Ari Phanie 08/09/2020A adolescente idólatra da Rainbow saúda a adolescente idólatra que você já foi.
Eu não sou muito fã de historinhas fofas e descomplicadas, mas quando eu decido ler uma eu adoro ter a opção de escolher algo da Rainbow, que é uma das minhas autoras favoritas porque ela sempre consegue me animar e divertir. Com Fangirl não foi diferente, apesar de eu ter gostado muito mais da primeira metade do livro do que da última.
Fangirl conta a história da tímida e introvertida Cath que precisa enfrentar a segunda maior mudança da sua vida até então: sair de casa e ir para a faculdade. Para qualquer outro (como sua irmã gêmea, Wren) parece uma perspectiva bastante agradável, mas Cath não gosta de mudanças, e não gosta da ideia de ficar longe do pai e nem da obrigação de ter que fazer amizades. O que Cath prefere é passar despercebida e ficar trancada em seu quarto o quanto puder envolvida em sua fanfic sobre Simon Snow. Mas sua colega de quarto, Reagan e o suposto namorado da mesma, Levi, tornam essa esperança bem menos atingível.
Cath é uma personagem interessante, extremamente desajustada e inexperiente, e por isso mesmo, criei uma simpatia por ela. E sua fixação no mundo mágico de Simon Snow nos faz retornar a adolescência e relembrar nossas próprias obsessões típicas da época. Quem nunca passou pela fase da devoção a uma banda teen, saga literária ou cinematográfica? É bem típico e compreensível, mas também é temporário. Eu teria gostado que isso ficasse evidente até o final de Fangirl, mas infelizmente a Rainbow investiu bastante nessa paixão da sua protagonista, e usou até mesmo aquele recurso do livro dentro do livro que os autores adoram fazer quando escrevem personagens escritores. Pra mim algumas vezes isso funciona, outras não. E esse foi o caso aqui. Eu realmente não curti tanto todo o destaque que a Rainbow deu à historinha do Simon Snow e do Baz; eu preferia mil vezes que ela tivesse focado no desenvolvimento da protagonista da sua principal história. E Simon Snow me pareceu muito caricato e enfadonho. Fui descobrir quando terminei Fangirl que o livro Carry On é justamente sobre Simon Snow e Baz, e fiquei triste. O livro já estava na minha lista, mas peguei uma antipatia pela história que é uma homenagem a HP, mas mesmo assim, não tem mais apelo nenhum em mim. Já bastou ler sobre a história nesse livro.
Cath permanece com sua dificuldade de encarar o mundo real quase até o final do livro. E sua insistência em se doar mais ao mundo mágico de Simon Snow do que a um mundo que ela própria poderia criar, me irritou um pouco, e me pareceu mais uma prova de que o desenvolvimento da personagem foi bastante parco.
"- Não é ok dizer 'isso 'tá me machucando demais, então vou parar de tentar'?
- Isso levanta um precedente perigoso.
- De evitar a dor?
- De evitar a vida."
Quando se trata dos personagens secundários, a Rainbow se saiu muito bem. Wren, ao contrário da irmã gêmea, teve uma evolução muito mais consistente. Levi e Reagan são ótimos personagens do começo ao fim, me apaixonei por ambos.
Enfim, apesar de alguns problemas; apesar de não ter se aprofundado em questões tão interessantes como os problemas psicológicos de Cath, de Wren e até mesmo do pai delas (a família toda basicamente precisava de terapia), de não ter se aprofundado também nos problemas de aprendizado de Levi, tudo isso para dar espaço para Simon Snow (bah), eu me divertir bastante, como sempre. A Rainbow pode ter errado bastante nesse (como fez em Eleanor & Park, que continua sendo meu menos favorito), mas entregou um livro fofo que acalenta, sobre as novas experiências da vida adulta. É sempre uma experiência prazerosa ler qualquer coisa dessa mulher que amo.