@APassional 04/08/2014
O Resgate * Resenha por: Elis Culceag * Arquivo Passional
O Resgate é uma história sobre um amor de mãe capaz de transpor barreiras quase impossíveis; sobre o amor ao próximo, presente nos atos de solidariedade e empatia; sobre o amor dos amigos verdadeiros, que nos acompanham nos bons e maus momentos; e sobre o amor romântico, do tipo que aquece o corpo, o coração e a alma, cura velhas feridas e transforma os momentos simples da vida em tesouros preciosos.
Na relação entre Denise e o seu filho Kyle, percebi um amor maternal forte e comovente, manifesto não somente em palavras, mas principalmente em ações. Kyle tem cinco anos mas quase não fala, ele tem dificuldade de interpretar o que ouve e de se expressar através da linguagem. O maior sonho de Denise é que seu filho um dia possa se comunicar com ela e com as outras crianças, fazer amigos e ser feliz. Todos os dias, Denise treina exercícios de linguagem com Kyle durante horas. É um trabalho lento e que exige paciência, mas felizmente vem dando resultados positivos.
Eles vivem em Edenton, na Carolina do Norte, e os conhecemos bem no meio de uma tempestade terrível, muita água nos recepciona e já mergulhamos fundo nos problemas da Denise, uma mulher tão sofrida e lutadora, que ficamos torcendo para que depois da tempestade venha a bonança. Mas acontece um acidente na rodovia e, ao recuperar os sentidos, Denise percebe que seu filho abriu a porta do carro e desapareceu, numa área perigosa e cercada pelo pântano. É durante o resgate de Kyle que percebemos o amor ao próximo entrando em ação, tanto na atitude dos bombeiros e voluntários que se mobilizam para ajudar nas buscas pelo menino, quanto na iniciativa da sra.Judy que, mesmo sem conhecer Denise, tem a sensibilidade de ir ao hospital ficar ao lado dessa mãe ferida, sozinha e desesperada.
Taylor McAden é um dos bombeiros voluntários de Edenton, é ele que avista o carro de Denise na estrada após o acidente, e também é o responsável por resgatar Kyle no pântano, depois de várias horas de buscas e aflição. Taylor se torna o herói de Kyle, e também seu primeiro amigo. A maneira carinhosa e espontânea como Taylor trata seu filho, deixa Denise à vontade e confiante em sua presença, e a afinidade entre eles leva os três a fazer várias coisas juntos, como se fossem uma família. Aos poucos, a amizade entre Denise e Taylor transforma-se em amor e eles realmente fazem um aos outro muito felizes.
Mas o tempo passa e Denise percebe que Taylor não consegue falar sobre o passado, nunca faz comentários sobre o futuro deles e não expressa seus sentimentos em palavras. Taylor possui um bloqueio emocional que o impede de se abrir com as pessoas e de assumir relacionamentos duradouros. Ele tem um trauma relacionado à morte do pai e um sentimento de culpa que boicota qualquer felicidade que possa vir a ter. Mas Denise é uma mulher madura, que pensa não somente em si, como também no filho, ela não pode continuar arriscando seus sentimentos e os da criança. Quando uma sucessão de eventos modifica o comportamento de Taylor, só o amor será capaz de resgatá-lo(s).
O Resgate nos propicia um tornado de emoções logo nas primeiras páginas, sentimos pena, angústia, dor, alívio, gratidão... aos poucos a tempestade se acalma, a rotina do dia a dia se apresenta, e a partir daí acompanhamos com mais calma nossos protagonistas, descobrindo o que os move. Na verdade, Denise e Taylor são duas almas bastante solitárias: ela perdeu toda a sua família antes de completar 21 anos e ele vive uma espécie de solidão auto-imposta após a morte trágica do pai. Portanto a história não se trata apenas de um resgate “físico”, mas também de um resgate de almas, de sonhos abandonados, de permitir-se amar e ser amado.
O livro é lindo e me emocionei diversas vezes durante a leitura, quem usa óculos sabe que isso significa várias pausas pra enxugar tudo rsrsrs... mas as lágrimas foram na maioria das vezes de emoção mesmo, sou uma manteiga derretida quando se trata de histórias com crianças e demonstrações de amor.
A vida em Edenton é retratada de maneira excepcional pelo autor, toda vez que conheço uma nova cidadezinha da Carolina do Norte através do Sparks, é como eu estivesse visitando o local, porque ele sabe integrar de forma mágica ao enredo todas as paisagens naturais, pessoas, costumes e clima das cidades que escolhe para ambientar suas histórias.
No final, há uma "Nota do Autor", onde ele explica que O Resgate é o livro mais pessoal que escrevera até então, pois foi inspirado em seu filho Ryan e no longo caminho que Sparks e sua esposa Cathy percorreram para obter um diagnóstico correto para o filho: ele não falava devido a um distúrbio do processamento auditivo central, uma espécie de "dislexia do som", que o impedia de perceber as palavras e desenvolver a linguagem do mesmo jeito que nós. A forma que os dois encontraram para ajudar Ryan a transpor essa barreira na comunicação, e os sentimentos envolvidos nesse processo, foram utilizados na construção desse enredo tão especial.
Recomendo passionalmente essa história
"de amores" encantadora, tocante e delicada!
Beijos resgatados... Elis Culceag.
Resenha publicada no Blog Arquivo Passional em 04/08/2014
site: http://www.arquivopassional.com/2014/08/resenha-o-resgate-nicholas-sparks.html