Fernanda @condutaliteraria 09/06/2016Resenha - Talvez Nunca Mais Um País"Uma vida de teorias. A humanidade já passou do prazo de validade. Verdade absoluta, e não teoria"
Logo quando terminei as Primeiras Impressões (aqui) de "Talvez Nunca Mais Um País", não vi a hora de dar continuidade na leitura.
O livro é um romance distópico, muito diferente! Sim, podem acreditar, eu classificaria como inusitado, original e poético.
Um Rio de Janeiro devastado pela tragédia. Uma doença avassaladora, Hoosbardo, que mata rapidamente ou, aos poucos, deixa a pessoa deformada. Nada mais é como conhecíamos, um planeta em meio a uma catástrofe.
"Ninguém queria olhar-se no espelho e ver um monstro disforme consumido por chagas após anos tratando do corpo e da saúde exterior. Em uma sociedade apegada à beleza corporal, o mal de Hoosbardo foi mais do que uma doença."
Somente alguns poucos são imunes, e, devido a isso, passam a ser doadores. Nosso protagonista, Miguel, é um doador.
Conhecemos Miguel, seus amigos e seus amores, e, através de seus pensamentos e devaneios, alternando momento presente e passado, Flavio nos coloca na mente do personagem: é como se fosse uma conversa. Ficamos totalmente entregues aos acontecimentos.
Os capítulos são curtos e com alguns trechos que não seguem uma ordem. São passagens do seu passado entre acontecimentos do seu presente. No começo fiquei um pouco confusa, mas não atrapalhou a leitura, pelo contrário, aguçou mais ainda minha curiosidade.
O que achei legal e uma boa sacada do autor é que ele retrata a vida dos sobreviventes, a vida que segue no caos. Em um mundo tão devastado, onde não haveria mais esperanças, dá para sonhar? Fazer projetos futuros? Dá para apostar no amor e na amizade?
"Se consegues pisar em terra firme no fundo do poço, comemore, porque o fundo do poço poderia ser de areia movediça - mais uma das minhas teorias."
Em uma narrativa totalmente original e única, o autor conseguiu me conquistar com seu estilo.
A leitura flui de forma leve e é para ser degustada. A capa faz jus a história. As folhas são amareladas e a fonte em tamanho confortável para uma boa leitura. A diagramação está perfeita e não encontrei erros. Excelente trabalho da editora!
"Talvez ainda viva décadas doando, desacordado, mantido por máquinas sem inteligência controladas por homens ainda menos inteligentes."
Eu adorei a história e o final me surpreendeu bastante. Fiquei com gosto de quero mais!
Enfim, se você está à procura de uma leitura diferente, um estilo poético, doido e único, eis o livro! Recomendo!
"Os sonhos não envelhecem... são substituídos por novos."