Acad. Literária 01/07/2015
RESENHA - O Exterminador do Futuro
Ano de 2029.
As máquinas se ergueram das cinzas do fogo nuclear. A guerra das máquinas para exterminar a humanidade já dura décadas, mas a batalha final não será travada no futuro. Será travada aqui, no nosso presente.
Uma missão de ódio e destruição vinda do futuro sombrio.
Uma mulher inocente em meio a forças além de seu controle.
Um homem em busca de justiça atravessando as barreiras do tempo.
E uma criatura fria, cruel e desumana chamada de “Exterminador”.
“O Exterminador do Futuro” conta a história de Sarah Connor, uma jovem comum que, de um dia para o outro, tem sua vida completamente transformada com a vinda de dois viajantes do tempo: Kyle Reese, um sargento enviado ao passado para protegê-la; e o Exterminador, uma máquina de combate programada para exterminar Sarah e qualquer outro que fique em seu caminho.
Ao longo da história somos levados pelo narrador a conhecer a história de Sarah Connor. De como a mulher delicada e inocente, que só queria se formar e dar um rumo na vida acabou por se envolver diretamente em uma trama que poderia definir o destino da humanidade. Ao passo que conhecemos mais sobre o que o futuro aguarda, acompanhamos os passos de Reese em sua missão e sentimos um gostinho do terror que os sobreviventes do holocausto irão viver sob o domínio das máquinas, ao conhecermos o antagonista da obra – o ciborgue de infiltração T-800 – vivido nos cinemas pelo astro Arnold Schwarzenegger.
O livro é uma novelização de um filme clássico dos anos 80. E quando se trata de adaptações, tento olhar com mais cautela e não ir seco ao pote para não criar grandes expectativas. Não foi tão diferente com essa obra (com exceção da capa, porque com a capa não tem como não se empolgar). Sou fã de ficção científica e fã de obras apocalípticas, então “Exterminador do Futuro” foi uma obra muito bem-vinda na minha estante. O negócio era saber o que a obra tinha a oferecer a mais que o filme. E sabemos que os livros são, em maioria esmagadora, melhores que os filmes. Porém, o que eu li nesse livro superou até as minhas mais altas expectativas. Os três autores fizeram um trabalho magnífico. O livro entrou para as minhas leituras favoritas do ano.
A obra, logicamente por ter mais espaço, aprofundou certas coisas que ficaram de fora do filme ou que passaram rápido demais. Tivemos mais tempo de ver como Reese se virou quando chegou ao passado, mais tempo para conhecer a amizade entre Sarah, Ginger e Matt, mais tempo para mergulhar de ponta cabeça nas descrições sobre o mundo Pós-Apocalíptico e conhecer um pouco mais sobre alguns personagens secundários que aparecem na trama. Quem diria, por exemplo, que o nome do lixeiro do começo do filme é Del Ray Goines ou que o nome do mendigo do beco que o Reese aterrissou é Benjamin Schantz. Esses personagens ganharam mais vivacidade com o livro.
Posso tomar como claro exemplo as “Sarinhas”, que eram as vozes da razão da Sarah, pois ficavam “observando e reprovando toda vez que ela começava a ter uma emoção que desconfiava ser inadequada”. Ou os pensamentos de Reese sobre aquele mundo pré-guerra. Diversas vezes ele analisou o quanto certas coisas corriqueiras da nossa vida, certos materiais que jogamos fora por qualquer motivo eram tão preciosos em seu tempo pós-apocalíptico. Ou coisas que ele apenas ouviu falar (como dinheiro e baladas) e coisas que ele nem ao menos sabia que um dia existiram (como pizza) e que não existiam mais no seu tempo. Mesmo os cinéfilos que já assistiram ao filme mais de 500 vezes e já até sabem as falas de cabeça vão se surpreender, pois o psicológico dos personagens (até mesmo os secundários) é aprofundado a um nível muito superior ao mostrado no filme.
Outro ponto que curti muito: os autores souberam descrever com muita eficiência a visão computadorizada do exterminador. Algo que foi sendo aperfeiçoado de um filme para o outro, foi amplamente usada na obra para que os leitores pudessem sentir o quão poderoso e letal era aquela máquina de combate.
E por fim, no roteiro original do filme, o Exterminador matava suas vítimas (as mulheres) e fazia uma incisão em suas pernas a fim de procurar a identificação do alvo, pois Sarah teria um pino de metal implantado cirurgicamente na perna e esse era o único registro que a máquina tinha para confirmar a identidade do alvo. No filme, esse detalhe da trama foi deixado de lado, mas como o livro é baseado no roteiro original, podemos conferir o trabalho de açougueiro do ciborgue em detalhes.
O livro é narrado em terceira pessoa, com um narrador onisciente que divide os acontecimentos entre Sarah Connor, Kyle Reese e o Exterminador. A fluidez da narrativa é tranquila, mas em alguns momentos, leitores não acostumados com histórias de ficção científica podem dar umas “travadas” na leitura. Vamos conhecendo o trio de personagens principais à medida que a obra avança, conhecendo o passado (ou futuro, dependendo de quem o narrador está falando). A relação temporal é linear, com alguns poucos flashbacks dos acontecimentos de Reese no futuro. A obra é divida em quartro partes: dia 1, 2, 3 e 126 (pois é rs), com pausas textuais sempre que o foco da narrativa muda. Cada uma dessas pausas é identificada por um texto que mostra a localização do personagem e a hora em que acontece a narrativa. A revisão só peca um pouquinho na coerência da tradução, mas é quase nada comparado ao que a editora fez na diagramação que está impecável. A DarkSide da um show quando o assunto é diagramação. A capa é a imagem do crânio metálico de um T-800 e só (não que precise mais que isso para identificá-lo) e o verso a parte de trás da cabeça do ciborgue. Por dentro, a contracapa simula a visão do exterminador (o modo de busca). Podemos conferir em algumas partes do livro cenas em preto e branco do filme. Por fim, a formatação está ótima. Folhas amareladas e fonte boa para ler. Um detalhe muito curioso: o livro é de capa dura, mas ao contrário do que se espera, ele é incrivelmente LEVE! Só segurando um para saber o que eu estou falando.
O Exterminador do Futuro é uma viagem no tempo em muitos sentidos. Nesse livro, os fãs que acompanham a saga desde o seu primeiro filme vão sentir uma boa dose de nostalgia ao ler e também poderão se aprofundar ainda mais nas questões sentimentais e psicológicas que envolvem Reese e Sarah. Para os fãs de ficção científica, esse livro é mais que obrigatório, já que a obra inspirou vários outros títulos baseados em viagens no tempo e batalhas entre humanos e máquinas. Para os leitores de primeira viagem, recomendo a leitura como porta de entrada para o universo da franquia. E finalmente, para os leitores que, assim como eu, apostam no escuro.
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