Sagarana

Sagarana João Guimarães Rosa




Resenhas - Sagarana


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Bell_016 30/09/2009

Infelizmente o amigo aí acim nunca deve ter prestado atenção a uma aula de literatura e desconhece coisas básicas. Todos os "erros" do livro são estudados e têm um significado que alguns não podem entender, felizmente há gente séria que avalia com justiça sua obra. Tente estudar um pouco mais antes de sair falando besteira, qualquer um pode escrever do jeito que quer, difícil é ter conhecimento para sustentar sua linguagem e nisso G.R. não falta, portanto, é reconhecido. Deixo uma citação do próprio Guimarães Rosa:



"Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração."
Jaccuz 20/10/2009minha estante
Infelizmente o amigo aí acim nunca deve ter prestado atenção a uma aula de literatura(blá bláblá) e desconhece coisas básicas. Todos os "erros"(blá) do livro são estudados e têm um significado(Blá) que alguns não podem entender(BLÁAAAA), felizmente há gente séria que avalia com justiça sua obra(blá). Tente estudar um pouco mais antes de sair falando besteira(bláaaaaa), qualquer um pode escrever do jeito que quer(blá$$$$$$$), difícil é ter conhecimento($$$$$$$$$) para sustentar sua linguagem e nisso G.R.(blá) não falta, portanto, é reconhecido(blá). Deixo uma citação do próprio Guimarães Rosa:



Eu tenho Grana prestigio fama e reconhecimento isso enquanto respiro, almejo a imortalidade, então invento uma nova linguágem e mantenho meu nome pelaeternidade..... Blá blá blá.....


Eduardo 10/01/2010minha estante
Infelizmente o amigo aí acim nunca deve ter prestado atenção a uma aula de literatura [2]

Ótima resenha. ;D



PS: que piá ridículo.


Guilherme 02/01/2012minha estante
Não precisa, não precisa de aulas para tanto. Basta ser um leitor.


Deividy 15/10/2014minha estante
tenho certeza que o comentário a cima foi uma denúncia ao sistema educacional brasileiro. que procura a ler livros só pra passar no vestibular.


Salomão N. 09/07/2017minha estante
Se o pessoal desiste da leitura do Guimarães Rosa, imagina se lerem algo mais "sofisticado" como William Faulkner(meu amor) e James Joyce.


Juraski 30/06/2018minha estante
Concordo com você. Acho que a forma como ele escreve é tão inteligente que alguns leitores não tem inteligência suficiente para captar a sutileza, tal qual alguns que aqui se manifestaram.


Luiz993 22/03/2019minha estante
Guimarães Rosa não é pra jacu!


Marcos.Azeredo 03/08/2021minha estante
Eu li dois livros deste autor e não gostei.


Bell_016 05/08/2021minha estante
gostar e não gostar é direito de todos, isso não é problema algum já q todos tem seus gostos pessoais. estou falando de críticas q o autor "erra" qdo escreve, é mta soberba


Marcos.Azeredo 12/10/2021minha estante
Li dois livros do Rosa e nao gostei.




Jorlaíne 26/02/2024

Semelhante a uma saga
A obra tem 9 contos que representam a vida do sertão de Minas Gerais.
Mistura o cotidiano do jagunço e do sertanejo com o fantástico e o lendário local.
Os costumes, as crenças, os comportamentos e os preconceitos estão presentes no falar e no agir de cada personagem.
A linguagem é o grande diferencial da obra. Não é fácil de entender se você não faz parte desse contexto.
Amei alguns contos como a volta do marido pródigo e duelo. E outros foram bem cansativos e difíceis pra mim.
Mas, no geral, estou bem feliz por começar a entender esse universo do autor.
A leitura de GR é um grande desafio!
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Diego 06/04/2022

Definitivamente, Guimarães Rosa é mestre!
Outro livro do autor que me agrada quase tanto quanto o anterior, Grande Sertão: Veredas.
Nove contos muito bons, que não fazem um conjunto uniforme, mas cada um tem o seu encanto.
Sugiro a leitura desta edição pulando inicialmente os dois textos introdutórios e indo direto ao primeiro conto, ?O burrinho pedrês?, para evitar os spoilers dados. Depois você volta e os lê.
Jamile.Almeida 06/04/2022minha estante
Grande Sertão precisa acontecer na minha vida! Ainda nao consegui! Mas vou!


