Leilane 26/12/2014
Um livro que já fala no nome quantas vezes você o lerá: Uma Vez Na Vida
O livro está divido em anos: 2002, 2003, 2004, 2007, 2008, 2010, 2011 e um fatídico “Onze Meses Depois”, provavelmente, 2012. O que nos dá uma história contada no decorrer de 10 anos, mas essa divisão não é nem um pouco linear, ela não se ajusta como se fossem capítulos, o ano de 2002, o mais arrastado de todos, tem quase 80 páginas, já 2008 tem apenas 5 páginas, então não é algo que pareceu ter algum critério, a autora só nos quis deixar presos mais tempo em determinados anos, enlouquecendo com o fato que eles se esbarram toda a hora, mas nunca se conhecem.
Tess é uma pessoa insegura que se acomodou num relacionamento se baseando no que acredita que é melhor para ela, por desconhecer algo melhor, aquilo está bom e pronto, por mais que no meio do caminho tenha desistido de abrir sua loja de roupas vintage, contentando-se com um emprego que lhe dá segurança e um namorado belo e centrado que a incentiva a continuar em sua mesmice. George é um frustrado músico com muito talento, mas facilmente manipulável o que faz com que se renda as pressões sociais da impossibilidade de se ter sucesso com o jazz e a uma mulher ambiciosa que o torna exatamente aquilo que precisa para a sua imagem de mulher de negócios bem sucedida. E é só depois que eles estão afundados demais nessas vidas infelizes que eles se conhecem, almas gêmeas que não podem se completar, mas esse encontro coloca em moção algo que está destinado a ser.
Acho a capa desse livro linda, combinou demais com a história, sempre a alcance da mão, mas nunca realmente se tocando, entretanto, na parte de dentro, um aspecto digno de nota é o fato dos diálogos dos livros terem ficado com a formatação dos livros em inglês e não com o que é mais usual nos em português, ou seja, os diálogos são marcados por aspas em vez de travessões. Fiz um curso recentemente e aprendi que um dos focos na diagramação de um livro é deixar este com o aspecto visual mais cômodo é agradável possível para que o leitor tenha uma leitura com mais fluidez. O problema dessa variação é justamente o costume, claro, revistas e jornais usam o estilo de aspas e eu leio muitos livros em inglês, estou acostumada com os diálogos em aspas para esses tipos de textos, mas acredito que nossos cérebros se condicionam para determinadas coisas e o meu já está condicionado a ler livros em português com diálogos em travessão, por isso ele ficava tentando se ajustar a diferença o tempo todo, o que fez com que eu acabasse fechado o livro mais rápido do que teria feito para uma pausa, pois a leitura me cansava mais rápido. Não sei por que a editora escolheu esse formato, já que os outros livros que já li dela estão com travessão, mas espero que não se torne uma prática, pois gosto muito dos títulos deles.
A narrativa do livro é cansativamente fragmentada até um pouco mais da metade do livro, depois ela flui a ponto do leitor não conseguir largar o livro enquanto não souber que a história convergiu para o que deve ser. Porém, é um sofrimento passar por essa fragmentação, por não haver capítulos, apenas um símbolo que parece uma letra e cursiva para dividir a alteração de narrativa ou de espaço-tempo – já que nem sempre fica num bate volta entre o George e a Tess, às vezes, permanece no mesmo personagem mesmo depois do símbolo –, a história fica arrastada, sem contar que mesmo dentro desses espaços narrativos de cada personagem há mais fragmentação, pois enquanto eles nos contam suas histórias, você percebe que eles vão mudando no tempo-espaço, eles estão num lugar e terminam em outro, e essa cena se passa em semanas por exemplo.
Quando fui apresentada ao livro, fiquei com uma perspectiva alta demais, eu esperava um encontro eletrizante entre os dois, mas o livro, mesmo num assunto que muitas pessoas não acreditam e até consideram fantasioso, é realista demais. Acho que a autora quis representar como a nossa vida funciona, mal prestamos atenção no que estamos fazendo, sempre no piloto automático, mas algumas vezes paramos e fazemos uma reflexão sobre o que está acontecendo e são esses momentos que são dignos de nota – por isso a história é tão fragmentada e só depois que eles se encontram o foco fica apenas no fato de que não podem ficar juntos, então ela começa a parecer mais linear. O problema de tudo isso é que, mesmo com um final muito bom, com uma premissa de história com um excelente potencial, ela acabou sendo, para mim, frustrante, pois depois de sofrer com todas as decisões erradas dos personagens, a tensão da impossibilidade, ela dá uma mera descrição dos fatos no final, nada muito concreto que não dá a sensação da magnitude de um encontro de almas gêmeas.
No geral, a história tem uma mensagem que vale a pena se conhecer para podemos refletir, pois como tudo que é difícil de ter, como uma alma gêmea, você tem de lutar e perseverar para conquistar no final. Recomendo para quem quer uma história diferente, tendo em mente que a história representa mais um drama do cotidiano de muitas pessoas – que tem um final que nem todos conseguem – do que uma história com romance do início ao fim.
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