Resenhas - Cinquenta Anos Esta Noite

Rafael 12/07/2015

Serra é o reflexo de um país em transição
José Serra é um personagem que compõe o cenário político do Brasil. Na “biografia” encontramos uma figura pública em formação. De modo que sua vida é o registro de um país em processo de transição, entre a ditadura e a democracia. É, portanto, um reflexo do Brasil em sua vida pessoal.

Com apenas 22 anos ele já era presidente da UNE. Fazia política, discursava. Mesmo jovem, já estava inserido em debates públicos.

Foi dado o golpe e Serra saiu do país. Ele ficou exilado em vários lugares: Bolívia, França, Uruguai, Chile. Chegou a voltar ao Brasil, mas saiu novamente do país. Era, portanto, um período de muitas incertezas.

As incertezas também pairavam em sua vida intelectual. Estudava os clássicos da literatura, sociologia. No entanto, debruçou-se na economia, para compreender melhor a realidade do Brasil e da América Latina. Assim foi tomando posições com maior base teórica.

Contudo, mesmo exilado, Serra conseguiu graduar-se, conheceu outras culturas, figuras públicas importantes. Fora um período ambíguo de perdas e ganhos para sua formação individual, em meio a tantas contingências, dentro e fora do país.

Serra é o reflexo de um país em transição. Sua vida caminhava nos trilhos incertos análoga à vida pública no Brasil. Enfim, é, portanto, um personagem que deve ser estudado para compreender a política nacional das últimas décadas. Mesmo concordando ou não com as suas posições.

jefftavaresjuni 05/12/2014

Neste livro, José Serra retrata o ambiente vivido e sentido no país, a partir de um ponto de vista da esquerda brasileira (espectro político no qual o autor se incluía), nas semanas e meses anteriores ao golpe militar de 1964. Posteriormente, Serra reproduz a situação similar que vivenciou no Chile antes, durante e depois da derrubada e assassinato de Salvador Allende. Por fim, sua passagem pelos EUA e o regresso à sua terra natal dão o tom do momento em que o Brasil dava os primeiros sinais para a reabertura e redemocratização.
Apesar de ser um livro escrito em primeira pessoa, que rememora as vivências de um dos mais importantes e influentes políticos do Brasil, a obra não perde nem um pouco o seu caráter de contextualização histórica e é bastante elucidativa sobre os meandros da política nacional nas décadas de 60 e 70. São mencionados vários atores importantes (políticos, intelectuais, ativistas e simpatizantes) dos movimentos, partidos e coletivos de esquerda durante o governo João Goulart e depois na articulação da resistência à ditadura.
O livro consegue ainda nos passar um panorama sobre a disputas pelo poder na América Latina naquele período, em que o ambiente político intensamente polarizado produziu momentos tristes e foi terreno fértil para ditaduras mais ou menos sangrentas.
Para quem se interessa por história e política, diria que é leitura prazerosa e obrigatória.