Simone 07/04/2022minha estante
Sempre quis ler Guimarães Rosa




Vinicius 03/11/2023

Uma celebração da nossa cultura
Este foi meu primeiro contato com Guimarães Rosa e no início pensei em desistir. É um desafio por muitas razões, o texto é complexo em diferentes níveis, desde a escolha das palavras, que parecem ser pescadas com grande habilidade dentro do dicionário (infinito) que é a cabeça do autor, até a construção das frases com metáforas, prosas poéticas e onomatopeias.

Se não bastasse tudo isso, o autor ainda cria palavras e dá novo uso a outras. Sinceramente, no início parecia que se tratava de um dialeto com algumas (poucas) palavras em comum com o português. Mas não, era apenas a língua portuguesa na sua máxima expressão, parece que usada em toda sua potencialidade.

Em alguns momentos apenas li, em outros apenas ouvi o audiolivro, e depois fiz as duas coisas combinadas, as experiências foram bem diferentes em cada parte, parece que Guimarães Rosa cuidou de cada detalhe, da edificação das frases à sonoridade do texto.

Sempre me surpreendi com a capacidade da Clarice Lispector utilizar a linguagem, mas o Guimarães Rosa apelou de um jeito de quem não sabe brincar.

Chorei em alguns contos, nas cenas mais banais, porque na simplicidade dos gestos e atitudes havia uma grande descarga de serumanidade, de boniteza crua da alma, um contraste da espinheza do campo e da sublimessência do esperançar (agora eu quero inventar palavras também, me deixa... kkk)

Com um olhar atual da obra pode surgir algum desconforto em algumas passagens, com trechos que sugerem um racismo estrutural. Ainda que a crítica seja válida, assim como entender o contexto em que a obra foi feita, acho que o livro merece ser revisitado algumas vezes no futuro, para extrair todo seu sumo.
edu basílio 03/11/2023minha estante
li este livro aos 18 anos, para prestar um vestibular, e com essa idade eu apenas o achei chato e incompreensível. sabendo o que a obra de G.R. representa para a língua portuguesa, talvez eu releia em algum momento na maturidade :-)


Vinicius 04/11/2023minha estante
Quanta coisa a gente lê por obrigação sem ter a maturidade pra isso, né...
Difícil achar que alguém com 16/18 anos vá apreciar um livro assim... pode até criar o efeito contrário. É uma coisa que precisa ser repensada na nossa educação.
Mas reveja Guimarães Rosa sim, tenho certeza que vai gostar


Brenno 04/11/2023minha estante
Também tive a mesma experiência inicial do Eduardo. O primeiro conto, o do burrinho, salvo engano, foi uma tortura desbravar. Não tinha maturidade na época, mas felizmente anos depois dei nova chance ao Guimarães e que bom que o fiz. Um dos nossos maiores escritores com toda certeza!


Brenno 04/11/2023minha estante
Espero que você encare o Grande Sertões em breve, Vinicius


Vinicius 06/11/2023minha estante
Quero sim, Brenno... se bem que o melhor a gente deveria deixar pro final rsrs




Catharina 31/01/2014

Sagarana é composto por nove contos,a maioria narrado em terceira pessoa. É um livro que já mostra o regionalismo de Rosa, pois trata do sertão mineiro, o povo, a jagunçada,da religiosidade e o amor,que remete á cidade natal do autor, Cordisburgo, onde o autor sairá do regionalismo padrão da segunda geração modernista, para migrar á um regionalismo novo, com a fusão entre o neologismo e linguagem popular.

Neste livro, um conjunto de sagas - histórias épicas, folclóricas, de amor, mistério e aventura - universaliza o sertão, mistura o popular e o erudito, fecunda de vida o mundo primitivo e mágico dos Gerais.

Em tempo: SAGA quer dizer "canto heroico" e RANA vem da língua indígena e quer dizer "espécie de". Logo Sagarana significa "espécie de canto heroico".
Paty 11/04/2014minha estante
Boooommm D+ !!




Matheus 28/02/2013

Um Gênio chamado João Guimarães Rosa
Tomei a liberdade de começar esta resenha da mesma forma que comecei a de Primeiras Estórias afinal, o Gênio é o mesmo.

