O homem sentimental

O homem sentimental Javier Marías




Resenhas - O Homem Sentimental


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Mariana. 16/03/2011

"...nem visto nem vivido, mas anunciado e recordado."
É sempre difícil para mim falar sobre um livro do Javier Marías, porque a impressão mais forte é a de que ele já disse tudo, e da melhor forma. Ao fim da leitura ou mesmo no decorrer dela, ao refletir sobre um pensamento ou comentar com alguém sobre o que li, todas as vezes me vejo recorrendo à leitura das frases ou repetindo as mesmas palavras que ele empregou. Não é diferente com "O Homem Sentimental", que é, aliás, um ótimo livro pra iniciar no universo desse autor, porque tem tudo o que lhe é característico, porém em doses homeopáticas - o que pode cair muito bem, levando em conta que ele é, de regra, profundamente perturbador.

E, de novo, não saberia dizer muito mais, além de que é uma história de amor, que a gente (eu, ao menos) custa a identificar como amor, pelo tanto de pensamento e reflexão que a envolve, mas também porque é contada já como lembrança, que o narrador revive depois de acordar de um sonho. Desse modo, a história acaba por se desenvolver entre os momentos extremos da experiência amorosa: o começo e o fim, ou, usando das palavras do autor, "o amor anunciado" e "o amor recordado".

"... o amor é fundamentado em grande medida em sua antecipação e em sua memória. É o sentimento que requer maiores doses de imaginação, não apenas quando é intuído, quando você o vê chegar, e não só quando quem o experimentou e o perdeu tem necessidade de explicá-lo a si mesmo, mas também enquanto o próprio amor se desenvolve e tem plena vigência. Digamos que é um sentimento que sempre exige algo fictício além do que a realidade lhe proporciona. Dito com outras palavras, o amor sempre tem uma projeção imaginária, por mais tangível e real que o creiamos num momento dado. Está sempre por se consumar, é o reino do que pode ser. Ou do que pôde ser."

Esse pensamento é destrinchado num dos epílogos (que, no caso, são dois), que é, em essência, um ensaio sobre o amor, onde o Marías conseguiu falar sobre, e fechar a história por ele escrita de modo ainda mais brilhante do que já foi na sua criação.
Arsenio Meira 30/08/2013minha estante
Resenha instigante. O "Digamos" é terrível, hein Mari? Quando um escritor evoca esse verbo, ou vem uma sandice qualquer, ou uma pérola, como essa do Javier sobre a sinuosa curva chamada amor: "Digamos que é um sentimento que sempre exige algo fictício além do que a realidade lhe proporciona." E exige mesmo.

Eu vou terminar endoidando com esse Javier. Já não se começo por esse, pelo "Amanhã, na Batalha, pense em mim" ou se releio Coração Tão Branco.




ElisaCazorla 17/12/2020

Será que me enganei?
Eu gosto de Javier Marías. Gosto muito e já li outras obras dele. Escolhi este livro para ler agora no final do ano porque é curto. Não foi uma boa escolha. Resolvi escrever aqui minhas impressões porque encontrei poucas resenhas deste livro e todas muito positivas. Por isso, gostaria de ser uma voz dissonante.
Sobre a narrativa em si, achei chata e se arrastou durante muito tempo até que a 40 páginas no fim as coisas começaram a acontecer.
Tive que vencer muitas páginas sobre óperas sobre o que não entendo patavinas então, talvez, esse seja um livro para entendedores de óperas. Não sei. Isso foi chato, muito chato.
Não gostei do senhor cantor. Que personagem insuportável, egocêntrica, desinteressante!
Pra variar, a personagem feminina, que é o motivo de todo o enredo, é praticamente inexistente, bege, invisível e não fala uma única palavra! Quando ela finalmente diz algo é pela boca de um homem que dá um recado. Fiquei surpresa de ela ter um nome.
Não estou enganada, não! Não gostei mesmo.
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Paulo Sousa 26/02/2019

O homem sentimental, de Javier Marías
Livro lido 4°/Fev//10°/2019
Título: O homem sentimental
Título original: El hombre sentimental
Autor: Javier Marías (ESP)
Tradução: Eduardo Brandão
Editora: Companhia das Letras
Ano de lançamento: 1986
Ano desta edição: 2004
Páginas: 160
Classificação: ??????????
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"E agora, de repente, sem que entre nós se houvesse produzido qualquer contratempo, sem que a subentendida promessa ou invento que íamos sendo houvesse sofrido qualquer desmentido, ou qualquer deterioração, ou sem que qualquer sombra de não-cumprimento a houvesse encoberto, sem que nem mesmo houvéssemos trocado de cidade ou de hotel, eu a via deixar-se tocar por um sujeito de bigode, careca, autoritário e encantador que, como ela, se chama a Manur" (pág 57).
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Qualquer leitor que, sem conhecer o escritor espanhol Javier Marías, visse a lombada de um livro chamado "O homem sentimental", diria estar diante de mais uma historieta de amor, com todos os seus clássicos elementos, utilizados (ou subutilizados) à larga, tanto que o cansaço natural dessa literatura tão manjada vem logo à tona.
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Mas não se pode subjugar a literatura, essa causadora de assombro e enlevo, motivadora de crises e desencontros. E como é bom ser surpreendido, quando um livro, antes julgado pela capa e pelo título, merecidamente nos leva por camadas e semânticas outras, nos tirando da zona de conforto do preconceito literário.
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Foi Javier Marías o causador desse meu comentário, depois de ler seu mais que excelente livro. Nele, o autor parte de uma lembrança real, uma viagem de trem entre Milão e Veneza onde dividiu a cabine com uma mulher silenciosa e introspectiva. A partir dali, é narrado em primeira pessoa uma jornada borrada, entre o sonho e a realidade, de um triângulo amoroso nada convencional, onde, além do personagem que conta a história, um cantor de ópera, figuram também um importante empresário e sua esposa jovem e bela. Arrematado com um quarto personagem, uma espécie de "acompanhante", na verdade um acólito do velho financista.
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Dito assim até que parece uma história de paixão, sedução e traição (será sempre nesta ordem?), mas não é assim que Javier Marías opera. O livro começa com um sonho do narrador (o cantor de óperas). Ele sonhou com aquele dia no trem, que de fato aconteceu quatro anos atrás, sonhou com ele e a mulher, já seduzida, algum tempo depois, em um quarto de hotel e também sonhou com coisas mais recentes de sua vida. Enquanto lentamente sai do sonho para a vigília tenta interpretar tudo o que se passou, como se estivesse fazendo uma análise em tempo real, sendo que sua consciência faz as vezes de analista, apesar de nem sempre confiável.
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É um livro muito bom, excelente na verdade, muito instigante, cheio de vida e reflexão. Frases esmerilhadas com uma maestria calculada mas emotiva, verdades buscadas no profundo da emoções humanas, ainda que desastradas e irrequietas. A música e a forma como a música afeta os homens tem um papel importante na história. O amor, antes de uma coisa boa, é um fardo que homens e mulheres têm de suportar, uma provação pela qual todos têm de passar. Que bela história. Que belo livro!
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