matheusbrnd 06/03/2024
Nostalgia com novas perspectivas
George R. R. Martin é um autor já conhecido por tramas intrincadas, teias de conspirações palacianas, conflitos do coração humano e socos no estômago do leitor desavisado. Isso tudo e mais ainda está incluso nessa incrível coletânea.
São contos nostálgicos, pois incluem plot points, temas, nomes de grandes e pequenas casas, lendas da lore do Mundo de Gelo e Fogo e até personagens já conhecidos da série principal. Apesar disso, essas estórias nos trazem uma perspectiva diferente daquela dos grandes lordes e suas proles principescas, dando ênfase a uma aproximação muito querida pelos fãs: o olhar do homem comum.
Resgatando uma das mais incríveis sequências de "O Festim dos Corvos", na qual Brienne (cujas características espelham às do protagonista Dunk) acompanha o Septão Meribald até a Ilha Quieta e enxerga pelo caminho como vive o populacho mais pobre e afastado das grandes cidades e castelos que os protejam, "O Cavaleiro dos Sete Reinos" tem como protagonista Dunk, o escudeiro de Sor Arlan de Centarbor, um menino tirado das ruas de King's Landing e transformado cavaleiro andante quando seu velho mestre falece.
Dunk, como bom personagem arquetípico, segue a linha do Homem-Comum, alguém sem sangue nobre, de origens modestas e de nobre coração. Se pode pensar que um personagem puramente arquetípico assim é simplista demais, e é justamente aí que entra a genialidade de Martin: seu herói homem-comum alega ter sido nomeado cavaleiro, mas o texto indica que ele nunca de fato foi juramentado.
Eis então, o coração humano em conflito consigo mesmo. Duncan, o Alto não conhece outra vida que não a de pedinte e trombadinha nas sarjetas da cidade e a de um cavaleiro andante. Quê fazer então? As classes mais baixas precisam escolher entre honra ou sobrevivência. Dunk simplesmente escolhe o menor de dois males, prefere omitir a ativamente roubar.
E é justamente sobre esse tipo de tema em que se apoiam as Crônicas de Gelo e Fogo: corações em conflito e injustiças de classe.