Muitos são da opinião que Machado de Assis é o deus da literatura portuguesa, ou até universal. Assim também eu achava; até ler Guimarães Rosa. Provavelmente, só não é unanime a opinião de lhe conceder o posto de primeiro lugar na literatura, porque poucos são os que leem seus livros. Paira um ar intimidador sobre as obras desse escritor e a maioria das pessoas não se sentem capazes de pega-las para ler. No entanto, nada justifica esse receio e a intimidação dos livros de Guimarães existe mais pela conversa fiada de professores de literatura do que por um estilo difícil de entender. De fato, logo na escola os professores falam que, de inicio, parece estar-se lendo em outra língua, e a quase totalidade dos alunos caem no equivoco de pressupor que essa outra língua e impossível.

Sim, com certeza Rosa não escreve na mesma língua que os outros escritores brasileiros. Estes usam a linguagem técnica, formal, pensada e repensada... enfim, linguagem de livro. Rosa não. A sua é a da fala, a da alma e por isso mesmo seria impossível que carregasse a incompreensibilidade que lhe é erroneamente atribuída . Consigo perfeitamente imaginar um noite de lua, onde em volta de uma fogueira, sertanejos contam causos na linguagem de Guimarães. O escritor dos sertões é o equivalente aos impressionistas na arte visual. Estes estudaram os efeitos óticos da luz e do olho humano de forma a que pintaram espelhos da natureza sem precedentes, como nem Da Vici ou Michelangelo jamais sonhavam em conseguir; Já Guimarães Rosa estudou a língua de todas as formas possíveis e imagináveis, e conseguiu dar uma vivacidade tão absoluta a suas estórias que nem mesmo Shakespeare conseguira.

O cenário de Rosa, assim como sues personagens, não conhecem limites entre o mundo real e o do romance. Parecem trasbordar do livro. O sertão descrito parece frequentemente muito mais real do que a sala ou quarto em que o leitor lê o livro, e parece termos convivido pessoalmente com as personagens criadas, mais até do que com nossos amigos e parentes mais íntimos. Em nenhum momento se duvida que a estória contada - e de fato, elas parecem mais contadas do que escritas - seja verídica. Esse é o Gênio maior e inigualável de Guimarães Rosa!

Contudo, me abstenho de tentar explicar suas obras, coisa essa que, a meu ver, seria um tento pecaminosa, independentemente do autor. Além do que, há inúmeros textos de especialistas que primam por isso, mesmo creio eu, sendo bastante reprováveis e duvidosos. Contento-me, pois, em convencer o maior número de pessoas possível a ler Guimarães Rosa!

Tendo exposto isso começo a falar de Sagarana. Foi um dos primeiros livros do autor. Contém nove novelas que se amalgamam surpreendentemente, apesar de nenhum vínculo claro entre elas. Separar a obras seria um pecado que vejo-me incapaz de evitar. Não tenho habilidade - nem entendo plenamente a obra - para esclarecer sua unidade. Fico assim com uma novela de cada vez. Talvez seja artificial, mas separar as coisas é o único caminho que encontro para louvá-las em cada detalhe.

1)
O burrinho pedrês

"As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão..."

É essa a poesia presente durante toda a narrativa. Esse parágrafo é sem duvida o meu exemplo preferido pre prosa poética. Leia-o atentando para as virgulas e descobrirá o ritmo e a melodia de um perfeito poema. Guimarães nos brinda com musica escrita, sem no entanto retirar a vivacidade característica de seu estilo, é a reaproximação - se não superação - de Shakespeare, Dante ou até mesmo Goethe. Mas, como se vê abaixo, não há nada de inatingível na linguagem de Rosa, muito pelo contrário, parecemos estar de fato ouvindo dois homens conversando, com direito a interrupções, distrações, digressões e comentários.

"- Foi nada. Conta a história, Raymundão.
- Pois então, quando fui espiar o que a minha cachorra Zeferina estava estranhando ...
- Oh gués! Isso é nome de cachorro?
- Foi por vingança que eu pus, quando minha mulher Zeferina me largou... Mas, a' pois, não imagina o que eu vi! Dei mesmo numa baixada de pasto, e afundei quase no meio das vacas. Já disse que estava lindeza de claridade de noite..."

