Ivna 21/05/2017Fui levada pela curiosidade a ler “Os que bebem como cães” do escritor piauiense Assis Brasil. Nem de longe imaginei algo tão denso, mesmo que o título já sugerisse algo assim.
A história discorre entre capítulos cíclicos, A cela, O pátio, O grito, A cela, O pátio...nesse contexto, um indivíduo com as mãos algemadas nas costas, jogado numa cela, sem higiene básica e apenas sorvendo um tipo de líquido insípido pra se manter vivo. Ele não tem memória, e nós não sabemos o porquê. O que sabemos é que a cada página cresce a agonia daquele que não sabe nem seu próprio nome, querendo apegar-se ao menor resquício de lembrança da sua vida. Mas como lembrar de uma vida se ali esqueceram-se até que são humanos?
O pátio permite que ele perceba que existem outros iguais a ele. Eles se veem mas não podem se falar. Por isso O grito é tão importante. O grito é o nome de Deus, a primeira lembrança. O grito tbm é o nome da mãe, uma vaga lembrança. Mas acima de tudo, O Grito é resistência. No entanto, essa resistência se perde abafada violentamente por mordaças.
No pátio só permitem que façam a higiene pessoal, e nada mais. Sem gritos, sem levantar os olhos, sem resistir.
Mas afinal, quem são seus carrascos?
Vou deixar o mesmo suspense a que o autor me flagelou. Mas garanto, a descoberta é surpreendente.