O Herdeiro das Sombras

O Herdeiro das Sombras Sinval Medina




Resenhas - O Herdeiro das Sombras


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Sebo Por Todo C 03/04/2012

O HERDEIRO DAS SOMBRAS vem à luz pelas palavras de Sinval Medina
O que me chamou a atenção neste livro? Primeiro, o autor, Sinval Medina. Decidida a “tirar o atraso” em literatura brasileira e diminuir o embaraço com a pouca leitura de livros de escritores nacionais da atualidade, “O herdeiro das sombras” foi uma escolha muito adequada.

Livro em que a história não deixa pontas, isto é, o desenvolvimento do enredo encontra seu início, seu meio e seu fim, sem estranhezas ou inconsistências. Romance de fundo histórico, pincela o cotidiano do II Reinado, o término da Guerra do Paraguai e o cotidiano cultural de um Rio de Janeiro como capital do Reino. A história contada é a do pianista e compositor nascido em Nova Orleans (1829) Louis Moreau Gottschalk que alcançou estrondoso sucesso em suas apresentações no Brasil. Compositor de ‘Fantasia triunfal sobre o Hino Nacional’, uma série de variações sobre a música de Francisco Manuel da Silva, música que ganhou nova notoriedade nas mãos de Eudóxia de Barros e embalou as filmagens do enterro de Tancredo Neves e serviu de abertura à propaganda política do PDT, na época de campanha de Brizola.

Gottschalk encontrou no Brasil um sucesso sem precedentes em sua carreira e uma morte misteriosa aos 40 anos (1869). Sinval Medina transforma a história em instigante trama ficcional em que não faltam histórias de espionagem, naufrágio, romance, vodu e mandinga.
Quer mais?

Então aqui vai o meu trecho predileto:

“Voltemos atrás, pois, uns dois dias, para encontrá-lo [Gottschalk] como barco entressachado em arrecifes, mais insone do que mocho em campanário, a cogitar qual rumo haverá de dar à vida.

Na verdade, já não sabe o que faça para acalmar a tormenta em que se debate. Abriu o coração com dona Maria Laura, disse-lhe o que podia e o que não podia, mendigou como o mais raso esmoler, não ouviu dela nem sim, nem não, nem talvez, nem jamais; ao cabo e ao fim, tudo está na estaca zero. Declarou-se; expôs-se; rastejou, sem conseguir dela uma triste gota de esperança. Quanto a ela, sem repeli-lo, é verdade, procedeu com admirável altivez e honestidade: pôs-se em seu lugar, deu-se ao respeito, mostrou a mulher honrada que é. Como condená-la? O diabo é que tamanho pundonor a faz ainda mais rara, mais apetecível.

Vai alta a madrugada e Louis sem pregar o olho, mortificado por sua vilania: afinal, não é próprio de um cavalheiro digno do título submeter uma dama como dona Maria Laura a semelhante constrangimento. Imagine se ela, movida mais pelo coração do que pelo siso (como é do feitio feminino), acabasse por ceder ao assédio? Pronto, estaria armada a tragédia. Uma tragédia que teria por estopim a falta de escrúpulo e o descaramento de um biltre, de um escroque de última extração. Não, meu caro; não podes descer tão baixo. Dona Maria Laura não é mulher livre, bem o sabes; e como se não bastasse, o marido agoniza sobre uma cama, incapaz de defender a própria honra.
Mas se de um lado o remorso dói-lhe a consciência, de outro o desejo incendeia-lhe as entranhas. E, em imaginação, vê-se aceito por dona Maria Laura como um Romeu por sua Julieta, e trocam juras de amor eterno, sob uma pérgola de madressilvas, embalados pelo trinar de canarinhos e o harpejo de sabiás."

Trecho predileto p. 175, parte II segundo e terceiro parágrafos; p. 176, primeiro e segundo parágrafos
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