Bem resumidamente, a estória trata de um grupo de sertanejos que tocam uma boiada para ser vendida. Durante a viagem, os boiadeiros conversam entre si, contando causos vividos por eles ou por outros. Dentro do enredo há vários desses causos contados em linguagem sertaneja tão perfeita que nos dá a impressão de estar andando a cavalo do lado desses personagens. (Quem tem sítio no interior, fica a dica de decorar alguns desses causos para contar mais tarde em volta de uma fogueira, em uma vendinha, ou para a família mesmo.) Na novela, também se desenvolvem amizades e conflitos entre os vaqueiros. Cria-se até a expectativa de que haverá entre eles um assassinato durante a viagem. Como em muitas outras, nesta novela o desfecho está de acordo com a habilidade de Rosa em criar expectativas que não se confirmam, e a acaba de maneira totalmente inesperada. A força do destino é impressionante no conto, que literalmente arrasta os personagens para um desfecho que lhes foge o controle, apesar de todas as tentativas de controlar o futuro.

A novela é uma fábula genialmente concebida, e portanto trás a sua cota de "moral", no entanto, não há nada de doutrinador na obra de Guimarães. Recheado de ditados popular, sabedoria inata, simbolismos que se desvendam a cada releitura e a magia do sertão, a novela torna-se altamente recomendável para servir de pórtico àqueles que iniciam a leitura de Guimarães Rosa. Começar por ele é um ótimo jeito de esquecer tudo o que já disseram sobre o estilo de Rosa ser quase inatingível!

2)
A volta do marido prodigo

"A menos "pensada" das novelas do "Sagarana" a única que foi pensada velozmente, na ponta do lápis. Também, quase não foi manipulada, em 1945."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Apesar do titulo bíblico, talvez esta seja a novela com menos misticismo. Exatamente como o autor comenta, ela é a mais fluida do livro, a mais rápida de ler. Não me demorarei com repetições que a resenha se alonga, apenas relembro que a vivacidade atua aqui também. Nesta novela, no entanto, o gênio soube agir mais em outra parte: a trama.

Já li compararem essa novela ao romance picaresco de Manuel Antônio de Almeida, Memória de um Sargento de Milícias. Comparação detestável essa que põe um gênio ao lado da obra superficial de um autor não menos fraco. O malandro de Almeida é um idiota, ao passo que o de Rosa é brilhante. A maioria dos pícaros brasileiros são apenas engraçadinhos; dificilmente despertam estima. Talvez só os de algumas canções de Chico Buarque fujam deste padrão. Mas Guimarães não é a maioria. Sua novela, A volta do marido prodigo, apresenta uma estória de malandro tão inteligente, que apesar dos atos condenáveis do personagem, somos forçados a acolhê-lo com apreço. A esperteza da mentiras de Lalino, o malandro da obra, é comparável as do personagem shakespeariano Iago, de Otelo.

"- Mulatinho levado! Entendo um assim, por ser divertido. E não é de adulador, mais sei que não é covarde. Agrada a gente, porque é alegre e quer ver todo-o-mundo alegre, perto de si. Isso, que remoça. Isso é reger o viver."

Lalino vai levando a vida sem hora marcada e acaba saindo da cidadezinha interiorana para conhecer a capital, deixa inclusive esposa para trás. Depois, saudoso volta, sem nada e a trama é justamente como ele fará para reconquistar o espaço na cidadezinha que perdeu durante a ida a capital. Ao longo da da novela vai nos divertido com planos para o futuro e anedotas que nunca somos capaz de saber se são verdade ou mentira, salvo quando o narrador mesmo explicita isso. Essa habilidade de mentir (ou dizer a verdade. não ha como saber) também torna-o capaz escapa de situações impossíveis com suas estórias. Muitas vezes é Lelino que nos narra o que está acontecendo, e por ser sempre suspeito de mentir, nunca sabemos que rumo tomará a o enredo. Efetivamente, nessa novela o gênio de Guimarães soube agir bem. Só que agora mais na criação do personagem e da trama.

