Karol 28/09/2011
OMG, mais uma Walsh!!!
Marian Keyes é, sem dúvida, a autora mais engraçada da atualidade. Está pau-a-pau com Meg Cabot mas, como a Meg escreve, no geral, para adolescentes, suas piadas não tem o duplo sentido malicioso que as da Marian tem. Uma pena. Mas o humor das duas é genial.
Pra quem não sabe, a Marian Keyes é dependente química. Ela passou anos lutando contra o alcoolismo e, apenas quando conseguiu largar de vez a birita-nossa-de-cada-dia, começou a escrever de verdade. Logo, esse livro, Férias!, é consideravelmente autobiográfico.
A irmã Walsh da vez, Rachel (irmã da Claire, de Melancia), é viciada em cocaína, álcool e valium, dentre outros, e sua vida sofre uma reviravolta quando ela toma uma overdose e acaba no hospital. Nessas ela perde o namorado, o emprego, a auto-estima, a melhor amiga e várias outras coisas, todas de uma tacada só. Seus pais a mandam, então, para o Claustro, uma clínica de reabilitação na Irlanda, sua terra natal, onde, acredita-se, vários famosos vão passar um tempo com direito a regalias dignas de spa e por esse motivo, e apenas por esse, Rachel aceita se internar na clínica.
No Claustro Rachel segue o típico caminho de protagonista de comédia-romantica. Entra se achando, cai na real, conhece um cara, descobre seu eu-interior, etc, etc, etc. Só lendo pra saber como termina - óbvio.
O mais legal dessa nova - não tão nova assim - história de Marian Keyes é a maneira como o livro sai da comédia para a tragédia em poucas páginas. E como o livro é escrito em 1ª pessoa, o leitor mais envolvido sente tudo o que a protagonista está sentindo. E sente vergolha alheia também. Sério. Se você achou a Claire lesada e ficou com vergonha por ela, pode se preparar pra MORRER de vergonha com a Rachel. Ela tem um bem menos noção que a irmã, é simplesmente inacreditável. E tem também um senso de autodestruição que eu nunca vi em nenhum outro personagem que ja li. E o pior é que ela nem tem noção disso.
Assim como em Melancia, em Férias! a história tem um jeitinho de auto-ajuda escondido nas entrelinhas. Pra quem lê Marian Keyes direto é fácil acostumar, mas quem ainda não leu deve estranhar a característica. Todos os livros dela são assim e, como eu ja disse em Melancia, não acho isso muito ruim. Não é nada mal que a leitura-nossa-de-cada-dia venha com um toquezinho de "AA" ou "NA" ou "Vigilantes do Peso" de vez em quando. É quase subliminar e mantém a cabeça longe de besteiras. Sério. Ninguém que leia as coisas que Rachel faz em Férias! vai querer se submeter aos efeitos da cocaína. A não ser que não tenha o mínimo de amor próprio - as situações são tão cômicas que chegam a ser trágicas. É a típica loser, sem tirar nem por.
Para terminar, fica uma crítica básica à tradução do livro. Concordo que, sendo um livro para adultos, Férias! tenha uma tradução mais madura, com palavras mais complexas mas, putz! "Depreender"?! Quem usa isso?! Que diabos que dizer isso?! Se nem a minha bisavó fala assim por que a Rachel, com 27 anos e drogada, falaria? Fora outras expressões "do arco da velha" - pra ficar no nível da tradução - que ninguém mais usa. MESMO. O mínimo que um bom tradutor deve fazer é traduzir o livro na linguagem do público que vai lê-lo e não colocar dinossauros linguísticos lá no meio, afinal, é um livro para passar o tempo e não um livro didático de português.
;-)