Alberto 10/01/2022Tocante no conteúdo, virtuoso na técnica, um grande mestre em sua melhor forma.Um texto sem palavras ociosas, pleno de imagens eloquentes e inesperadas, onde Salinger extrai emoção e significado a partir de cenas corriqueiras do cotidiano de uma família. As duas histórias são encadeadas e formam um conjunto, uma espécie de novela em duas partes. Tudo se passa em poucas horas, em dois ambientes apenas, só cinco atores em cena; e com um conjunto tão restrito de ingredientes o talento expressivo do autor produz magia literária. Um texto cheio de afeto, que apresenta convincentemente personagens ricos de nuances e suas relações conflituosas e complementares. O autor se deu ao trabalho de escrever uma espécie de prefácio que praticamente implora que não caiamos na tentação de ler o texto como se fosse uma mensagem religiosa ou mística, que é o que pareceria a um leitor preguiçoso. O tema místico é um pretexto, um assunto para os personagens conversarem. No fundo, como o autor adverte, existe uma bela história de amor, um hino ao amor familial, fraternal, um louvor e um memento de laços que a vida não explica e a morte não dissipa. É bela e tocante a comunhão e o diálogo, muitas vezes silencioso, entre os irmãos presentes e ausentes, inclusive entre os vivos e os mortos. O retrato da mãe é pungente, é admirável como Salinger faz sua homenagem apaixonada sem cair no sentimentalismo e sem soar piegas. Beleza de livro, para reler muitas vezes e usar como padrão para avaliar os demais livros.