3)
Sarapalha

"Desta, da história desta história, pouco me lembro. No livro, será ela, talvez, a de que menos gosto."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Está estória, de fato, não tem uma ação interessante. São dois primos, que pegos pela malária, conversam em uma varanda a respeito da vida e da morte. O que chama a atenção, no entanto é a dosagem de informação. Guimarães vai nos contanto de pouco em pouco de onde vieram e o que fizeram os personagens, de forma que a estória vai ficando assim bem interessante. Outro ponto de destaque é o cenário que parece ganhar vida, e denuncia a decadência do local da novela pela passagem da malária. O tom trágico dessa novela dá um forte contraste entre ela o A volta do marido prodigo, o que talvez nos dê algumas dicas sobre a unidade de Sagarana.

"Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um cassununga, brilhando em verde-azul. A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.
- Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p'r'a gente deitar no chão e se
acabar! ...
É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão."

A beleza está no cenário que se torna o mais ativo dos personagens da novela. Não só os homens parecem ter sofrido com a malária, também a terra se treme de doença. Essa poética toda que recheia Sarapalha.

4)
O duelo

"Aqui, tudo aconteceu ao contrário do que ficou dito para a anterior: a história foi meditada e "vivida", durante um mês, para ser escrita em uma semana, aproximadamente. Contudo, também quase não sofreu retoques em 1945"
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Talvez este seja o conto mais gostoso de ler. Aqui, novamente parecemos estar ouvindo a estória se contada e não escrita. Só que desta vez para um público mais erudito. A linguagem bem trabalhada, no entanto, não tira a vivacidade da novela. O tema tem caráter épico e ao mesmo tempo humorístico, há traição, perseguição, mortes... tudo contado de modo leve e engraçado.

"Viu-o à janela, dando as costas para a rua. Turíbio não era mau atirador: baleou o outro bem na nuca. E correu em casa, onde o cavalo o esperava na estaca, arreado, almoçado e descansadão."

Nessa novela, de novo a genialidade está na trama. Há uma série de eventos lineares que convergem inteligentemente para o fim penado de Guimarães, sem no entanto, termos a mínima ideia de como acabará a novela. Novamente se cria-se diversas expectativas de um fim que acabam por não se concretizar.

5)
Minha gente

"- Veja este que vai aqui à nossa frente: é um camarada analfabeto, mas, no seu campo e para o seu gasto, pensa esperto. Experimente-o."

Uma das minhas novelas preferidas. A identidade do narrador personagem é desconhecida, no entanto sou fortemente induzido a pensar que trata-se do próprio João Guimarães. Ficamos sabendo que ele é doutor apenas porque um companheiro assim o chama (e Guimarães Rosa foi médico). Também descobrimos que o "doutro" bastante entende de outros países ( e Guimarães foi diplomata). Não afirmo que essa estória aconteceu de fato com o autor. Mas tanto se aproxima o personagem do escritor e tão convincente e a narração que não duvido que Rosa tenha vivido intensamente, pelo menos em sua cabeça, esta estória.

Como mostra o trecho apresentado, a novela fala da sabedoria da gente típica do sertão mineiro. O narrador admira essa gente como verdadeiros filósofos e comenta: "Minha gente é boa" ou "Pororoca! Será que, ninguém aqui pensa como eu?! ...". Também estão apresentados os costumes locais: a ausência da lei institucional, a valorização da coragem e destreza, as fofocas, traições, intrigas e, o mais marcante, as características da mulher sertaneja.

"- Seu doutor, a gente não deve de ficar adiante de boi, nem atrás de burro, nem perto de mulher! Nunca que dá certo..."

De fato, a novela é romântica, conta as desilusões amorosas do narrador que tenta conquistar sua prima se êxito. Há uma dramatização bastante forte da situação, mas tudo a maneira de Rosa, que difere de qualquer estória romântica já escrita. Vale a pena ler só para conhecer essa nova abordagem do tema amor.

6)
São Marcos

"Demorada para escrever, pois exigia grandes esforços de memória, para a reconstituição de paisagens já muito afundadas. Foi a peça mais trabalhada do livro. "
Guimarães Rosa em carta a João Condé

A mais densa do livro, creio que a que eu menos goste. Há descrições de cenários riquíssimos mas chegam a ser cansativas e sufocantes. No mais, a novela é bem divertida porque fala da superstição do sertão. É contada à maneira dos causos, e como estes, tem o objetivo de impressionar o ouvinte ou leitor. Há contos de bruxaria, feitiços, reza brava e bruxos, o que torna tudo bem interessante.

