Felipe 27/04/2021
Muito mais do que parece.
A genialidade de Jorge Luis Borges deu luz a um conto tão profundo, tão questionador de essência e existência que soa como um tratado sobre a realidade. A Biblioteca, na qual todo livro é possível de existir, é matematicamente finita já que apenas os mesmos 25 caracteres poderão ser repetidos em todas as ordens possíveis. Ainda assim, por ninguém chegar em seu fim, muitos a tem como infinita. E já que ela contém todas as possibilidades de livros, é capaz de haver um em que seja provada a sua essência infinita(ou não). O narrador é um otimista e crê na infinitude da Biblioteca esperando que, após uma longa jornada de um viajante de vida sobre-humana, ele chegaria no fim dos livros aleatórios e veria a repetição da mesma aleatoriedade, criando assim uma ordem, A Ordem. Entretanto não há nada que prove isso. No final, a atitude a ser tomada por cada bibliotecário é pessoal. Uns procuram O Livro, aquele que supostamente responderia todas as perguntas da Biblioteca e que poderia ser usado como Código para ler os ilegíveis(aqui muitos comparam geralmente a religiosos e até cientistas em busca da resposta primordial). Outros dispensam qualquer tipo de busca por sentido e ordem na Biblioteca, seja por não haver um sentido ou simplesmente por acreditar que se houver algum, eles não seriam capazes de entender (aqui muitos dão a interpretação de algo próximo ao absurdismo ou niilismo). Não há resposta além do tipo de bibliotecário que pensamos ser.
Indo além, pensando na forma, o narrador perguntar sobre a certeza do leitor do que está lendo ///Tú, que me lees; ¿ estás seguro de entender mi lenguaje?/// leva o conto a outro patamar. Se já pegam o texto esperando uma alegoria, um ?ele está falando sobre nosso universo e sentido no modo de viver?...quem disse? Quem disse que você acabou de ler uma alegoria sobre seu universo? Quem disse que para ele a sequência de caracteres ?universo? ou ?biblioteca? signifique para você o mesmo que para ele? Se desconhecemos a ordem do código podemos simplesmente estar dando um sentido particular, nosso, em algo que pode estar debatendo um tema completamente diferente numa língua completamente desconhecida. É, em todas as camadas, questionar as certezas. Genial.