Ari Phanie 15/01/2022Um salve ao Stieg Larsson, um dos maiores. <3
Finalizei essa trilogia muito triste. Mesmo não sendo ficção policial um gênero que eu leia com regularidade, essa história foi sem dúvida a melhor que li dentro da categoria. E saber que não vou mais encontrar Lisbeth Salander em novas aventuras é duro, viu!? Mas deixando isso de lado, esse foi um final que coube direitinho dentro das minhas expectativas. Tem passagens que são bem morosas (mas não chatas) e passagens que de repente me fizeram pular da cama ou fechar o livro com medo de continuar. Foi uma viagem alucinada junto aos personagens para desvendar mistérios e denunciar uma conspiração institucional. E o final me entregou aquilo que eu queria. Mas eu não quero apenas falar de como essa história é interessante, bem estruturada e muito bem escrita. Aquilo que mais me prendeu, que mais me envolveu e arrebatou foi a personagem Lisbeth, sua história, sua personalidade e como através dela o Larsson abordou o machismo. Lisbeth é uma personagem socialmente desajustada que possui um nível de inteligência superior à média, e que foi vítima de inúmeras violências psicológicas, sexuais e institucionais, e que por ter uma história de vida tão difícil criou um jeito singular de viver com uma ética própria (fazendo até justiça com as próprias mãos) e fazendo uso de muitos mecanismos de defesa. Tudo isso que inicialmente não se entende (e até parece extremo) passa a ser totalmente compreensível quando conhecemos quem é Lisbeth Salander. Dentre muitas coisas que eu amo envolvendo a Lisbeth, o Larsson ter abordado aquelas coisinhas desagradáveis enraizadas na nossa sociedade é o que eu mais gosto. Como a crença da "mulher louca". Que mulher nunca foi taxada de louca? Somos consideradas loucas pelo menos uma vez no mês, e é através disso que em Millennium conseguem invalidar a fala da Lisbeth por tanto tempo. É realmente bem simples (e comum) reverter o discurso de uma mulher em loucura, fantasia. Temos mesmo exemplos disso na atualidade, infelizmente. O Larsson também chegou e mostrou que normalmente não há um motivo para homens maltratarem e violentarem mulheres. Todos fazem porque acham que podem, porque acham que as mulheres devem de alguma forma, servir.
Finalizando, esse terceiro livro fechou as aventuras (e desventuras) de Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist com chave de ouro. Vou sentir uma falta enorme da leitura gostosa, ilustrativa e reflexiva que o Larsson proporcionou aos leitores. É uma pena que ele se tenha ido sem saber que sua história tem um notável valor (mesmo para uma ficção), e sem ter tido oportunidade de criar outras grandes histórias sobre direitos humanos e violência de gênero. Um salve a ele onde quer que esteja.