Resenhas - Sempre aos domingos

Cardoso 04/11/2015

Itaparica é o Brasil todo, como disse uma vez alguém.
João Ubaldo Ribeiro é o mais engraçado autor que e já li. Não tem pose nem vergonha, revela nomes e mesmo tentativas de noitadas com prostitutas pra esposa, mas nada. Despreocupado, ele relata detalhes de sua vida em crônicas de jornal como se estivesse acabado de te cumprimentar calorosamente com sua voz potente, com a mão em seu ombro, e agora estivessem frente a frente, te contando sobre aquela vez em que foi à Cuba com Gianfrancesco Guarnieri e encontrou Marx saindo de um bar...

Pilares da cultura brasileira (e se você não concorda que o século passado foi um dos ou o mais importante da nossa cultura, perdoe-me-mas...) estão nesses relatos tal qual uma série de outros personagens de Itaparica, sentados à mesa do bar ou vendo o vizinho Ubaldo andando pra lá e pra cá de chinelas, bermuda e camiseta enquanto caduca pra escrever, olha só, "Viva o Povo Brasileiro". Sim, Sempre aos Domingos aborda este momento, o antes, a escrita e a publicação de "Viva...", mas a humildade de João é tão autêntica que você esquece.

Temos momentos ternos, momentos belos aqui. As memórias envolvendo 1984, sobre a morte e influência de Glauber Rocha em sua vida são emocionantes. Ao mesmo tempo temos criticas pontuais, como quando ele diz alguma coisa como "primeiros passamos no concurso e depois vemos se somos ou não capacitados". O fino do humor é achado nos diálogos (como os que ele tem com a esposa, tentando lembrar da noite passada embriagada), produzidos pela mais fina análise da linguagem oral, e dos casos de família ou conversas de bar.

Coisas simples, memórias da vida, a família, os amigos. Ribeiro é o mais sincero autor do Brasil.