Argo e seu dono:

Argo e seu dono: Italo Svevo




Resenhas - Argo e Seu Dono


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rah.barbosaa 10/01/2023

esse conto...
Só de lembrar eu quero chorar.
Eu amo esse conto!
Lindo demais e triste demais
Ele faz a gente refletir sobre como somos ignorantes e as vezes agressivos com os nossos amigos?
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jota 24/12/2019

As consciências de Svevo

Argo e Seu Dono traz oito textos: sete contos e uma novela de Italo Svevo (1861-1928). Dele havia lido antes o conhecido A Consciência de Zeno assim como outros dois ótimos livros, que formam uma trilogia informal triestina (de Trieste, norte da Itália, onde o autor nasceu) e que o tornou bastante conhecido depois de sua morte: Uma Vida e Senilidade. Vale a pena conhecer os três livros caso se aprecie aquele tipo de literatura mais introspectiva, sem deixar de vincular-se à realidade social de então, claro.

A Apresentação – Svevo: A arte do conto – é de Elvio Guagnini, estudioso que destaca, entre outras coisas, a contribuição de Svevo para a literatura italiana do século XX no gênero conto como “uma experimentação de modalidades diferentes do conto breve.” E prossegue, afirmando que esta coletânea “testemunha bem (...) fases e problemáticas diversas do trabalho narrativo de Svevo.” Finalmente conclui: “cada um desses contos, de algum modo, representa uma forma, um gênero e um problema diferente na narrativa sveniana de medida breve.” Tanto isso é verdade que parece que nem todos os contos foram escritos pelo mesmo autor de A Consciência de Zeno, naquilo que me recordo desse romance. Foi o que senti. Assim, os conceitos ao final de cada história têm a ver com minha leitura de cada qual, não significam julgamentos com pretensões críticas.

O primeiro deles, que dá título ao livro, diz que o dono de Argo (que não é nomeado) está tentando aprender a linguagem canina porque sabe que o cão será incapaz de aprender a linguagem humana. É como se ele entrasse na pele (ou no pelo, pensando melhor) do cão e refletisse sobre a complexa relação existente entre proprietário e animal. Nalguns trechos é o próprio Argo quem nos fala sobre seu dono. O conto tem algumas passagens interessantes, mas me agradou menos do que eu esperava. Cão por cão, a cadela Baleia de Vidas Secas (Graciliano Ramos) cria muito mais vínculos com o leitor do que Argo, que não tem nenhuma culpa nisso... [Regular para bom]

Em seguida temos O Assassinato da Via Belpoggio, que poderia ser uma história policial comum, mas não nas mãos de Italo Svevo. Melhor, em sua cabeça: desde logo sabemos quem é o assassino e o motivo pelo qual praticou o crime; tudo o mais é o que rola na fervilhante consciência do protagonista. Não é apenas a dificuldade em esconder o produto do crime e agir calmamente, sem despertar suspeitas, aquilo que o atormenta, são suas contradições internas vindo à tona após o cometimento do crime. [Regular para bom]

O terceiro conto é A Mãe. Também trata de animais mas supera Argo por ser mais fabuloso ainda (no sentido de alegoria, logicamente). Um pintinho sente saudades da mãe que nunca teve. Ele nasceu de uma incubadora, não sabe disso, claro, mas fica triste ao ver uma galinha e seus pintinhos ciscando no quintal alegremente; desejava ter uma experiência como aquela, aprender com a galinha etc. E sai em busca de uma mãe, experiência que poderá decepcioná-lo... Há quem veja nesse conto o tema da frustração e culpa na relação mãe-filho. [Regular para fraco]

O Meu Ócio é o quarto texto da coletânea. Poderia ser uma continuação de A Consciência de Zeno, já que o protagonista é o mesmo, mas vivendo num tempo posterior. Vejamos o resumo de Guagnini: “Zeno, agora já fora dos negócios, às voltas com problemas farmacêuticos e médicos, tendo que se confrontar com o problema da saúde e o da reprodução: convencido de poder enganar Mãe natureza, Zeno arranja uma amante.” Ela é Felicita. O relacionamento entre os dois é curioso: o conto apresenta situações bastante engraçadas e acaba se tornando um dos melhores do livro. [Bom]

O quinto texto é Nós do Bonde de Sérvola, conto bastante experimental que, ao mesmo tempo em que parece um relato de viagem, também se assemelha a uma paródia cheia de surrealismo. Difícil resumir porque também é difícil de apreciar, de entender completamente. Se é que é para ser entendido e apreciado por todos, bem entendido... [Regular para fraco]

De Modo Traiçoeiro, sexto conto é sobre Maier, um sujeito que tendo feito um mau negócio vai à casa de Reveni, também negociante e suposto amigo, tentar pedir ajuda financeira porque está quebrado, à beira da falência. Ele não tem muita esperança de ser atendido por Reveni, mas o que acontece na casa do amigo, que tem uma mulher que não desgruda do marido um instante, vai muito além de suas expectativas negativas. [Regular]

Sétimo texto, A Tribo é sobre um grupo de árabes nômades que decide se estabelecer num oásis. Sem perceber, eles se tornam sedentários. Se há vantagens nisso também começam os problemas porque agora as questões relacionadas a organização, planejamento, propriedade, acumulação etc. se tornam mais complexas. Há quem veja nesse conto uma parábola sobre as dificuldades do socialismo, porém mais do que uma crítica ao marxismo, A Tribo parece ter sido escrita para provocar reflexão sobre a sociedade italiana de então (conto foi escrito em 1897). [Regular para bom]

Das oito histórias de Argo o último texto, A Novela do Bom Velho e da Bela Jovem, caracteriza-se por ser a que dialoga com mais intensidade com aqueles três livros citados; é a narrativa mais apreciável de todas. Um senhor de 63 anos tenta educar uma (bela) jovem do povo, que trabalha na empresa de bondes em Trieste, mas ao mesmo tempo a toma como amante. Dá-lhe dinheiro frequentemente e mais adiante, envolvido como está, pensa até mesmo em torná-la sua herdeira. Um dia fica doente e, assustado, imagina que os excessos de mesa e cama poderão matá-lo. Afasta-se da jovem por recomendação médica, que entretanto não segue à risca. Um dia ele a vê passeando com um rapaz bem apessoado, fica enciumado e passa a querê-la de volta. O bom velho acaba levando essa relação ambígua com a bela jovem até as últimas consequências... [Bom]

Lido entre 21 e 24/12/2019.

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