PorEssasPáginas 03/04/2014
Resenha: A Quase Honrosa Liga de Piratas - O Tesouro da Encantadora - Por Essas Páginas
Eu já disse pra vocês o quanto eu AMO piratas, certo? Pois bem, é quando aparece um e-mail maravilhoso da Editora Seguinte e da Companhia das Letras oferecendo a prova de um livro fofíssimo de piratas para os blogs. É claro que eu logo me candidatei para a tarefa e, como os ventos dos sete mares estavam a meu favor, fui sorteada e recebi essa prova linda e caprichada da editora. Sério, gente, nem parece prova, é quase uma edição econômica do livro. Fiquei impressionada. A Quase Honrosa Liga de Piratas – O tesouro da Encantadora é um romance infanto-juvenil cheio de fantasia e aventura, que certamente vai envolvê-lo em uma leitura mágica e “piratesca”, como define a protagonista.
Hilary é filha de um grande almirante da marinha do reino de Augusta e, como tal, deve se dedicar a ser uma dama da sociedade e ser educada em uma escola de meninas. A menina, no entanto, não quer nada disso: seu sonho é ser uma pirata e sua melhor amiga é uma gárgula mágica falante. Ok, só essa premissa já é encantadora, certo? Hilary me conquistou aí, com seu sonho inabalável e sua determinação de chegar onde queria. E ela realmente faz de tudo ao seu alcance para isso, mesmo após ser rejeitada pela Quase Honrosa Liga de Piratas (eles não aceitavam mulheres, humpt!) mas sempre guiada por um instinto inocente, educado e gentil. Aliás, nesse livro, todos os personagens e todo o clima são bem inocentes. A primeira coisa que você tem que colocar na sua cabeça ao lê-lo é que ele é um livro infantil; ou você lê com esses olhos, ou não lê. Há também a alternativa, claro, de você ler para uma criança – e tenho certeza que uma criança apreciará ainda mais essa obra.
O início do livro é um pouco lento, mas necessário; é quando a autora situa o leitor na história e em seu universo. É quando conhecemos os principais personagens e somos apresentados ao reino de Augusta, um reino tradicional, onde existe muita aventura no mar – de um lado a Marinha, do outro, os piratas. Nesse reino, há magia, mas pouca; há essa história da Encantadora, que criou a magia e depois a confiscou e desapareceu, e só sobraram poucos objetos mágicos, como moedas e até mesmo talheres e escovas de dentes. E é claro que os piratas estão atrás desses objetos, ou melhor, “tesouros”. Mas não somente os piratas.
“- Esse trecho é sobre as ferramentas de que um pirata precisa para a caça ao tesouro – ela contou à gárgula numa noite sombria. – Vejamos… Você precisa de um mapa, é claro, e uma bússula para orientar seu caminho. E uma vez encontrado o tesouro, vai precisar de uma pá para desenterrá-lo.” Página 130.
Há uma grande parte do livro em que Hilary ainda não é uma pirata e acaba parando na escola da Senhorita Pimm e, apesar de saber que esse início era totalmente necessário, eu fiquei o tempo inteiro ansiosa pelo momento em que realmente entraríamos na parte da pirataria – e quando isso acontece é quando o livro deslancha. Todos os personagens são encantadores; alguns mais divertidos que outros, mas cada um escrito no tom certo. A minha personagem preferida, no entanto, foi a gárgula: ela faz você sorrir quase por todo o livro e é dona das melhores tiradas, as mais engraçadas, as mais divertidas. Mas devo dizer que a Senhorita Greyson, a governanta de Hilary, também é uma personagem interessante e super bem construída.
Esse livro é bem interessante pois é uma obra onde as mulheres têm muita força e presença, e mesmo assim, não é um livro feminino; ele pode ser lido e apreciado por meninos e meninas (de várias idades, que fique bem claro). No entanto, a obra mostra uma força feminina em vários sentidos, o que foi muito gratificante de ler. Há Hilary, com sua determinação e seu sonho, uma menina diferente das demais, e ainda assim, uma menina, que erra e acerta; há também a Senhorita Greyson, uma mulher que aparentemente não passa de uma governanta bastante feminina, mas que na verdade é uma mulher também determinada, cheia de opiniões próprias e segredos. Gostei muito da Claire, amiga de Hilary na escola, que representa essencialmente a lealdade e ao mesmo tempo também tem seus próprios sonhos. Até a Senhorita Pimm é muito mais do que se imagina. O livro passa fácil no Teste de Bechdel. É claro que existem ótimos personagens masculinos também, como Jasper e Charlie, e o livro é muito equilibrado quanto a isso, mas para mim, que sempre me irrito com machismo – algo quase inerente em alguns livros, especialmente de fantasia -, ter personagens femininas tão diferentes e incríveis (e não só aquela dualidade de mocinha apaixonada/heroína chuta-bundas) me deixou muito feliz e satisfeita.
Mas sim, há romance, mas nada que envolva Hilary (afinal, ela é uma ainda menina). Gostei dessa pequena, divertida e improvável história de amor que se desenrolou no livro. Foi bastante doce como ela foi criada e levada adiante na história.
“Ela se sentiu um pouco culpada – Bigode Laranja não gostava de sujeira, e agora estava desacordado sobre uma poça de suco de beterraba – mas ele queria civilizá-la, e ainda destruíra sua barba no processo. Esse tipo de comportamento simplesmente não podia ser tolerado.” Página 236
Outra coisa que é muito divertida no livro é que a cada final de capítulo há cartas de vários personagens, recortes de jornais e até guias da Quase Honrosa Liga de Piratas: como encontrar um tesouro, como usá-lo, como proceder ao ser capturado, tudo num tom inocente e divertido. Você acaba se acostumando com esses finais de capítulos e passa a esperar por eles, pois sempre são garantia de diversão. Já dá pra perceber aqui que a edição da Seguinte é caprichada, com ilustrações em todos os capítulos e desenhos diferentes para cada carta, cada tipo de letra dos personagens e para os recortes e guias piratescos. Se a prova estava assim tão linda, fico imaginando o livro como será ainda melhor.
Bem, mas algo que estava implícito – na capa, pelo menos – é que esse livro seria uma série. Sim, mais uma. Já estou me conformando com o fato, sério. Mas o bom é que é um livro que não necessariamente você precisa ler o restante da série se não quiser; não há um final apelativo para uma continuação, nada disso. A história fecha aqui mas deixa a impressão de “novas aventuras”, o que foi interessante e convidativo. Se você procura um livro leve e divertido, com o caráter inocente da infância, A Quase Honrosa Liga de Piratas – O tesouro da Encantadora é muito indicado. Ah, e eu recomendo mesmo que se você for pai/mãe, tia/tio, avô/avó e estiver nos lendo, adquira esse livro para sua criança. Ela vai adorar. E se você é um pequeno leitor (espero que tenhamos pequenos leitores por aqui também, por que não?), leia, porque você vai gostar. De acordo com a Editora Seguinte, o livro tem data de lançamento prevista para o final do mês, dia 31 de março.
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