Anderson Tiago 05/12/2014[RESENHA] Mares de Sangue (Nobres Vigaristas #2) - Scott LynchO final do ano se aproxima e começamos a olhar em retrospectiva para as coisas que fizemos durante o ano que se encerra. É nesse período que surgem as boas e velhas listas de melhores do ano. Por causa do site tenho tentado manter uma lista organizada desde cedo para ter menos trabalho na hora de montá-la, porém, devido ao grande número de ótimos lançamentos, tem sido difícil organizar um ranking ideal. No entanto, o primeiro lugar da minha lista pessoal esteve sempre bem definido com As Mentiras de Locke Lamora, do autor Scott Lynch, como dono dessa posição desde o seu lançamento. Isso tudo mudou com a publicação de Mares de Sangue, a própria sequência das aventuras de Locke Lamora e Jean Tannen, os Nobres Vigaristas.
Dois anos após quase terem morrido nas mãos do Rei Cinza em Camorr, Locke e Jean estão de volta aos seus melhores momentos, preparando um golpe tão audacioso que fará todos os anteriores parecerem brincadeira de criança. Eles pretendem roubar a Agulha do Pecado, a casa de apostas da alta sociedade de Tal Verrar, cujo cofre é conhecido por ser inviolável e onde trapacear é punível com a morte. Esse detalhe, no entanto, não parece desanimar os nossos nobres vigaristas, muito pelo contrário.
Os preparativos para o golpe correm exatamente como o planejado pela nossa querida dupla de ladrões, mas fantasmas do passado aparecem para assombrá-lo no momento mais crítico do golpe. Por causa disso, eles são envolvidos na efervescente agitação política de Tal Verrar e tornam-se, por sua vez, parte dos planos do Arconte, uma espécie de líder militar, que pretende esmagar o conselho dos nobres e se tonar o governante absoluto do reino. Forçados a trabalhar para o Arconte, Locke e Jean terão que usar de toda a sua lábia e capacidade de interpretação para se passarem por uma coisa que nem o treinamento do Padre Correntes os preparou para fingir ser: piratas!
"Sabe de uma coisa? Eu apostaria que, contando as pessoas que estão nos seguindo e as que estão nos caçando, nós viramos o principal meio de emprego desta cidade. Toda a economia de Tal Verrar está baseada agora em foder com a gente."
Mares de Sangue segue o mesmo padrão narrativo do seu antecessor com alguns capítulos tratando do passado, no caso, quando os nobres vigaristas chegaram a Tal Verrar fugidos de Camorr após o fim dos problemas com o Rei Cinza. Nesses capítulos, vemos como a dupla lidou com as enormes perdas que sofreram e como isso uniu, se é que isso é possível, mais ainda a dupla formada por Locke Lamora e Jean Tannen. A interação da dupla é, inclusive, um dos pontos altos dos livros. Os diálogos entre Locke e Jean são sempre divertidos e a conexão com os personagens é tão forte que entendemos não apenas suas palavras como também os seus silêncios.
"– Aposto que eu teria estragado as coisas mesmo assim. Mas... não consigo imaginar aqueles pobres coitados prendendo a presa com arpéus, saltando por cima das amuradas, espadas na mão, gritando “Seus gatos! Entreguem todos os seus gatos malditos!”.
Scott Lynch escreveu um dos livros de fantasia mais engraçados que já li em toda a minha vida. Durante a leitura, era muito comum eu abrir vários sorrisos ou mesmo dar gargalhadas com algumas das situações descritas pelo autor. Quem já leu As Mentiras de Locke Lamora entende do que estou falando, mas acredite, em Mares de Sangue o autor realmente se superou. Algo que pode incomodar alguns leitores (a mim não incomodou) é a “boca suja” do autor, mas isso é algo que combina muito com a atmosfera do livro e, caso incomode, deve ser relevado em nome do bem maior que é o prazer de uma leitura como essa.
Um grande diferencial entre Mares de Sangue e o seu antecessor é a presença de personagens femininas em papéis importantes dentro da trama, principalmente a capitã Zamira Drakasha e a Tenente Ezri Delmastro, que, além da sua força, também traz para a obra um elemento em falta no primeiro volume. O que é esse elemento é algo que deixo para vocês descobrirem.
"– Isso não entra na minha cabeça – sussurrou Jean. – Porra, seu filho da puta, como pôde fazer isso? Quero abraçar você. E quero arrancar sua cabeça. As duas coisas ao mesmo tempo.
– Ah. Pelo que sei, esta é a definição de “família”."
Mares de Sangue é um daqueles livros cuja leitura voa, um daqueles casos em que se você tem compromisso marcado é melhor nem começar a ler porque, muito provavelmente, você vai chegar atrasado. E já que comecei o texto falando sobre listas, o final da história também estaria no topo da minha lista de “finais que te deixam com vontade de voar para a leitura do próximo volume imediatamente”. Scott Lynch é realmente um dos grandes nomes da fantasia atual.
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