7) Corpo Fechado

"Talvez seja a minha predileta. Manuel Fulô foi o personagem que mais conviveu
'Humanamente' comigo, e cheguei a desconfiar de que ele pudesse ter uma qualquer espécie de existência."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Talvez a estória mais viva do livro. Conta dos valentões do arraial, da lei do forte que impera por lá. Na prosa dos personagens, ficamos conhecendo a sucessão de valentões que mandaram no local e em meio a essas prosas, Manuel também conta como foi viver com ciganos e como os enganou. Tudo na novela é perfeito. Desde a trama e o suspense, passando pela linguagem até a caracterização dos personagens e descrição do cenário. É uma estória que se vive. Vibramos quando Manuel conta como enganou o cigano e damos rizada de seus comentário sobre casar. Depois de ler, me sinto amigo de Manuel do mesmo modo que tenho amizade com as pessoas com que efetivamente convivo.

"- É o jeito. Eu só queria treis coisas só: ter uma sela mexicana, p'ra arrear a Beija-Fulô ... E ser boticário ou
chefe de trem-de-ferro, fardado de boné! Mas isso mesmo é que ainda é mais impossível... A pois, estando vendo que não arranjo nem trem-de-ferro, nem farmácia, nem a sela, me caso... Me caso! seu doutor..."

Mas a estória começa efetivamente quando a atual valentão do arraial, Targino, avisa Manuel que gostou da sua esposa e ira ter com ela antes deles se casarem. Manuel fica então entre perder a honra e a vida. Como sempre, o final é surpreendente! Impossível não adorar essa novela!

8)
Conversa de Boi

"- O homem é um bicho esmochado, que não devia haver. Nem convém espiar muito para o homem. É o unico vulto que faz ficar zonzo, de se olhar muito. É comprido demais, para cima, e não cabe todo de uma vez, dentro dos olhos da gente."

Do livro, é a estória mais próxima de uma fábula. Um carro de bois levando um defunto vai pela estrada. Os bois conversam sobre a sabedoria enquanto no carro de boi, o menino-guia lamenta a morte de seu pai, que vai lá atrás em defunto. É a estória mais moralista de todas. Guimarães contrasteia o conhecimento intelectual com a sabedoria da experiência. Aqui também ocorrem causos entro de uma estória maior, só que desta vez contados pelos bois.

9)
A hora e vez de Augusto Matraga

"- Tem horas em que fico pensando que, ao menos por honrar o Quim, que morreu por minha causa, eu tinha ordem de fazer alguma vantagem... Mas eu tenho medo... Já sei aqui mesmo, no sozinho. Já fiz penitência estes anos todos, e não posso ter prejuízo deles! Se eu quisesse esperdiçar essa penitência feita, ficava sem uma coisa e sem outra... Sou um desgraçado, mãe Quitéria, mas o meu dia há-de chegar! ... A minha vez ... "

A chave de ouro do livro! A hora e vez de Augusto Matraga é a novela mais conhecida e apreciada de Sagarana. Ela combina todas as qualidades dos outros e nenhum defeito! Narrada em estilo épico, conta como Augusto perdeu tudo o que tinha e passa a viver como asceta, sempre tentado a buscar sua nova vida de valentão. Na sua epopeia ele encontra amigos que lhe acolhem, inimigos e um grupo de cangaceiros. A tensão e o desejo de saber o que vem em seguida é impressionante! Guimarães fecha o livro mostrando todo o poder de seu gênio! São por novelas como esta que eu fico aliviado por ter Guimarães Rosa representando nossa literatura brasileira, único, original, sem igual e só nosso. Por isso, em hipótese alguma, deixe que lhe passe a vida sem jamais ter lido pelo menos um conto desse grande autor, que isso é coisa que configura pecado grande.
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Paloma 29/08/2023

Sobre a experiência de leitura
O tema da narrativa na vida sertaneja, a predominante (e exagerada) descrição do ambiente, dos animais...descrições apesar de belas e poéticas, acabaram sendo um tanto cansativas quando em demasia, o que acabava me deixando meio perdida na leitura, diminuindo meu interesse em seguir lendo.

