Paulo Silas 14/05/2021Em "Revival", Stephen King explora o universo das curas milagrosas, das celebridades religiosas showmen, do fanatismo e do mistério do além vida, tudo a partir de um enredo ao seu estilo que questiona os limites entre crendices e o conhecimento fundamentado - sem deixar de lado, é claro, o terror característico que acaba se fazendo também presente na história. Abordando o oculto não revelado - inexplorado, desconhecido e escondido -, o romance é mais uma das ótimas histórias de King que supera o êxito de uma boa trama por conta de seus elementos de terror, mesmo porque em menor parte em "Revival", indo além do encantamento causado por esse aspecto característico das obras do autor.
O livro conta a história de Jamie, narrada por ele mesmo, em toda a sua vida. O ponto fulcral que estabelece o norte a partir do qual os relatos biográficos do personagem constituem relevância para aparecer na história é o reverendo Jacobs. Quando criança, Jamie conhece o novo reverendo que assume a pequena igreja da comunidade em que vive, surgindo ali uma significativa ligação que perdurará por toda a vida. Jacobs é fascinado pela eletricidade, repercutindo esse seu gosto até mesmo nos seus sermões na igreja com exemplos e maquinários construídos para atrair a atenção dos jovens. Durante os anos em que o reverendo congrega no local, chega a curar o irmão de Jamie que havia perdido a fala. Milagre ou resultado de uma técnica científico-oculta a partir da eletricidade? A aposta de Jacobs é na segunda opção, passado a abraçar com ênfase essa causa que lhe fascina após perder tragicamente a esposa e o filho. Mesmo sendo afastado da igreja e, consequentemente, da vida de Jamie, a figura do reverendo Jacobs causa um grande impacto na vida do protagonista, o qual repercutirá ao longo de toda a sua vida com os tantos encontros e desencontros que ocorrerão - esses responsáveis pelo fio da história no romance.
"Revival" adota o estilo escrito de registro biográfico do personagem protagonista. É o Jamie já numa idade bastante adulta, quase na velhice, relatando aquilo que lembra de suas vivências que sofreram repercussões significativas por conta de seu contato do Jacobs (e o processo de escrita o auxilia nesse empreitada de lembrar eventos do passado). A escrita é fiel ao estilo do autor, explorando detalhes tantos dos personagens principais e secundários (e até os de pouca importância para a trama) e com o ambiente da fantasia estando presente. O terror é guardado para o final, pois por mais a história aborde a questão do oculto e seus mistérios, não há nenhum elemento desse âmbito presente ao logo das primeiras trezentas páginas do livro. É mais um dos livros de King que podem ser classificados como ótimos, pois não decepciona, cativando desde os leitores de primeira viagem até os mais fiéis ao autor.