Marjory.Vargas 06/03/2024Normalmente escolho trechos dos livros que trazem um momento de reflexão ou que impacte, mas para esse livro escolhi esse trecho - que não deixa de ser impactante - pois retrata bem o que éa obra: uma grande fofoca sobre a vida do Seu Camilo.
Sim, conhecemos Camilo quando está já com seus setenta anos, sendo que o mesmo mora numa pensão decrépita em Porto Alegre. Acompanhamos desde a infância de Camilo, no casarão da Independência (bairro nobre aqui de POA) até descobrirmos como ele foi parar numa pequena pensão de classe média.
O livro vai muito além de contar a derrocada falência dos grandes estancieiros gaúchos do século passado. Os dilemas da vida, os erros e acertos, os arrependimentos, os amores, as perdas, as traições... Camilo Mortágua repassa sua vida em três noites em pleno auge do golpe militar de 1964.
Com certeza está é, para mim, uma das grandes obras da literatura brasileira (e gaúcha), e que merecia mais destaque. Guimarães tem uma escrita singular, poética e realista ao mesmo tempo.
Apesar de ser um calhamaço, a leitura flui naturalmente, e, quando percebemos, já estamos ao fim. Que é trágico, mas já anunciado desde o começo: mesmo tendo uma condição econômica privilegiada, a vida de Camilo é permeada de fatalidades, seja no âmbito pessoal, familiar ou econômico.
PS: grande parte do livro se passa justamente no bairro em que moro, então era engraçado quando o autor descrevia Seu Camilo passeando pela Avenida Azenha - que fica a uma quadra da minha casa - ou pela Marcilio Dias - quase esquina de onde trabalho ? O Cine Castello, onde Camilo rememora sua vida ao invés de assistir Cleópatra, também existiu, mas pelo que pesquisei foi demolido no final da década de 1980. Só não descobri se o put&iro da Cabo Rocha era fictício ou não ??