bela 25/04/2024
O queijo e os vermes
é um trabalho historiográfico que te prende, da vontade de terminar e saber o desfecho da história. diferente de tudo que já li, nesse livro consegui enxergar os cenários e imaginar Menocchio em seu mundo, como se fosse uma ficção mesmo.
Menocchio é uma exceção em sua aldeia, um homem que lê, reflete, reflete mais e chega a conclusões totalmente foras da caixa. um homem solitário, que só quer expor sua opinião a quem estiver disposto a ouvi-lo.
Ginzburg vai destrinchando os documentos a ponto de, surpreendentemente, chegar aos pensamentos do nosso herói, que tem tanto a nos agregar com suas palavras de tolerância religiosa, questionamentos contra a autoridade dos clérigos, etc?
a bíblia não foi realmente escrita por homens? homens que leram, pensaram, estudaram? o que é Deus, se não simplesmente tudo? somos feitos de água, ar, terra e fogo, se somos a imagem e semelhança de Deus, ele também não seria feito desses elementos? é estranho concordar com Menocchio?
enfim, obra incrível. de um trabalho de formiguinha complexo. uma micro-história sensacional. tomo aqui um trecho do capítulo 61 para terminar essa resenha:
?Muitas vezes vimos aflorar, através das profundíssimas diferenças de linguagem, analogias surpreendentes entre as tendências que norteiam a cultura camponesa que tentamos reconstruir e as de setores mais avançados da cultura quinhentista. Explicar essas semelhanças como mera difusão de cima para baixo significa aderir à tese - insustentável - segundo a qual as ideias nascem exclusivamente no âmbito das classes dominantes. Por outro lado, a recusa dessa tese simplista implica uma hipótese muito mais complexa sobre as relações que permeavam, nesse período, as duas culturas: a das classes dominantes e a das
classes subalternas.?