Eutidemo

Eutidemo Platão




Resenhas - Eutidemo


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Felipe1067 11/12/2022

Ou Da Erística
Um dos chamados diálogos de transição, aqui Platão ironiza a arte dos irmãos Eutidemo e Dionisidoro, a erística.

Aqui Platão lança mão da ironia para criticar o combate de palavras cujo objetivo é apenas fazer o interlocutor entrar em contradição sem que a busca pela verdade guie o debate.
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Igor.Kensuke 06/09/2017

Um retrato da degeneração da recém nascida filosofia grega na fase terminal da sofística. Platão mostra como os jogos de palavras vazios tinham então prestígio, expondo a necessidade de se estabelecer conceitos unívocos bem definidos, a fim de dirimir a confusão mental relativista engendrada pelos sofistas. É particularmente instigante a astúcia virtuosa com que Sócrates, com seu método maiêutico, contorna os sofismas que lhe propõem seus adversários, levando-os a defenderem absurdos cada vez maiores a fim de justificarem as premissas já desde o início insustentáveis, que, assim, se expõem. Fundamentalmente uma crítica da retórica erística, o diálogo contém também belas argumentações em defesa da verdadeira sabedoria como única forma de se alcançar a felicidade, em detrimento dos bens em si, em si mesmo nem bons nem maus.
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André Tadei 12/11/2015

Eutidemo e a dialética
Eutidemo e Dionisodoro; ambos são simplesmente sábios em tudo (271c), que ensinam a virtude, desde que lhes pague um salário. Nisto convém relatar-vos que o tema essencial do diálogo é a educação, pois Críton deseja adquiri-la para lhes ensinar filhos. A princípio, Sócrates lhe recebe sinal demoníaco cujo significado é uma voz negativa e, em lugar de proclamar o que se deve fazer, indica o que não se deve fazer; uma proibição '1'. Alerta essa que lhe calharia na erística – esta é a arte da controvérsia, e tal discussão tem como fim a própria discussão, “a erística degenera em sofística e a interpretação do método erístico dá lugar a juízos desfavoráveis.”'2' Os sofistas erísticos traçam o argumento mais fraco em forte (Apologia, 19b), ademais, não só procuram angariar novos discípulos, que possam pagar pelo ensino que vão receber, como também demonstram, com a erística, uma prática da eficácia desse ensino, que os discípulos, que os acompanham e aplaudem (303a), devem imitar.'3'

A conversa crucial que temos dentro do diálogo de Eutidemo é quando Sócrates conversa com Clínias acerca de felicidade, isto é, a eudaimonia – designado como ‘vida boa, exitosa, um bem viver,'4' objetivo esse no qual todos o querem, pois quem entre os homens não quer ser bem-sucedido? (278e). É claro que a eudaimona está ligada com a aretê, já que esta dirige aquela. Fundindo a aretê com os bens da alma, e não os bens do corpo, é possível a eudaimonia, contanto que estão em harmonia as três virtudes cardeais de Platão, a saber: A temperança, a coragem e a justiça; esta designa a ordem na cidade, pois o que seria sem a polis os gregos?; essa constitui o empenho das ações, sendo assim, todas as ações relacionam-se com a coragem '5'; aquela é a moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos'6'. Em princípio, a sabedoria é eminente a todas, logo, a sabedoria, em toda parte, faz os homens ser bem afortunado (280a). Não confundamos esse saber com a polimatia dos sofistas, pois é nisto que Sócrates sabe o que não sabe, ou seja, é amante da sabedoria, como diria Pitágoras outrora. Por princípio, Sócrates desenvolve a dialética, na qual pretende obter um saber positivo de seus semelhantes, que, todavia, já deve estar, de certo modo, presente na alma. Este processo de aprendizagem, encontrado no Mênon, é como um parto, isto é, uma atualização ou uma lembrança de algo potencialmente sabido, conhecido como reminiscência.'7' Sócrates conclui, recapitulando a questão da sabedoria, que a sabedoria é um bem e a ignorância é um mal; esta nos desviará do caminho da ideia do bem, aquela nos colocará no eidético, como também nos porá em autarquia. Mas para tudo isso é preciso de uma ciência que nela coincidam, ao mesmo tempo, o produzir e o saber usar aquilo que ela produza (289b). Sócrates e Clínias tentam achar a ciências régia, entretanto, esta ciência só será exímia quando não oferecer um bem qualquer, mas o Bem'8', visto que “a posse de algum bem não nos é útil sem a posse do bem”'9'. A solução findaria se Sócrates argumentasse que o “bem e a felicidade como telos da ação humana pressupõe, portanto, para sua realização, uma bem-sucedida busca por saber ou sabedoria; em outras palavras: a filosofia”'10'. Está é a ciência régia que produz o saber e utiliza aquilo tal qual produz, melhor dizendo, a filosofia é um bem maior do que qualquer outro que veio ou possa vir alguma vez para a espécie mortal, oferecido pelos deuses (Timeu, 47a-b).

