Marco Antonio da Silva Filho 21/01/2024
Filosofia da mente
O livro vem mostrar como a Filosofia ainda tem muito a contribuir na discussão sobre as novas tecnologias, especialmente no que diz respeito a inteligência artificial e o estreitamento da relação entre o ser humano e as máquinas. Há uma contextualização histórico-filosófica da filosofia da mente e desenvolvimento dos computadores e da inteligência artificial, passando por Descartes, Heidegger, Alan Turing, John Searle...
O livro também nos leva a pensar sobre cenários possíveis, imaginados pelos transumanistas, entusiastas pela união do ser humano com a tecnologia, e os mais pessimistas como Heidegger, que vê o desenvolvimento da inteligência artificial como a perda do sentido do ser humano. O experimento mental do Quarto Chinês de Searle é bem discutido também: argumentos a favor e objeções em diversos sentidos.
O autor nos deixa com mais problemas a pensar do que soluções, o que faz sentido, porque muito do que se fala no livro é de coisas que ainda não se concretizaram, mas que não são impossíveis. Por que pensar sobre essas questões, então? Por muito tempo temos simplesmente aceitado os rumos do desenvolvimento tecnológico, mas seria importante pensar por antecipação e tentar, de alguma forma, influenciar esse desenvolvimento. O crescimento da tecnologia não se limita a si mesmo, mas nos apresenta novos problemas éticos que estão diretamente ligados ao futuro da humanidade, daí tal importância de pensar bem sobre ele.
Ao final do livro, podemos ter a sensação descrita pelo autor no início: a de alguém que navegou pelos oceanos em busca de tesouros, mas que voltou ao ponto de origem com as mãos vazias. Entretanto, aquele ponto de origem não parece ser mais igual. Não contemplamos mais a origem da mesma maneira. Ainda que o livro não traga soluções para todos os problemas éticos apresentados pela tecnologia, lança luz sobre eles e nos permite entendê-los melhor e refletirmos sobre eles.
Confesso que, se por um lado foi muito interessante ver a contribuição da filosofia da mente, por outro lado, como estudioso da filosofia da religião, senti falta da menção da possível influência da religião sobre as questões éticas e talvez possíveis soluções para elas.