Por isso procurei dedicar um momento específico pra leitura deste livro, momento em que eu estivesse disposta a lê-lo, para aceita-lo melhor, pelo que ele tinha a entregar e não me fazer desgostar tanto da experiência de leitura. Escolha que deu muito certo, pois cheguei a me interessar e até me divertir em alguns momentos da leitura, mas estes alguns momentos não conseguiram tornar a experiência muito boa como um todo.

Sinto que foi interessante para conhecer a escrita do autor, mas acredito que o tema do conteúdo me distanciou da possibilidade de gostar mais da leitura.
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Gabriel Oliveira 26/01/2022

Monumental
Sem sombra de dúvida: Sagarana é o melhor livro de contos que eu já li na minha vida.

Confesso abestalhado que de início eu não gostei muito. "O burrinho pedrês", conto que abre o livro, é sim uma obra prima; mas é uma obra complexa e truncada, embora traga um trecho que é talvez uma das mais ousadas invenções poéticas de toda a literatura brasileira:

"(...) As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão..."

O livro é cheio de trechos assim, que misturam e embaçam a fronteira da prosa-poesia. Talvez a invenção poética seja um dos maiores méritos do escritor, que junta também homem e natureza numa coisa só. O sertão aqui é mágico, pintado em trechos cantados, ao estilo cordel ou canção medieval. Fauna e flora abundam nas letras do cordisburguense. Você provavelmente vai sair da leitura querendo conhecer mais sobre plantas e passarinhos.

Já que o livro abre com um conto difícil, qual seria uma ordem de leitura que ajudasse nessa questão? Pessoalmente, não tenho a resposta certa. O que eu diria é que "Duelo", "A volta do marido pródigo" e "Minha gente" são ótimas pedidas para começar a engatar a leitura caso o primeiro conto trave as engrenagens.

E o que dizer do "grand finale" encabeçado por "A hora e vez de Augusto Matraga"? Um conto extraordinário, que transborda humanidade. Terrível e lindo, encantador e assustador. Assim é a vida, contraditória e esquisita: derrama-se sangue para obter a paz, e tudo termina em desgraça. Somente leiam.
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Thamara 25/01/2021

Gênio
Guimarães Rosa foi um gênio da literatura brasileira, com esse modelo de escrita único e incrívelmente realista.
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caio.lobo. 23/01/2021

Livro que trouxe a vontade dum querer-viver-na-roça
Pensei que não iria gostar no início, mas tudo o que precisei foi de algumas páginas de imersão nessa escrita tão original de Guimarães Rosa. Tem muito de regionalismo, mas há criação de palavras ao estilo alemão, onde a aglomeração de vocábulos dá origem à novos termos, mas no caso de Guimarães Rosa cada termo da palavra longa e separada por travessões (às vezes dava a impressão que eu lia uma tradução de Hegel).
Exemplos na obra: cadeira-de-lona, Todo-Fim-É-Bom, o-que-gosta-de-pastar-à-beira-da-cerca-do-pasto-das-vacas, mal-e-mal, tem-farinha-aí, esse-um, Nomopadrofilhospritossantamêin.

Há também muitas palavras do regionalismo mineiro, algumas antigas por sinal. Exemplos: marruá, cocão, puã, barbicacho, cafua, picumã, cabiúna de queimada, mangolô.

Os contos são todos retratados na roça, interiorzão de Minas, quase na selva mesmo, mas os problemas da condição humana são sempre os mesmos que os da cidade: doença, morte, sofrimento, amor, honra e vingança. Com a roupagem semi-selvagem a condição miserável humana se torna colorida em Sagarana. Há uma gama enorme de personagens, como caboclos, pretos, doutos, religiosos, feiticeiros, bandidos, jumento, bois, etc; há referências escondidas ao budismo, Platão, teatro francês, lógica, Monteiro Lobato. Há também muito da tradição do homem do interior, como cantigas, contos de terror, folclore, feitiços, reza braba. É uma obra que realmente adentra na cultura erudita através da simplicidade do roceiro, com uma complexidade-escrita que mistura campo e linguística, resultado de um autor que veio da roça e ao mesmo tempo falou várias línguas, desde alemão até sânscrito e japonês.

