Nicole Siebel 03/02/2015
Nada me deixa mais feliz do que começar a ler um livro sobre o qual não tinha tido nenhuma indicação até então e me surpreender positivamente. Foi o caso de Lado A, Lado B, que li graças à apresentação do livro feita pelo autor em sinopse.
O livro é quase todo narrado em primeira pessoa, por Roberto, o personagem central. Através da visão dele, o leitor conhece Jennifer, uma garota ruiva que se mudou para a casa vizinha à dele, despertando sua curiosidade. Os dois tornam-se amigos, mas não demora para Roberto se apaixonar pela garota e passar muitos tormentos enquanto pensa sobre seus sentimentos e sobre como revelá-los a sua amada.
O relato do personagem segue nessa linha, mostrando os encontros e desencontros desse casal e deixando quem lê ansioso para saber se Roberto conseguirá conquistar Jennifer e se o amor deles resistirá ao tempo.
Quando comecei a ler, parecia que esse livro seria uma história de amor bonita e singela. Logo percebi que ela traria encontros e desencontros, e mais ou menos na metade do livro, comecei a perceber que alguns pequenos indícios dados ao longo do livro convergiam para um desfecho bem diferente do que eu esperava. Assim, não diria que esse é um típico romance romântico.
O resultado foi que, apesar de tê-lo lido em formato digital (que pra mim sempre é mais demorada), essa foi uma leitura super rápida! Li o livro em praticamente uma tarde, e não conseguia mais parar, porque a curiosidade não deixava. Sabe quando você pensa “ta, agora vou ler só mais um capítulo…” e não consegue cumprir a promessa? Foi assim.
A forma como o texto foi organizado foi bem importante para causar esse efeito, pois na primeira metade da narrativa (Lado A), tem-se uma ideia de que a narrativa seguirá para um final até mesmo previsível, porém a partir da segunda metade (Lado B), ocorre uma grande reviravolta.
Só por isso o livro já merece a leitura, porque não tem nada melhor do que ser surpreendido por uma história que parecia seguir um caminho convencional e de repente muda o seu curso!
Mas não foi só isso que me agradou na leitura. A construção dos personagens, em especial do Roberto, foi muito interessante. A narrativa passa por várias fases da vida dele e dá pra acompanhar as mudanças na personalidade do garoto, especialmente no período que conta sua adolescência, no qual não poderia faltar o drama e as preocupações típicos.
"A noite foi um inferno. Além do forte calor do verão, ainda fiquei rolando de um lado para o outro, esperando a hora passar na companhia dos pernilongos que insistiam em me azucrinar. A angústia sugava-me as forças, o sofrimento sugava-me a sanidade e os malditos mosquitos sugavam-me o sangue. Foi mesmo uma noite daquelas. Consegui adormecer com muito custo, quando já eram cinco da manhã." PÁGINA 53.
Como a história é bem contaminada pela visão de Roberto, já que ele é quem a conta, dá pra notar que o personagem tenta abafar seus defeitos, sempre culpando os outros por coisas que não dão certo entre ele e Jennifer. E isso faz parte da composição dele, pois se mostra um detalhe importante para o desenrolar da trama.
Mas, como nem tudo são flores, preciso comentar que encontrei alguns trechos em que a pontuação ou a construção do texto poderiam ter sido mais trabalhadas, para ficarem mais “redondinhos”. Não significa que a escrita do livro esteja ruim, longe disso, mas em alguns pontos a construção dos parágrafos poderia ter sido melhor elaborada com uso de articuladores e pronomes, e em outros considerei algumas vírgulas estranhas. No entanto, não achei nenhum erro de concordância ou ortografia e esses pequenos pontos que poderiam ter sido melhorados não tiram o mérito da leitura.
Algo que me incomodou um pouco, também, foi o uso de diminutivos, especialmente para se referir à Jennifer. Por várias vezes, Roberto se referia à ela como menininha e usava outros diminutivos para descrevê-la, mesmo que ela já fosse adolescente ou adulta e isso me incomodava, por parecer que ele se referia a uma criança, não a garota de quem gostava.
"Simplesmente perfeita, usava um vestidinho rosa indefectível, lindos sapatinhos brancos com desenhos de florezinhas e um lencinho rosa sobre a cabeça com os cabelinhos ainda recém-nascidos. Se fadas existissem, ela seria uma personificação perfeita." PÁGINA 57.
Lado A, Lado B é muito mais do que uma história sobre amor, tempo e consequências das ações que realizamos, é um livro sobre a humanidade, sobre anseios e sobre os limites que devemos ter para conseguir realizar os nossos sonhos. Por tudo isso, vale muito a pena ler essa livro, curtinho, mas que certamente vai te surpreender! Indico para leitores que gostem de histórias de amor que fujam dos clichês e para quem gosta de um pouco de mistério também, afinal, as reviravoltas da história devem agradar.
*Resenha publicada originalmente no Portal 42.
site: http://www.portal42.com.br