z..... 21/05/2015
Seis lendas nacionais recontadas por Gonçalo Ferreira da Silva, na envolvente linguagem do cordel e com as oníricas ilustrações de Rafael Limaverde.
O autor imprimiu elementos adicionais, seja no desenvolvimento ou origem, o que valorizou a maioria, mas também trouxe uma percepção estranha em outras. Ressalte-se que há muitas versões e preferencialmente gosto daquelas na linha tradicional, como as gerações mais antigas conheciam.
A do Caipora introduz uma identidade secreta ao mito. Coisa vista em Matinta-Pereira, Mula-sem-cabeça e Lobisomem, mas com esse aí foi uma surpresa. Pano para interessantes desdobramentos, o que na minha visão não ficou lá muito instigante na obra, sem um impacto final mais curioso.
A do Negrinho do Pastoreio conservou a essência, mas faltou a associação a busca de objetos perdidos.
A do Saci é bem legal, com o nó-cego em papel inverso, levando um passa-fora de duas vozinhas sabidas e desejosas de aplicar uma lição. Toma-te! Faltou só uma coisa. Naquilo de se introduzir elementos, que conversa nova é essa de citar três tipos de Saci? Conheço o Pererê, mas Saci-Trique e o Sacurá nunca tinha ouvido falar (um pouco de ignorância de minha parte nesse mundo folclórico do qual apenas gosto de ouvir falar). O autor citou e ficou só nisso. Oras! Ajoelhou, tem que rezar!
A do Uirapuru achei estranhona e não gostei da versão, que não valoriza o indígena prestigiado nas histórias inspiradoras. Ficou meio sem sentido com uma tal presença de um velho e carinha não sei das quantas, que morre e aparece. Cadê a tradicional saga de amor associada ao mitológico canto do Uirapuru?
A da Vitória-Régia também é conservadora no geral e, por favor, falando da cultura indígena, lua não. É Jaci! Ao final, os versos me chamaram a atenção para algo que não tinha notado... A flor inspira admiração e também, se é que me faço entender, respeitoso temor pela natureza. É assim: encontrando a flor é bonito, mas o ambiente deve inspirar os temores de uma região de várzea e igapó, com sua admirável e folcloricamente temida biodiversidade. Eita! Falei bonito, falei leseira, tanto faz, tanto fez. Vi assim.
A do Vaqueiro Misterioso parece estar em maior domínio do autor, pois parece muito conhecida em sua terra, o Ceará.
Olha! Com todas as minhas bobagens e devaneios, registre-se primordialmente que gostei da obra e admiro a sagacidade do cordel.
Finalizando, a doidice da referência da arte como onírica, é porque apresenta-se multicolorida e cheia de movimentos em ondulações, com diferentes texturas. Um estilizado sonho. Égua, té doidé! Foi o que deu na telha para explicar...
Fui!