1 MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo I (A-D). São Paulo: Loyola, p. 662, 2000.
2 MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo II (E-J). São Paulo: Loyola, p. 858, 2001.
3 SANTOS, José Trindade. Para ler Platão: a ontoepistemologia dos diálogos socráticos: tomo I. 2. ed. São Paulo: edições Loyola, p. 63-64, 2012. (Coleção estudos platônicos).
4 LÉXICO de Platão. Organização Christian Shäfer. Tradução Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, p. 125, 2012.
5 COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, p. 57, 67, 1995.
6 COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, p. 46, 1995.
7 LÉXICO de Platão. Organização Christian Shäfer. Tradução Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, p. 284, 2012.
8 GOLDSCHMIDT, Victor. Os diálogos de Platão: Estrutura e método dialético. Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, p. 75, 2002.
9 IDEM.
10 LÉXICO de Platão. Organização Christian Shäfer. Tradução Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, 139, 2012.
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Daniel 27/12/2012

Eutidemo ou Da Erística
Disputa pela disputa. Erística contraposta à busca da verdade e do consenso.

Ironia de Sócrates. Função de protetor de Clínias, alvo dos sofistas.

Os irmãos sofistas no início dizem ser capazes de ensinar a virtude, de fazer os jovens buscar a sabedoria e o conhecimento, mas quando instados a fazê-lo começam uma série de jogos de palavras visando ao embaraço da vítima e ao aplauso da multidão.

Mas Platão deixa claro que esse jogo não funciona se as palavras receberem as devidas qualificações. Quando Sócrates começa a querer esclarecer, começa a querer que o sentido das palavras expressas seja o mesmo para os dois que participam de uma discussão, os irmãos refugam.

É possível chegar a um consenso, a uma comunicação, desde que os dois em um diálogo trabalhem juntos em busca do entendimento.

Ocorre que por trás desse jogo de erística, da refutação de qualquer resposta, da disputa pela disputa, se extrai que a busca da verdade, do consenso, do entendimento é impossível e sem sentido.

A relatividade dos irmãos sofistas, se levada ao extremo, tenta mostrar que a ignorância não existe, que não existe proposições falsas ou erradas, não existe contestação ou refutação possível. Mas essa relatividade extrema é contraditória em sua essência, como nos mostra Sócrates (são argumentos que tombam sobre si mesmos).

Os irmãos sofistas são como Proteu que se nega a revelar a verdadeira forma mudando-a constantemente, a ponto de não ter uma essência.

A busca da arte perfeita. Não é a arte da elaboração de belos discursos, nem a arte do comando militar. Nem a arte política. A arte perfeita: aquela que produz o conhecimento que não é senão ela mesma (contraposição à arte de produzir a lira diferente da arte de tocá-la).

O diálogo caminha em direção a uma confusão total em que as palavras e os argumentos perdem o sentido e se tornam ridículos, um caos argumentativo, sob os aplausos e júbilo da multidão. Tudo muito melancólico pois levado ao extremo não faz nenhum sentido a busca hercúlea do Belo, do Bem, do Bom, do Justo.

Mas mais terrível que isso, é a pessoa que, como Sócrates define "pessoas que ocupam a fornteira entre o filósofo e o político. Pensam que são os mais sábios dos seres humanos." Esses não admitem qualquer contestação ou refutação pois se julgam já detentores da sabedoria. Desse modo, não participam de qualquer discussão.

A lição final é que estamos rodeados por um mar de mediocridade com apenas pequenos pontos de excelência. Mas isso não nos deve impedir de buscá-los.



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