Bia 17/02/2016Resenha publicada no blog Lua LiteráriaOlá leitores!!
No ano passado, ganhei de presente do autor Samuel Cardeal, um exemplar de seu livro O Quarto Cavaleiro. Trata-se da autobiografia de um psicopata. Amo a escrita do autor, amo o gênero, e o que me impediu de ler esse livro em todo esse tempo? Minha falha em não conseguir administrar meu tempo de leitura.
É uma publicação independente, não tem nenhuma grande editora para divulgá-lo, e devo um enorme pedido de desculpas para o autor por ter demorado tanto tempo para ler.
A primeira coisa que me chamou atenção no livro foi a edição. Digna das diagramação de grandes editoras, é uma belezura para os olhos. Antes mesmo de ler eu já tinha um certo chamego por esse livro. Primeiro porque é do Samuel, um dos meus autores prediletos. Segundo porque foi um presente do Samuel. E terceiro, confesso, porque é lindo por demais.
É uma autobiografia, então o narrador de nossa história é o próprio psicopata. E ele nos conta sobre sua vida e seus sentimentos mais obscuros.
Leonel começa nos contando sobre sua infância. Já li muitas histórias sobre psicopatas, verdadeiros ou não, e ainda amo assistir aquelas séries do canal ID que relatam a vida dos mais famosos. Então, posso garantir que Leonel não segue o mesmo perfil da maioria.
“Eu tentei ser normal, ser como qualquer um. Na época, ainda não sabia, mas isso nunca daria certo.” – pág 26
Desde muito pequeno já sentia fascínio pela dor. Mas, conseguia esconder muito bem sua diferença. Sabia que era errado, e por isso mantinha esse fato em segredo. Nenhum adulto poderia levantar suspeita sobre sua verdadeira personalidade, pois, além de ser muito inteligente para escondê-la, também conseguia manipular com maestria todos a sua volta.
“Eu tinha algo especial que fazia com que todos gostassem de mim, e isso me agradava.” – pág 20
Eu não consegui enxergar problemas em seu círculo familiar que justificasse o vício que o garoto tinha pela violência. Filho de um médico com uma professora, a meu ver sempre teve amor e carinho. Nunca passou necessidades financeiras. Não teve traumas. Leonel era como qualquer outra criança, mas tinha um demônio dentro de si.
Ele articulava maneiras de conseguir saciar seu vício, manipulando outras crianças. Geralmente, histórias de psicopatas não abordam tão a fundo a infância dos mesmos. Pelo menos as que li. Foi realmente muito assustador conhecer a mentalidade do menino Leonel. Me perguntava no que ele se transformaria quando crescesse. Ainda na infância, ocorreu seu primeiro assassinato.
E não parou mais. Sempre muito discreto, não deixava vestígios, e passaram-se muitos anos até que as autoridades desconfiassem de um assassinato em série. Leonel se tornou um monstro, que matava estrategicamente. Foi difícil entender a motivação para a escolha de suas vítimas, e ele resolveu brincar de gato e rato com Daniel, um inteligentíssimo policial federal. Enquanto deixava pistas para que Daniel o pegasse, passei a ter uma ideia de como Leonel escolhia suas vítimas.
Tudo foi uma verdadeira loucura. Leonel é o personagem mais louco que já conheci.
“Quanto mais eu matava, maior era minha sede.” – pág 137
Como o livro é narrado por ele, o leitor passa a ter suas próprias impressões do cara. Ele não se esconde ou tenta nos persuadir. Mostra-se descaradamente. Não justifica, em nenhum momento seus crimes ou atos.
Não é um personagem agradável. E isso me atrapalhou pra caramba. Não me simpatizei por Leonel, ele se considera melhor que qualquer pessoa, sabe que é genial e abusa do seu senso de sarcasmo. A parte da narração de sua infância foi a que menos gostei. Alguns atos me pareceram incoerentes para uma criança.
Conforme foi crescendo, não sei se eu já estava habituada à sua personalidade, comecei a me prender mais ao enredo. E, por incrível que pareça, fui desenvolvendo certo apego pelo personagem. Eu queria que ele fosse preso, ou morresse, mas também queria saber mais sobre sua tão louca mentalidade.
“As pessoas fogem da dor, a temem, mas, na verdade, a dor é a sensação mais verdadeira que podemos experimentar.” - pág 266
Como em todos os livros que leio do autor, fiquei fascinada e me perguntando de onde ele tirou tudo isso.
Preciso citar ainda, que a característica do autor, em fazer críticas ao que acontece de errado em nossa sociedade e realidade política está presente. Ele faz com maestria, e é quase imperceptível em alguns pontos. Foi impossível conter o riso com algumas peripécias que ele deixou para o final.
Leitura mais que recomendada!!
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