spoiler visualizarBianca 22/05/2019
Física, filosofia e história com um excelente professor
Em "Uma Breve História do Tempo", Stephen Hawking explana sobre a física moderna, usando as teorias dela para nos contar sobre a História do Universo, sua estrutura e funcionamento.
Destaca-se a competência de Hawking como professor, visto que ele consegue levar teorias e cálculos muito complexos aos leigos como eu, que muitas vezes têm dificuldades até mesmo com as ideias mais introdutórias da física.
Ele consegue nos mostrar o quanto a compreensão de coisas como a relatividade, as supercordas e o ciclo de vida das estrelas é fascinante. Ele também nos mostra o quanto o fino ajuste entre todos esses elementos foi e é indispensável para a origem e a manutenção da vida.
Hawking também nos traz informações claras sobre como se faz ciência. Citando o próprio livro, "Uma boa teoria se caracteriza por criar uma série de previsões que, a princípio, poderiam ser invalidadas ou refutadas pela observação. Cada vez que observamos novos experimentos coincidirem com as previsões, a teoria sobrevive e nossa confiança nela aumenta; porém, se em algum momento uma nova observação a contradiz, temos de abandonar a teoria ou modificá-la". Ele fala muito claramente que as teorias cosmológicas, tendo em vista suas características, não podem ser provadas, e sua aceitação fica condicionada aos acertos de suas previsões em relação à observação da realidade.
A compreensão de que não há certezas absolutas, mas sim suposições, cálculos e muita observação, deixa aberto o espaço para aquilo que não compreendemos.
A física teórica e a cosmologia inevitavelmente dialogam - e por vezes confrontam - a filosofia e a religião. Hawking encara isso, e se preocupa em incluir informações históricas que nos mostram esses diálogos, os quais, mesmo no meio científico, nunca são feitos só de racionalidade. Ele nos conta a história dos seus trabalhos, a interação com outros cientistas e instituições, e como uma espécie de bônus, ao final do livro, inclui pequenas biografias de alguns dos principais físicos dos últimos séculos.
O contexto histórico trazido por Hawking traz muitos pontos curiosos, sendo um dos que mais me chamou a atenção a aceitação da teoria do Big Bang. Ao passo que a Igreja Católica aceitou o modelo do Big Bang e em 1951 proclamou oficialmente que ele estava de acordo com a Bíblia, Hawking conta que sofreu muita oposição, nas palavras dele, "em parte vinda dos russos, devido à sua crença marxista no determinismo científico, e em parte de pessoas que achavam que toda essa ideia de singularidade era intragável e arruinava a beleza da teoria de Einstein", pois "a ideia de que o tempo teve um início 'cheira a intervenção divina'". Embora seja comum vermos as entidades religiosas sendo colocadas em posição oposta ao progresso da ciência, é curioso ver o peso que as convicções políticas e filosóficas também tem nas discussões científicas, embora isso não seja tão trazido a público quanto quando existem grupos religiosos envolvidos. Ao fim, como ele mesmo conclui, o fato de não se poder "discutir com um teorema matemático" fez com seu trabalho fosse amplamente aceito.
Hawking é famoso por seu ateísmo e por declarações muitas vezes enfáticas nesse sentido. Contudo, neste livro, ele não tem uma postura no sentido de negar a possibilidade de existência de Deus, pelo contrário; não parece coerente para um cientista colocar limites àquilo que desconhece. Ele se mantém em busca da famosa "teoria de tudo", que comporte toda a complexidade do nosso universo, tornando-nos conscientes das leis que nos governam, mas ao mesmo tempo percebe que a física não necessariamente abarca toda a complexidade da existência humana. Como ele mesmo diz ao fim do livro, "Mesmo que haja uma única teoria unificada possível, ela não passa de um conjunto de regras e equações. Que coisa é essa que insufla vida às equações e cria um universo para que elas o descrevam? A abordagem científica habitual de construir um modelo matemático não dá conta de responder por que deve haver um universo para ser descrito. Por que o universo tem todo esse trabalho de existir? A teoria unificada é tão inescapável que suscita sua própria existência? Ou ela precisa de um criador? Se for o caso, ele exerce algum outro efeito no universo? E quem o criou? ".
O principal ponto positivo da obra, a meu ver, é o quanto todo esse conhecimento trazido a nós leigos é capaz de nos fascinar, envolver e fazer refletir. Recomendo a leitura.