Os contos que mais gostei foram duelo, pelas estratégias e honra; São Marcos, pela macumbaria e densas matas; Conversa de Bois, pela inteligência aristotélica de um boi que erra por excesso de racionalismo e falta de pragmatismo e a transcendência do ser numa união de mentes.

Agora penso, numa linguagem tão complexa com criação de palavras e outras específicas do meio rural, como seria traduzir essa obra em outra língua?
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Gabriela Pacheco 22/09/2020

Muitos sem sentido
O único que gosto mesmo é A Hora e a vez de Augusto Matraga, por mim teria lido só ele.
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Guilherme.Oliveira 19/04/2023

Livro ótimo!

Guimarães Rosa é um ponto fora da curva.
O regionalismo dele é uma coisa ímpar, que ele faz com primazia. Personagens tão humanos tratados nessa obra...

Não é uma literatura simples, é uma obra de arte.
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Ca Melo 02/08/2020

12 livros nacionais para 2020: Leitura de Julho
Eu nunca tive contato aprofundado da obra de Guimarães Rosa, nem durante o ensino médio e durante a faculdade o curso de Literatura Brasileira teve foco em outros autores do período modernista, li alguns poucos contos do autor. Apesar disso, Guimarães Rosa é um dos grandes nomes da nossa literatura, sendo suas obras frequentemente como leitura obrigatória dos maiores vestibulares do Brasil: Fuvest e Unicamp.

Dizer que eu tinha receio de ler Guimarães Rosa é pouco, muito se fala do estilo do autor marcado pelo regionalismo de cidades específicas do estado de Minas Gerais. Além disso, há também todo um preconceito sobre os livros clássicos, como se eles não fossem de fácil compreensão. Posso dizer por mim mesma estudando literatura, especificamente muito do cânone brasileiro e mundial, só me permitir ler determinados clássicos agora. Isso significa após ter me formado.

Não quero dizer que só entenderá Sagarana é quem tenha cursado Letras, mas é uma leitura que exige paciência do leitor para que ele possa apreender bem as narrativas. Nada que uma pesquisa na internet com análise da obra ajude também nessa missão, principalmente se for de cursinhos pré-vestibular. Eu tive dificuldade de me envolver no livro no começo, e não sei exatamente se era porque eu não estava “no clima” ou se de fato estava tentando me adaptar ao estilo do autor. Entretanto, a partir do segundo conto eu fui gostando mais da história e me passei a aproveitar a leitura, tentando entender os termos pelo contexto, para não deixar a leitura travada.

A estrutura da obra em contos/novelas (tem uma discussão por conta da dimensão dos textos reunidos) ajuda o leitor que está iniciando sua leitura em Guimarães Rosa, isto porque cada conto traz uma história diferente. Mas a obra no geral tem como pano de fundo a vida interiorana nas cidades de Minas Gerais, pautadas normalmente na vida de “vaqueiros”, por isso é recorrente o tema de viagens de um ponto a outro durante as narrativas,fé e religião, assim como os motivos de desavenças: triângulos amorosos e adultérios.

A narrativa é predominante na 3ª pessoa, com uma narrador observando e contanto ao leitor os acontecimentos, estes focados majoritariamente nos homens. Estes são também representados como proprietários de terras, gado, mulheres e empregados (descritos em sua maioria sem nomes, mas apenas como a mulher preta, o homem preto/mulato), muitos destes homens são vistos como figuras de poder em suas comunidades, mesmo cometendo erros como o abandono da mulher e família.

Meu conto favorito foi Sarapalha, que trata sobre uma epidemia de malária e a relação de dois primos no fim de seus dias por conta da doença. Além do contexto sócio-histórico gostei da narrativa por trazer algumas reviravoltas, elementos que eu particularmente adoro encontrar no gênero conto. Também destaco o tão conhecido A hora e vez de Augusto Matraga, que para mim reflete sobre a luta entre natureza e regeneração do homem.

Quero conhecer outros títulos do autor, para assim conseguir tomar coragem para ler seu livro de maior destaque Grande sertão: veredas. Mas posso dizer que a experiência de ler Sagarana foi muito importante, principalmente por valorizar a literatura nacional, a nossa produção literária.

site: https://abookaholicgirl.wordpress.com/2020/08/02/resenha-sagarana-de-joao-guimaraes-rosa/
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