Maria Fernanda 09/07/2021+ e ainda acham que Dumbledore é a pessoa mais indicada pra comandar uma escola? +Em mais um episódio da minha temporada de Releituras de Livros que Já me Fizeram Feliz um Dia na Tentativa de Afastar a Depressão da Pandemia, vi uma oportunidade de finalmente colocar o meu projeto de reler Harry Potter, em inglês, pra frente, depois de 10 anos do meu primeiro contato com os livros da saga. E cá estou eu, frustrada.
Todo leitor sabe que existe um fenômeno que nos acomete quando costumamos retornar a um livro querido depois um certo tempo: a inalterabilidade da história não acompanha as metamorfoses da nossa psique e visão de mundo. O que, às vezes, é reconfortante, porque um livro pode significar o aconchego da permanência e da familiaridade frente às inevitáveis mudanças da vida. Outras vezes, porém, é decepcionante, porque você não é mais a mesma pessoa que leu aquele livro pela primeira vez, você não pensa do mesmo jeito e nem sente as mesmas coisas. E, vamos combinar, você não tem mais a idade do público-alvo que o autor quis atingir quando escreveu aquela história...
Eu pensava que Harry Potter estava imune à possibilidade da decepção porque, fala sério, é Harry Potter. E eu amo Harry Potter desde que me conheço por gente. Não tinha como dar errado.
Mas, o negócio é que, relendo A Câmara Secreta, percebi que não consigo mais levar o enredo a sério. E realizar isso me deixou bastante incomodada. Por que eu não consigo mais me conectar à essa história que foi uma parte tão grande da minha vida? Por que eu não consigo voltar pra esse mundo que já foi a minha casa um dia? Ao invés da magia, do conforto e da nostalgia, encontrei furos na narrativa e pontos ridículos na construção do enredo. Eu senti como se a passagem para a plataforma 9 3/4 tivesse se fechado pra mim; foi como se eu tentasse de todas as formas entrar dentro do livro mas ele simplesmente não me coubesse mais.
Um fascista à solta na escola perseguindo alunos e ninguém manda esse povo pra casa imediatamente? Pré-adolescentes falando tão casualmente sobre desejar a morte dos coleguinhas? Um dos maiores bruxos vivos achando tranquilo deixar um menino de 12 anos ir atrás de um fodendo monstro milenar? Meio mundo de feitiço com todo tipo de função disponível e nenhum bruxo adulto nunca conseguiu resolver o mistério da Câmara em 50 anos mas três alunos do segundo ano, que mal sabem transfigurar um palito de fósforo numa agulha, sim?
Nem se eu fingir muito eu consigo forçar o meu cérebro a encontrar credibilidade nessa narrativa e se deixar transportar inteiramente para uma história que não me convence mais. E eu pensava em reler Percy Jackson...