Bia 20/05/2017Clássico mais que recomendado!O livro foi publicado em 1850 nos EUA. Já ganhou adaptações para os cinemas, uma em 1926 e outra em 1995; a última estrelada por Demi Moore.
Particularmente, gosto de clássicos e até fiz um desafio pessoal em ler mais clássicos neste ano. Assim sendo, fiquei muito empolgada em ler um livro que tem tanto significado histórico.
O que me deixou triste foi o fato de não encontrar uma edição física para comprar que não fosse de bolso. Vocês bem sabem que tais edições acabam sendo desconfortáveis para leitura, uma vez que as letras são demasiadamente pequenas e os espaçamentos entre parágrafos e linhas praticamente inexistentes.
Mas, quando li a primeira página do livro, a edição já não foi um incômodo. A Letra Escarlate é um clássico que, com toda certeza, prende o leitor.
Hester Prynne é nossa protagonista. É uma mulher que cometera um crime que, para a época, era considerado muito grave: o adultério.
Estamos no século XVII, e nesta época, tal crime poderia ser punido até mesmo com a morte. Mas vamos analisar a situação da nossa então pecadora.
Hester era casada, porém seu marido havia partido para uma viagem e ninguém sabia sobre seu paradeiro. Assim, ela acabou por traí-lo e desta traição nasceu a pequena Pearl.
Não temos detalhes a respeito desta traição, tão pouco sobre como era o casamento de Hester. Nós a encontramos bem no dia de seu julgamento. A prova da traição era a então bebê. Hester estava presa e como sentença teria de usar a letra A, bordada em vermelho bem no peito, símbolo de ADÚLTERA, por toda sua vida.
Acreditem, sua pena fora considerada abranda, uma vez que ninguém sabia ao certo se o marido da “criminosa” estava morto.
É válido analisarmos a cultura do povo local. Estamos de frente a uma sociedade puritana, que abomina quaisquer tipo de pecado que acreditem ir contra os desígnios de Deus.
Sororidade era uma palavra completamente desconhecida. As outras mulheres, ao saberem da punição amena de Hester, consideravam uma verdadeira afronta.
Hester fora exposta, ridicularizada, humilhada de todas as formas possíveis perante toda a cidade. Mas, em momento algum, ela revelou o nome de seu amante. E ai ficamos com a pulga atrás da orelha: quem seria esse homem? Por que não se apresentava? Qual o motivo de Hester escondê-lo? Medo? Proteção? Amor?
Com o fim da prisão e portando a letra em seu peito, ela decidira por continuar no vilarejo. Ficou isolada em uma cabana, juntamente com sua filha, sem amigos; sendo o símbolo vivo do pecado. Mas não pensem que estamos diante de uma protagonista dramática. Hester é forte, conseguia manter a ela e sua filha.
Tinha o talento incrível ao manusear, com zelo, uma agulha. Tal talento estampava as vestimentas até mesmo de autoridades.
Mesmo forte, mesmo enfrentando a situação em que se encontrava sem recorrer a fuga ou morte, ela sofria todos os dias. A letra estampada em seu peito era tida como uma verdadeira chama do inferno. E claro que Hester acreditava fielmente que seu pecado era o maior que poderia existir.
Com o passar do tempo, Pearl cresce e torna-se uma criança linda. Sua mãe a vestia como uma verdadeira fada, mas percebemos certa peculiaridade na menina. Aliás, até mesmo Hester, por vezes, não entendia “o que era” sua pequena Pearl.
Assim como a mãe, a garota era julgada pela sociedade como fruto do pecado; alguém que não seria digna em conviver com os cidadãos puritanos do vilarejo.
As pessoas as ofendiam sempre que tinham oportunidade. E mesmo com todo esse sofrimento, Hester não revelava o nome de seu amante, pai de sua filha.
É engraçado lermos uma obra escrita há tantos anos atrás que traz um tema, mesmo com as adequações para a época, tão discutido nos dias atuais.
Os sentimentos da protagonista, vergonha, medo; a convicção em achar que aguentar as ofensas e os julgamentos é uma forma de pagar pelo erro que cometera; soaram completamente comuns à nossa realidade. Infelizmente.
Quantas mulheres não são condenadas em ofensas e julgamentos pelo adultério? E quantos homens temos nessa posição, praticantes do mesmo “crime”?
É uma obra que, quando vista pelo simples modo de entretenimento, nos prende por ter esse suspense em torno do pai de Pearl. E ao mesmo tempo, ficamos completamente curiosos em saber qual seria o destino de Hester e sua filha.
Por outro lado, também tem o poder de levantar questionamentos sobre a posição da mulher perante a sociedade. Foi completamente reflexivo, pessoalmente falando. Eu considerei até mesmo aqueles vídeos compartilhados no whatsapp que mostram sempre a mulher adúltera como uma grande vilã, que merece ser exposta em praça pública. Em compensação, o parceiro, assim como o amante de Hester, sempre é preservado. O homem adúltero também. Não vou entrar em detalhes sobre essa discussão, afinal estamos numa resenha aqui.
Voltando ao enredo, Pearl é uma criança a qual eu gostaria de acompanhar de perto seu desenvolvimento. Queria que tivesse um livro que a trouxesse como protagonista. Mesmo com toda a inocência de uma criança, Pearl se mostrou a frente de seu tempo e inconformada com sua posição, mesmo sem compreender ao certo. Hester sentia receio pela personalidade da filha, e muitas vezes a considerava como a enraização do próprio demônio. Mas como julgar a mãe que enxergava sua filha assim? Estamos falando do século XVII, onde mulheres a frente de seu tempo eram verdadeiras bruxas.
Foi uma obra muito importante para mim, apreciei a leitura por completo, a escrita é ótima e fácil em ser compreendida. É um livro gostoso em ser lido e por incrível que pareça, mesmo com as letras pequenas, foi uma leitura bem rápida.
Recomendadíssimo!
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