O Burrico Lúcio

O Burrico Lúcio Léo Vaz



Resenhas - O Burrico Lúcio


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Maciel 14/01/2023

Quando comecei a ler pra valer tinha treze anos mais ou menos e foi nessa idade que achei entre os livros do meu pai, um que chamava ?O Burrico Lúcio?.
Li as aventuras do tal burrico, baseada na história atribuída a Luciano de Samósata, Lúcio ou O Asno. Gostei demais do livro, era engraçado, leve e inteligente e só muito tempo depois soube que o volume em questão não era o único do jornalista Léo Vaz, que durante muitos anos trabalhou em O Estado de São Paulo. O autor publicara quatro livros que eu logo comprei por menos de R$ 50,00 reais.
Pesquisei a vida do grande Léo, que foi um dos responsáveis por minha paixão pela literatura, e descobri que seu livro mais famoso, não foi ?O Burrico Lúcio?, mas sim ?O professor Jeremias?, cuja última edição, a que eu adquiri, e que chegou pelos correios com a lentidão de uma tropa de jabotis aleijados, na verdade uma coedição da editora Bom Texto e da Fundação Casa de Rui Barbosa, era de 2001.
Dos quatro livros que me chegaram era o único cujo papel ainda era branco e como já conhecia o burrico, li o professor e não me arrependo.
O professor Jeremias, que foi lançado em 1920, é um livro que, como se dizia na época, se lê quase que com uma sentada só.
Trata-se da autobiografia de um professor, que na época em que escreveu o livro, com a intenção de instruir o filho distante, vivia numa pacata cidade do interior de São Paulo.
E como foi a vida do professor?
Uma vida nada aventurosa, porém Léo Vaz faz de cada pequena vitória e pequeno dissabor do mestre, uma maneira de rir do homem e da humanidade, mas não o riso grande, e sim o riso pequeno, não tanto da ironia quanto do ?tomar ciência do próprio ridículo?, do ridículo da condição humana.
E como o homem é o mesmo. É a mesma piada de sempre, as piadas do livro não envelheceram.
E o livro envelheceu pouco, apesar do vocabulário incomum para os dias de hoje. Porém os deliciosos arcaísmos utilizados pelo autor? isto para o leitor hodierno - são empregados em frases tão bem construídas que mesmo para quem nunca tenha lido tal ou qual palavra fica fácil inferir o significado.
É um livro agradável de ler, embora Léo Vaz tenha criado uma das personagens mais impertinentes da literatura brasileira, D. Antoninha, mulher do professor, de quem ele preferiu ver-se longe.
O final é amargo, mas é como um fecho de ouro para o livro, que é o que um amigo meu chama de ?Clássico de segunda estante? ou de segunda prateleira ou clássico esquecido.
Não sei se considero ?O professor Jeremias?, um clássico, mas sem dúvida que o tal romance, apesar do grande sucesso de crítica e público de quando foi lançado, carecia de sorte melhor e aí vai um elogio a Fundação Casa de Rui Barbosa, pois em edições ou coedições desenvolvidas por essa instituição pude conhecer três livros muito bons e bastante esquecidos: A família Agulha, de Luís Guimarães Júnior; Marajó, de Dalcídio Jurandir e este O Professor Jeremias.
Porém, cabe uma ressalva, embora a crítica da época tenha festejado Léo Vaz como o novo Machado de Assis, ele não foi e não quis ser Machado de Assis, apesar de sua prosa lembrar algo das feitiçarias do Bruxo do Cosme Velho. Em alguns trechos do livro lembrei muito do conto ?A teoria do medalhão?, mas, de qualquer modo, a influência do Bruxo sobre Léo Vaz é dessas que fazem bem, que são evidentes, mas que não incomodam, alegram. Assim como a que Roberto de Mello e Souza recebeu de Guimarães Rosa.
Por fim, como gostei muito desse O professor Jeremias e também da obra-prima de Ciro dos Anjos - que também sofreu os eflúvios do rei de Matacavalos - , ?O Amanuense Belmiro?, penso em escrever ?O Tabelião Pacheco?, gostaram do título?
Tudo bem, não precisam externar toda opinião, pois a sinceridade é muitas vezes mãe da falta de educação.
Mas, voltando ao Léo, nada mau para um caipira.
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