Pandora 13/04/2023Tenho este livro há anos e toda vez que passava por ele na estante pensava: quero lê-lo, mas não agora. Até que me dei um ultimato.
Steven tem 12 anos, mas é um garoto circunspecto e solitário, que só tem um amigo. Ele vive com a avó, a mãe e um irmão mais novo, mas em sua casa não há alegria. Isto porque, há quase 20 anos seu tio Billy, que na época tinha 11, desapareceu, provável vítima do serial killer Arnold Avery, hoje na prisão.
Steven acha que se encontrar o corpo do tio sua avó finalmente encerrará aquele ciclo, será uma avó amorosa e consequentemente tratará melhor sua mãe, a quem ela despreza e parece até culpar pela perda do filho predileto. Infelizmente, a amargura na vida do garoto não para por aí: na escola ele é tão mediano que os professores o ignoram; alguns até trocam seu nome. Steven só parece chamar a atenção dos “encapuzados”, três garotos que parecem não ter mais nada a fazer além de importuná-lo.
Há o tio Jude, de quem o menino gosta muito e que eu, ingenuamente, pensei que fosse um tio mesmo, mas era o namorado da mãe. Um dos que frequentaram a casa. Ele é bacana com os garotos e foi quem deu a Steven uma pá quando o menino lhe disse que queria plantar uma horta nos fundos da casa. Não tinha essa intenção de verdade, mas Jude não ligou. Assim, passou a cavar todos os dias em busca do corpo de Billy, em sua inocência de menino, o corpo é o que trará harmonia à família e chamará a atenção das pessoas para o feito extraordinário daquele menino tão comum. Ele.
Um dia, cansado das tentativas infrutíferas de chegar ao corpo sem pistas, Steven decide escrever uma carta ao possível assassino e a partir daí inicia-se um interessante - e perigoso - jogo psicológico entre os dois.
A escrita de Bauer é boa e clara, mas a narrativa é um pouco lenta. A escritora se detém uns bons capítulos mostrando a rotina de Steven, sua personalidade, a relação com o melhor amigo, a perseguição do grupo de garotos maus da escola (sempre tem, né?), a tensão entre a mãe e a avó e a motivação pela qual ele quer descobrir onde o tio está enterrado. Em certos momentos é interessante, noutros não; em determinado momento a autora insere um personagem totalmente dispensável e ocupa dez páginas com ele.
Acho positivos alguns aspectos mostrados nesta história: a solidão de Steven, sua insegurança, a necessidade de realizar um grande feito e unir a família, a falta de afeto, a ruptura de uma família após uma tragédia. Apesar da presença de um assassino serial de crianças na trama, este livro é um drama. Um drama que eu achei muito bom até que um acontecimento que deveria tornar a narrativa ainda melhor foi perdendo a força, terminando numa resolução muito morna.
Por isso, considero uma leitura mediana. Pelo menos tirei a cisma com o livro que estava parado na estante.
“Ele era melhor!
E agora sua avó perceberia isso, então tudo mudaria. Ela deixaria de ficar parada na janela, esperando a impossível vinda de um garoto para casa; passaria a prestar atenção a ele e a Davey, e não apenas daquela forma desprezível, rancorosa, mas da maneira que uma avó deveria fazer, com amor, segredinhos e uns trocados para comprar bala.
E se a avó amasse a ele e a Davey, talvez ela e sua mãe ficassem mais amáveis uma com a outra, e se isso acontecesse, todos seriam mais felizes, seriam uma família normal e… Bem… Tudo apenas ficaria… melhor.” - pág. 31
Nota: Por O túmulo sob as colinas Belinda Bauer recebeu o prêmio Gold Dagger Award, da Crime Writer’s Association, como o melhor romance policial de 2010.