Babi159 20/11/2020
Algumas anotações sobre esta verdadeira ode ao macho da espécie promovida por duas conservadoras estadunidenses
Logo nas primeiras citações, podemos perceber que a obra não só pretende mostrar o outro lado do feminismo, mas sim esculhambar todo o movimento social e as mulheres que fazem parte dele.
Não estou aqui tentando defender o feminismo, pois creio que qualquer mulher que tenha feito parte dele sabe o quão problemático o movimento é. bell hooks (o nome da autora é escrito em minúscula mesmo, por opção dela) elenca algumas questões pelas quais o feminismo, ao contrário do machismo, não alcança todas as mulheres (e homens) em suas obras que, de certo ponto, dialogam com algumas posições das autoras de “O Outro Lado do Feminismo”. O elitismo é a questão que mais chamou a minha atenção tanto na obra da hooks quanto dessas autoras do livro em questão.
Não gosto de generalizar, mas o feminismo que convivi e conheço é elitista. No Brasil, o discurso feminista vaga pelas universidades federais e discursos de celebridades esquerdistas abonadas, passando longe das mulheres “comuns”, desprezando qualquer um que pense diferente. Logo, concordo com as autoras no que tange o desprezo feminista às mulheres e aos homens que optaram por levar uma vida desprovida de “igualdade” e “liberdade” na visão feminista.
No entanto, negar completamente que as mulheres são oprimidas na sociedade por seu gênero é um absurdo de marca maior. Não fazia ideia do mar de rosas que estava vivendo inconscientemente. Após tão proveitosa leitura, defendo a plenos pulmões que TODOS os homens da face da Terra devem ser beatificados... Quanto sofrimento o feminismo está causando a eles, não? Não sei vocês, mas eu estou perplexa. A violência contra a mulher deve ser alguma espécie de delírio coletivo...
Ironias à parte, eu gostei muito de como as autoras abordaram “os três princípios dominantes” do movimento feminista. A forma fundamentada com que as autoras discorrem sobre o princípio 3, a respeito das diferenças inatas entre homens e mulheres, ganha destaque aqui.
Também gostei da forma como as autoras abordam a banalização que o sexo ganhou com o passar dos anos entre as mulheres, ainda que seja algo óbvio. Qualquer pessoa que acompanhe minimamente qualquer produto oriundo da mídia de massa reconhece que, por exemplo, as mulheres de séries, películas, novelas e afins costumam ter relações sexuais com qualquer homem, mulher ou ser animado (ou inanimado) que cruze seu caminho. E pobre de quem acha esse comportamento asqueroso anormal... Sem sombra de dúvidas, o feminismo é responsável por esse show de horrores disfarçado de revolução sexual feminina. E como pode ser doloroso às mulheres o comportamento promíscuo. Ainda que as autoras erroneamente naturalizem a promiscuidade sexual masculina, creio que elas foram empáticas ao abordar esse tema no capítulo 3 do livro. Não vou dar spoilers, mas vocês, mulheres, vão compreender o que quero dizer.
Logicamente eu compreendo que o livro tem como tema o feminismo e as mulheres afetadas pelo movimento social, mas as autoras adoram canonizar os homens em sua obra... Os homens são promíscuos? É uma característica inata a eles. Os homens traem as esposas? Certamente é culpa da mulher - elas fazem uma análise totalmente anti-cristã a respeito da separação da Sandra Bullock, inclusive -, principalmente se ela for uma feminista... Céus... Outra coisa que me incomodou na leitura é que as autoras defendem veementemente que TODAS as mulheres do mundo querem casar com um homem provedor, ter filhos e viver como dona de casa. Se elas não desejarem isso... Bem, é claramente culpa do feminismo. Não vou nem escrever mais nada, apenas pedir que reflitam sobre isso!
Outra coisa que achei inconcebível é o fato de as autoras apontarem que as mulheres devem passar o resto da vida sendo sustentadas pelo marido. Ok, queridas. Mulheres solteiras desprovidas de uma figura masculina provedora devem morrer de fome, então? Eu não posso trabalhar para pagar minhas contas? Minha alimentação? E o meu creme Nívea? É isso? Sei que as autoras partem de outro contexto, mas aqui no Brasil, a menos que você seja uma Marcela Temer, dificilmente vai conseguir viver sem trabalhar mesmo casada. E que mulher consegue viver bem dependendo inteiramente de outra pessoa para sobreviver? Sei que temos diversos exemplos, mas eu jamais conseguiria viver assim.
Não pretendo me estender mais, mas devo destacar também que o texto está muito mal editado, parecendo ter sido “regurgitado” ao leitor. No mais, recomendo a leitura essencialmente a nível de entretenimento. Eu ri litros em vários momentos lendo as defesas exaltadas das autoras aos homens. É hilário. Segundo essas duas mulheres, TODOS os homens já concebidos são verdadeiros príncipes indefectíveis que desejam casar e ter filhos acima de tudo. Novamente não comentarei nada. Apenas reflitam sobre o que acabei de escrever.
Tenho certeza que existem muitos livros que abordam o tema feminismo melhor que este livro. Eu espero conhecê-los/lê-los o mais breve possível.