equipes para procurar suprimentos e lutam para serem verdadeiros símbolos de força e esperança.
No entanto, perto dali, outro grupo cresce e ameaça a já fraca estabilidade do refúgio criado pelos heróis. Forças poderosas ocultam-se nas ruínas da cidade, apenas esperando pelo momento certo para atacar, liderados por um inimigo com a habilidade mais aterrorizante de todas...
O que o Superman, Batman, Homem de Ferro, Magneto e companhia fariam ante a ameaça de um vírus altamente contagioso que transforma pessoas em zumbis? Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando pus as mãos em Ex-Heróis. O livro conta a história de um grupo de heróis liderados pela misteriosa Stealth e pelo altruísta St. George (antigamente Might Dragon), que junto a outros heróis tentam sobreviver em uma fortaleza chamada “o Monte”. Após uma saída de exploração, um grupo é emboscado pelos Seventeens, uma ex-gangue de arruaceiros que haviam sobrevivido ao apocalipse e criado sua própria versão do Monte em outro ponto da cidade. Uma guerra entre as duas facções estava para eclodir e no meio deles estavam os mortos, ávidos por uma chance de invadir os territórios dominados pelos humanos.
O livro é fantástico. Confesso que senti um pouco de receio ao começar a ler, pois o sucesso de The Walking Dead tem sido responsável por uma avalanche de obras com a temática zumbis, grande parte das quais não passam de decepcionantes “mais do mesmo”. Felizmente esse não é o caso de Ex-Heróis. Para começo de conversa temos os Super-Heróis, os protagonistas da trama. Cada qual com o seu superpoder e seu histórico de batalhas contra as hordas de ex’s. E por falar em zumbis, na obra de Peter Clines, os mortos que andam são chamados de ex’s (ou ex-humanos). Essa é uma característica curiosa da obra. Muita coisa tem “ex”: ex-humanos, ex-heróis, ex-vírus... etc. Ninguém usa o termo zumbi para se referir aos mortos que andam. Semelhante ao que acontece em The Walking Dead, onde os zumbis são chamados de “errantes” (“Walkers”, em inglês). O próprio vírus zumbi é diferente do “comum”. Sem spoilers, mas foi surpreendente a abordagem usada para explicar as peculiaridades do vírus. Outra coisa muito curiosa e divertida do livro é o uso de gírias e palavrões. Estou um pouco acostumado a ver um certo tipo de comedimento na hora de traduzir certas expressões e xingamentos para o português e tiro o chapéu para o pessoal de tradução que não apenas traduziram as palavras, como também as adaptaram para a realidade brasileira.
Os heróis são muito, mas muito legais e alguns fogem um pouco dos estereótipos que encontramos por aí. Não vou dar muitos detalhes, mas imaginem um herói que é cadeirante (logo, tem dificuldade de locomoção), mas que quando ativa seus poderes pode voar em Mach 5 (cinco vezes a velocidade do som). Cada um deles desempenha um papel importante dentro do universo criado pelo autor e a cada capítulo de fashback podemos conhecer um pouco mais sobre a extensão de seus poderes. E por falar em superpoderes, alguns de vocês, leitores, já devem estar se perguntando: o que acontece quando um herói vira um ex?
Claro que nem tudo é “tiro, porrada é bomba”. Nem tudo é sair por aí soltando raio pelos olhos ou quebrando ossos com superforça. O livro explora muitos aspectos profundos da raça humana, como sofrimento e esperança. E explora também o lado humano dos heróis, pois para as pessoas normais eles são mais que isso. São ícones. Às vezes, deuses. As pessoas veem neles a esperança de que tudo volte ao normal, outros já os enxergam como ditadores, opressores que usam seus poderes para subjugar os sobreviventes. Algo que é pouco explorado na obra (creio que o autor falará disso nos próximos volumes) é a respeito da origem dos poderes de cada herói. Apenas o poder de um deles é revelado de onde veio, mas ainda assim, é muito vago.
Não posso esquecer de mencionar aqui as referências. São toneladas de menções que o autor joga na nossa cara no decorrer da trama. Filmes, quadrinhos, seriados... tudo ali, só esperando alguém reconhecer e dizer: “Eu entendi a referência”.
Outro ponto legal de se comentar é referente às disputas que os sobreviventes faziam entre eles para ver quem matava a pessoa mais famosa. Estando em Los Angeles, a cidade dos sonhos, que abriga Hollywood e boa parte da indústria cinematográfica dos EUA, as chances de encontrar uma celebridade são altas. Afinal, quem não gostaria de meter uma bala na testa daquele ator/cantor/diretor que você odeia?
A obra é dividida entre o narrador em terceira pessoa e o narrador em primeira pessoa. Os capítulos são separados entre o “Agora”, que são as partes narradas em terceira pessoa que descrevem os acontecimentos do presente; e o “Antes”, que são as partes narradas por um herói em primeira pessoa. Nessas trechos, ficamos sabendo um pouco sobre o passado de cada herói que aparece na trama. Os personagens são bem construídos, mas como se trata de uma obra que foca nos super-heróis, os personagens secundários “normais” quase não tem vez e são pouco explorados pelo autor. A fluidez da narrativa é tranquila, salvo algumas descrições de combates que, mesmo para mim, acostumado a ler histórias fantásticas, ficaram um pouco difíceis de colocar na imaginação. E um mapa. Ficou faltando um mapa. É um tanto difícil imaginar alguns cenários e localizações sem um mapa. Ainda mais para quem nunca viu uma fotografia sequer de estúdios de Hollowood. A narrativa como um todo é bem dinâmica. A ação acontece a quase todo o momento, fazendo o leitor devorar rapidamente as páginas. A revisão é boa, peca algumas vezes em concordância das palavras e erros gramaticais, principalmente na parte final do livro, mas nada muito grave. A formatação está ótima. As letras tem um bom espaçamento e as páginas são amareladas. Cada capítulo apresenta o “Agora” ou “Antes” em uma tarja preta. Ao final do livro, temos os agradecimentos do autor. E por fim, a capa chama muita atenção, os letreiros fazem uma alusão ao letreiro de Hollywood.
Ex-Heróis é uma obra que explora com muita genialidade grande parte dos aspectos de histórias de super-heróis e histórias de apocalipse zumbi. Os fãs de ambos os gêneros vão se sentir em casa lendo essa obra e quem sabe até podem trocar figurinhas usando elementos do livro. Recomendo também para os curiosos que desejam saber como seria se seu herói favorito fosse para um mundo dominado pelos mortos que andam. Fãs de cinema vão se divertir bastante encontrando as referências que o autor usa. Inclusive, uma delas eu só fui notar nas últimas páginas. Em sua trama inusitada e empolgante, Ex-Heróis tem tudo o que os fãs de cultura pop gostam e um pouco mais.
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